domingo, 8 de outubro de 2017

SÍNDROME DE DIÓGENES / NOÉ




O mundo assiste ao envelhecimento da população por conta da redução da taxa de natalidade e pelo incremento da longevidade, resultantes dos progressos da medicina moderna. A velhice, condição multidimensional varia de pessoa a pessoa, de acordo com condições socioeconômicas, estilos de vida e presença de morbidades crônicas, tais como, diabetes, obesidade, hipertensão arterial e câncer.

O acúmulo compulsivo de objetos, muitos deles sem qualquer utilidade, denomina-se Síndrome de Diógenes (objetos), ou Síndrome de Noé (animais), nos casos da criação anárquica de animais, evidenciando desleixo e sinais de maus-tratos dos mesmos. Tais alterações psicológicas mostram semelhança com aquelas observadas nos Transtornos Obsessivo- Compulsivos (TOC) ou Transtornos da Acumulação Compulsiva (TAC).

A Síndrome de Diógenes caracteriza-se pela incapacidade do indivíduo para realizar cuidados básicos de higiene pessoal; pela acumulação de objetos velhos sem qualquer função; pelo isolamento social, evidenciando atitudes hostis e total indiferença com o mundo em seu entorno. Para tal, exige-se um diagnóstico diferencial com possíveis quadros de demência, psicose, depressão ou esquizofrenia.

Esta síndrome foi inicialmente descrita em 1966 por Mcmillan e Shaw, como Síndrome de Esqualidez Senil, e, posteriormente, nomeada como Síndrome de Diógenes, em 1975, por Clark e colaboradores.

Isto tudo nos remete à Grécia Antiga, a um movimento – Cinismo - fundado pelo filósofo Antístenes (444 - 365 a. C), nascido em Atenas e discípulo de Sócrates, que procurava imitá-lo de forma exagerada através do culto da pobreza, o desprezo pelos prazeres terrenos, pelas honrarias e pelas riquezas. Pregava-se, então, o regresso à vida solitária e selvagem: nada de civilização, nada de sociedade, nada de pátria. Refutava toda vida refinada. Por essa época surgiu um discípulo de Antístenes, que em pouco tempo tornou-se o nome mais ilustre deste movimento: Diógenes de Sinope (413 – 323 a. C) que resolveu viver à maneira de um cão – Kyon -, daí o termo “ cínico”.

Outros defendem que a palavra cínicos – kynikos- deriva de Kynosarges – cão ágil -, um ginásio dedicado a Hércules e frequentado por Antístenes. O certo é que “ os cínicos” viviam à maneira de cães soltos perambulando pelas ruas e indiferentes às normas sociais estabelecidas. Diógenes vivia num tonel desprovido de outros bens e com uma lâmpada acesa, de dia, “ procurava por um homem”. Era um viver seguindo a natureza, livre de regras, bastando-se -a si- mesmo e não necessitando de nada.

Acredita-se que cerca de 4% da população mundial possa apresentar este transtorno de acumulação compulsiva de objetos descartáveis e uma vigorosa incapacidade de desfazer-se dos mesmos, tornando o ambiente em que vivem, perigosos e insalubres. Deste modo, a Síndrome de Diógenes/ Noé, apresenta-se como um complexo problema geriátrico que demanda decisões clínicas, sociais e éticas, visando minimizar seus danos à saúde desses sofridos indivíduos.



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