sábado, 22 de outubro de 2016

PIXINGUINHA E ROSAS MUSICAIS


Alfredo da Rocha Vianna Filho (1897-1973) ou Pixinguinha , nasceu no dia 23 de abril de 1897 no subúrbio da Piedade no estado do Rio de Janeiro. Foi um compositor, arranjador, flautista, saxofonista e maestro. Seu pai, Alfredo da Rocha Viana era funcionário dos correios e flautista.

Desde cedo, sua avó, de origem africana, o chamava de “ Pizindim” que significava “ menino bom “ . Por ter contraído varíola, doença conhecida popularmente por bexiga, alguns lhe apelidaram de “ Bexiguinha “ . Dai foi um pulo para chegar ao neologismo Pixinguinha.
Pixinguinha e seus 13 irmãos desde cedo viveram rodeados de músicos e chorões. Aos 9 anos de idade Pixinguinha tocava cavaquinho acompanhando seu pai em festinhas pelo bairro no Catumbi . 

Teve o garoto uma breve passagem no Liceu de Santa Teresa e no colégio do Mosteiro de São Bento. Em 1911 tendo contato formal com professores de flauta  surgiu uma composição sua chamada Lata de Leite. No ano seguinte fez sua estreia  como músico profissional no La Concha , uma casa de chope na Lapa , onde tomou lições da mais legítima boemia . Em 1917, contando com 20 anos de idade Pixinguinha lança, inicialmente  sem letra a música Carinhoso que duas décadas depois receberia uns mimosos versos de um bamba , João de Barro ou Braguinha ( 1907 -2006 ) :

“ Meu coração , não sei por que / bate feliz quando te vê / e os meus olhos ficam sorrindo/ e pelas ruas vão te seguindo /mas mesmo assim /foges de mim/ah se tu soubesses como sou tão carinhoso/e o muito, muito que te quero /e como é sincero o meu amor /eu sei que tu não fugirias mais de mim/vem, vem ,vem/vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus/vem matar essa paixão que me devora o coração /e só assim então serei feliz/bem feliz !”

 Em 1919 estreia com uma orquestra ( Oito Batutas ) formada por Donga ( violão ), China ( vocal , violão e piano) ,Nelson Alves ( cavaquinho ), Luís de Oliveira( bandola e reco-reco ), Raul Palmieri ( violão ) , Jacó Palmieri (pandeiro ) , José Alves (bandolim e ganzá ) e Pixinguinha (flauta) . Na década de 30,Pixinguinha foi contratado como arranjador pela gravadora RCA Vitor e tempos depois foi substituído pelo , também genial maestro Radamés Gnattali ( 1906 – 1988) .
Em 1928 surge a música Lamentos que em 1962 recebeu versos do poetinha Vinicius de Moraes ( 1913- 1980 ):

“ Morena ,tem pena /mas ouve o meu lamento/ tento em vão te esquecer /mas , ai ,o meu tormento é tanto/ que eu vivo em prantos, sou tão infeliz /não há coisa mais triste meu benzinho /que esse chorinho que eu te fiz/sozinho, morena /você não tem mais pena/ai, meu bem, fiquei tão só/tem dó ,tem dó de mim/porque eu estou triste assim por amor de você /não há coisa mais linda neste mundo /que o meu carinho por você/morena , tem pena /mas ouve o meu lamento /tento em vão te esquecer/mas, ai, o meu tormento é tanto/que eu vivo em prantos, sou tão infeliz/não há coisa mais triste meu benzinho/ que esse chorinho que eu te fiz /sozinho , morena/você não tem mais pena/ai, meu bem, fiquei tão só/tem  dó, tem dó de mim/porque eu estou triste assim de amor por você /não há coisa mais linda neste mundo / que o meu carinho por você “
Em 1933, diplomou-se em teoria musical no Instituto Nacional de Música.
Na década de 40 Pixinguinha  passou a integrar o regional de Benedito Lacerda (1903 – 1958 ) onde executava solos com o saxofone tenor. Por essa época a produção musical de Pixinguinha foi extensa e nos anos 50 e 60 os prêmios começaram a surgir confirmando  sua genialidade patente .
Orlando Silva ( 1915 – 1978 ), o Cantor das Multidões deu vida eterna a composição “ Rosa “ de Pixinguinha e Otávio de Souza :

“ Tu és divina e graciosa /estátua majestosa do amor /por Deus esculturada /e formada com ardor /da alma da mais linda flor / de mais ativo olor/que na vida é preferida pelo beija- flor/ se Deus me fora tão clemente/ aqui nesse ambiente de luz/ formada numa tela deslumbrante e bela / o teu coração junto ao meu lanceado/pregado e crucificado sobre a rósea cruz/ do arfante peito teu/tu és a forma ideal/estátua magistral , oh, alma perenal/ do meu primeiro amor , sublime amor/tu és de Deus a soberana flor/ tu és de Deus a criação / que em todo coração sepultas o amor/ o riso , a fé, a dor/ em sândalos olentes cheios de sabor/em vozes tão dolentes como um sonho em flor/és láctea estrela /és mãe da realeza/ és tudo enfim que tem de belo/em todo resplendor da santa natureza/perdão se ouso confessar-te / eu hei de sempre amar-te/oh flor , meu peito não resiste/ oh meu Deus , o quanto é triste / a incerteza de um amor / que mais me faz penar em esperar/ em conduzir –te um dia / ao pé do altar/jurar , aos pés do onipotente/ em preces comoventes de dor/ e receber a unção da tua gratidão / depois de remir meus desejos/ em nuvens de beijos/ hei de envolver –te até meu padecer / de todo fenecer “

Em 1972 Pixinguinha fica viúvo e no ano seguinte, em 17 de fevereiro de 1973 vitimado por um infarto do miocárdio falece na Igreja Nossa Senhora da Paz, durante uma cerimônia de um batizado.
 Em 1974, a Escola de Samba Portela desfila com o enredo “ O mundo melhor de Pixinguinha “ de autoria de Jair Amorim (1915–1993) e Evaldo Gouveia (1928) :

“ Lá vem Portela /com Pixinguinha em seu altar/e o altar da escola é samba/que a gente faz/e na rua vem cantar/Portela , seu carinhoso tema é oração/pra falar quem ficou com devoção/em nosso coração/Pizindim, Pizindim, Pizindim /era assim que a vovó Pixinguinha chamava /menino bom  em sua língua natal / menino bom que se tornou imortal / a roseira dá rosa em botão / Pixinguinha dá rosa canção /e a canção bonita é como a flor/que tem perfume e cor/ e ele que era um poema de ternura e paz /fez um buquê que não se esquece mais /de rosas musicais “


Nenhum comentário:

Postar um comentário