domingo, 23 de agosto de 2015

PINDORAMA   ,  UM TREM DESGOVERNADO

Imaginem uma locomotiva descendo uma íngreme ladeira , cercada de penhascos . O prenúncio claro da iminência de um grave desastre  : eis Pindorama , sem tirar , nem por . Isso mesmo ,  aquele  eterno torrão que tem um grande futuro no seu passado .
Vive –se em Pindorama uma enorme crise econômica , energética , institucional e , a pior de todas , a crise ética . A problemática vem deteriorando há séculos e falta – nos  a difícil  “ solucionática “ do impagável  goleador “ Dario Maravilha “ .
Quantas saudades  , numa ocasião dessas ,do herético imprudente , o senador Roberto Campos , nosso “ Bob Fields “  . Com seu humor ferino , o nobre intelectual de Cuiabá dizia que Pindorama “ não perdeu nenhuma oportunidade de perder oportunidades  e se chafurdar num nacionalismo primitivo , num protecionismo absurdo e num romantismo tecnológico infértil “ .
Nos dias atuais com a Câmara Federal de Pindorama sob incomoda suspeita de irregularidades , perigando cair nas mãos do “ baixo clero “ e o Senado Federal , sob a indicação superior , apoiando – se em três sinistras figuras , todas oriundas dos grotões da pátria , onde mourejam “ coronéis e doutores de trabuco “ , travestidos de salvadores da pátria . Agora vai ! . Ave Maria ! .
Cabe aos três nobres parlamentares a cruel decisão de  passarem para a História como “ Os três mosqueteiros ( Athos , Porthos e Aramis ) de Alexandre Dumas ou , caso contrário , se apequenarem  nas tristes figuras dos “ Irmãos Metralhas , juntos com a Vovó Metralha “ de Walt Disney .
Que Deus tenha piedade de nós ,  pobres trabalhadores  filhos de Pindorama ! .
“ E o diabo , levando –o a um alto monte / mostrou – lhe num momento de tempo / todos os reinos do mundo / e disse –lhe o diabo / - dar –te –ei todo este poder e a sua glória / porque a mim me foi entregue / e dou –o a quem quero / portanto se tu me adorares , tudo será teu / e Jesus , respondendo , disse – lhe / - vai –te , Satanás ; porque está escrito : /adorarás o Senhor teu Deus / e só a Ele servirás ( Lucas, cap. IV ,vs.5-8 ) /era ele que erguia casas/ onde antes só havia chão /como um pássaro sem asas/ ele subia com as casas / que lhe brotavam da mão /mas tudo desconhecia / de sua grande missão / não sabia , por exemplo/que a casa de um homem é um templo/um templo sem religião/ como tampouco sabia/ que a casa que ele fazia /sendo a sua liberdade / era a sua escravidão / de fato como podia um operário em construção / por que um tijolo / valia mais que um pão / tijolos ele empilhava / com pá , cimento e esquadria / quanto ao pão , ele comia / mas fosse comer tijolo ! /  e assim o operário ia / com suor e com cimento / erguendo uma casa aqui / adiante um apartamento / além uma igreja , à frente / um quartel e uma prisão : / prisão de que sofreria não fosse , eventualmente / um operário em construção / mas ele desconhecia este fato extraordinário : / que o operário faz a coisa e a coisa faz o operário / de forma que , certo dia /à mesa , ao cortar o pão /o operário foi tomado / de uma súbita emoção / ao constatar assombrado / que tudo naquela mesa :/ garrafa , prato , facão / era ele quem os fazia / ele um humilde operário / um operário em construção / olhou em torno : gamela , banco , enxerga , caldeirão /vidro , parede , janela /casa , cidade , nação ! / tudo, tudo que existia /era ele quem o fazia / ele um humilde operário / um operário que sabia exercer a profissão / ah!  homens de pensamento / não sabereis nunca o quanto / aquele humilde operário /soube naquele momento ! / naquela casa vazia / que ele mesmo levantara /um mundo novo nascia / de que sequer suspeitava /  o operário emocionado / olhou sua própria mão/ sua rude mão de operário / de operário em construção /e olhando bem para ela / teve um segundo a impressão /de que não havia no mundo / coisa que fosse mais bela /foi dentro da compreensão / desse instante solitário / que , tal sua construção / cresceu também o operário / cresceu em alto e profundo / em largo e no coração / e como tudo que cresce , ele não cresceu em vão /pois além do que sabia / - exercer a profissão- / o operário adquiriu uma nova dimensão : / a dimensão da poesia / e um fato novo se viu / que a todos admirava / o que o operário dizia / outro operário escutava / e foi assim que o operário / do edifício em construção /que sempre dizia sim / começou a dizer não /e aprendeu a notar coisas a que não dava atenção / notou que sua marmita era o prato do patrão / que sua cerveja preta era o uísque do patrão / que seu macacão de zuarte era o terno do patrão / que o casebre onde morava era a mansão do patrão /que seus dois pés andarilhos eram as rodas do patrão / que a dureza de seu dia era a noite do patrão/ que a sua imensa fadiga era amiga do patrão / e o operário disse : não / e o operário fez – se forte na sua resolução “ ......  .
E assim segue este longo poema de Vinicius de Moraes , até o epílogo com o operário sendo tentado pelas artimanhas do patrão . Continuou firme o nobre trabalhador , outrora operário em construção e , agora um operário construído ! . Aguentem firmes  , pois , trabalhadores de   Pindorama ! .

Nenhum comentário:

Postar um comentário