quinta-feira, 21 de abril de 2016

DUMONT – O PAI DA AVIAÇÃO

O bicho – homem sempre sonhou com a conquista dos céus. O filho de Dédalo, Ícaro, fugira do labirinto de Creta portando duas asas presas ao corpo por cera e encontraria a morte nas profundezas do mar por erro de cálculo. A história está pejada de exemplos de mártires e heróis sonhadores com um mundo alado. Santos Dumont daria ao Brasil as maiores glórias como um gigante - mesmo com estatura de 1,60 metros e peso de 50 quilos-  no campo da navegação aérea, na ligação dos continentes pelos ares e no progresso da humanidade como um todo.
Alberto Santos Dumont (1837 – 1932), cientista, inventor e aeronauta brasileiro, nasceu no dia 20 de julho de 1837 em Palmira, no estado de Minas Gerais. Seus pais foram Henrique Dumont (engenheiro empreiteiro de construção de estrada de ferro) e Francisca Santos Dumont.
Alberto passa a infância desbravando o mundo das máquinas numa grande fazenda de café de propriedade paterna, incluindo a direção de uma locomotiva “ Baldwin “ que rasgava os cafezais daquelas plagas.  Em seguida matriculou-se no colégio “ Culto à Ciência “ localizado em Campinas no interior do estado de São Paulo e, posteriormente, terminou seus estudos básicos no estado do Rio de Janeiro. Henrique Dumont, após sério acidente equestre em sua fazenda, buscou ajuda médica na Europa, mais exatamente em Paris. Era tudo que o jovem Alberto queria: materializar seu sonho adquirido nas leituras de Júlio Verne, a conquista dos céus. Um novo e variegado mundo descortinava- se à sua frente: Luz elétrica, automóvel e telefone. Aquele franzino jovem introspectivo e tímido nunca frequentou um banco de universidade, embora, através de professores particulares tenha desenvolvido aprofundados estudos de física, química, engenharia mecânica e elétrica. Num pequeno laboratório, Alberto partiu para a experiência com um balão sem motor e apenas impulsionado pelo vento. Seguiu-se a elaboração de um novo artefato motorizado. Deste modo, o “ petit Santos“ abocanhou um prêmio de 100 mil francos, oferecido pelo milionário Deutsh de la Meurth , por conta de um exitoso voo em tono da Torre Eifel . Seguiram- se novos protótipos e muitos insucessos com acidentes pondo em risco a vida do piloto e de terceiros. Santos Dumont virou atração em Paris nos primeiros anos do século XX. Em 04 de janeiro de 1910, Santos Dumont sofreu um grave acidente com o Demoiselle, seu avião particular. O desencadear da Primeira Guerra Mundial abalou de vez a frágil saúde de Santos Dumont que não concebia o uso militar da aviação. Numa viagem ao Brasil em 1928, o grande inventor brasileiro a bordo de um navio, seria saudado em sua chegada ao Rio de Janeiro por doze ocupantes ilustres de um hidroavião que, explodiu, à sua frente, levando todos para o fundo do mar. Mais um baque para a sensível alma de Dumont.  No dia 23 de julho de 1932 em pleno curso da Revolução Constitucionalista, em São Paulo, partia  Alberto Santos Dumont para sua última viagem , agora em segurança nas asas de anjos para usufruir de um novo mundo num eterno “ céu de brigadeiro “ .
Para amenizar um pouco o ar pesado, segue uma crônica do grande escritor, advogado e jornalista José Cândido de Carvalho (1914 - 1989): “ Vai, Arubinha, que o céu não tem caroço“ :
“ E entusiasmado com o foguetão que jogou um punhado de gente na Lua, o vereador Arubinha Pinto, de São José do Pontal, trepado numa cadeira, fez comício na porta do Cine imperial. Quanto mais falava, mais subia nos móveis e utensílios. Da cadeira a aba da janela e da aba da janela as partes mais altas do Cine Imperial. De repente estava na cumeeira, agarrado na vara do para – raio. E era rente do céu, estrelado de entusiasmo, que Arubinha expedia seu discurso para o povo amontoado na Praça do Piolho. O ferreiro Lalau Paranhos, que muito gostava de Arubinha , aconselhou com voz de martelo na bigorna :
- Desce, compadre! Tu não é bem-te-vi, tu nem aeroplano é. Cuidado com tua chiada dos peitos. Olha o vento encanado, compadre Arubinha !
Nas alturas, sacudindo a vara do para – raio, Arubinha soltava patriotismo pelas tarraxas em defesa de Santos Dumont. Assim:
- Uma banana das graúdas para quem apregoar que o Dr. Santos Dumont não inventou a avionagem . Foi ele e mais ninguém! Rebento o focinho do primeiro que garantir que não foi. Viva o Dr. Santos Dumont! Se não fosse sua inventoria bem que esses gringos nunca que botavam o pé na Lua. Nunca!
Foi nessa hora que um gaiato da Praça do Piolho mandou para o para – raio um pedido:
- Isso mesmo, Arubinha ! mostra para a estrangeirada que a povoação de São José do Pontal não perde para outra terra alguma . Voa de aeroplano, Arubinha . Solta fumaça pela cauda, faz barulhinho de maxambomba, mete os peitos e ganha altura que a gente garante tua viúva com uma pensão do governo. Vai, Arubinha . Os Santos  Apóstolos já estão na boca de espera. Vai que o céu não tem caroço!
Entusiasmado, Arubinha abriu os braços, saltou e morreu. Como um ovo esparramado na Praça do Piolho.

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