sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

UM PEDAÇO DE ARCO – ÍRIS COM ASAS


Na esburacada rodovia que rasga o lombo das dunas móveis no município de Aquiraz, neste iniciante período invernoso, voejam borboletas se esgueirando por entre os arrogantes e potentes veículos automotores. Elas representam um singelo pedaço de arco-íris com diáfanas asas ou como quer Clarice Lispector (1920- 1977):  “ a borboleta é uma pétala que voa “ ou uma vida efêmera que passa por aqui cumprindo um destino de voar, acasalar e sugar o néctar das flores.

“ Passa uma borboleta por diante de mim /e pela primeira vez no Universo eu reparo/que as borboletas não têm cor nem movimento/assim como as flores não têm perfume nem cor/a cor é que tem cor nas asas da borboleta/no movimento da borboleta o movimento é que se move/o perfume é que tem perfume no perfume da flor/a borboleta é apenas borboleta/e a flor é apenas flor “

Poema “ Passa uma Borboleta por Diante de Mim “ de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), em “ O Guardador de Rebanhos “.

Celso Pedro Luft (Dicionário de Literatura Portuguesa e Brasileira), Editora Globo, 1967 assim descreve os heterônimos principais do bardo português Fernando Pessoa:

“ Alberto Caeiro é naturalista, instintivo, animal humano, poeta da natureza, das coisas reais, que são o que são e como são. Nega toda transcendência e metafísica... O tom frio, seco desses poemas dados à teoria e a considerações abstratas, compensa - se com uma encantadora naturalidade, fluência e súbitos relâmpagos de densa poesia concreta (desencaixotar as minhas emoções verdadeiras – o sol ainda não mostrou a cabeça/ por cima do muro do horizonte – sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito/e lá fora um grande silêncio como um deus que dorme) “

“ Ricardo Reis é pagão, epicurista e estoico, latinista e helenista... Esmerado na linguagem, elabora a sintaxe, é conciso, elíptico, e usa um vocabulário levemente alatinado ... Filia- se a Caeiro no amor à natureza, à vida rústica e simples “
 “Álvaro de Campos é outro discípulo de Alberto Caeiro. Menos intelectual, porém, e menos primitivo, rústico, é o cantor da urbe, da civilização moderna, o civilizado, engenheiro .
 Emotivo até à histeria, canta as sensações cotidianas, a exaltação e também o tédio do homem moderno “.






Nenhum comentário:

Postar um comentário