sábado, 3 de outubro de 2020

 As Riquezas Usurpadas do Brasil

"Às nove horas da noite/eu senti que tinha sede/tomei um pouquinho d'água/depois me deitei na rede/comecei a me embalar/dando com pé na parede/devido àquele balanço/o sono conciliei/um sono reparador/no qual, até sonhei /umas coisas esquisitas/que ainda não decifrei/sonhei que via um mata/e nela um vergel em flores/enfeitando àquele bosque/num tom de todas as cores/ em cima um sol causticante/com raios abrasadores!/vi sair daquele bosque/a figura de um cristão/um velhinho já corcundo/arrimado num bastão/calçando umas alpercatas/como gente do sertão/ele, muito delicado/me fez uma saudação/com palavras tão bonitas/que encheram meu coração/de alegria , por sentir/nele tanta educação/saudei ao velho dizendo:/tens uma linguagem nobre/de uma ciência elevada/que o Céu desta terra cobre.../e ele fez um ar tão triste/e disse:- Sou muito pobre/de fato , pelo seu traje/tinha sinal de pobreza/a roupa muito surrada/aumentava -lhe a tristeza/mas ele sorriu dizendo:/Já tive muita riqueza !/porém muito dos meus filhos/usaram de falsidade/fizeram com os meus vizinhos /mil transações de amizade/levando tudo que eu tinha/pra gastar com vaidade/venderam muita platina/pedras preciosas e ouro/chumbo, ferro, manganês/desfalcado o meu tesouro/e Inda dizem: - Que importa/ que o papai acabe em choro?/mas ainda tenho moeda/ de alto quilate e coroa/isto é: água perene/ que nos meus terrenos "agôa"/o meu lugar é sadio/e a terra é muito boa !/eu perguntei: - quem és tu?/tão bondoso , tão gentil/ que dizes ainda ter/sobre a Terra encantos mil ?/ele riu baixinho e disse:/- meu filho , eu sou o Brasil..."

Aderaldo Ferreira de Araújo (1878 - 1967 ) , mais conhecido como Cego Aderaldo, nasceu na cidade de Crato , no interior do Ceará. Aos 18 anos de idade perde a visão mas aguça os sentidos para as coisas da vida. Após sonhar em verso , ganhou uma viola e depois uma rabeca. Ganhou o mundo num mar de poesia. Cego Aderaldo nunca se casou e criou 24 meninos.

Hoje , começou no sofrido Ceará a nova temporada de caça com vistas às próximas eleições. Sorridentes e afáveis candidatos , prometendo mundos e fundos , fazem o medonho sacrifício de engolir sarapatel , manga e outras guloseimas nas famosas feiras livres para agradar a galera. A "sacola " pode estar vazia em ideias, mas o papo é aliciante e envolvente.
Temas indigestos como afastamento social , desmatamento , queimadas e desemprego serão jogados debaixo do tapete.
Os famigerados "santinhos" enviados aos eleitores devem excluir foice , martelo , estrela vermelha , e se possível, siglas manjadas de partidos em franca decadência .
Em resumo , tudo vale , e do pescoço pra baixo é canela ! . O que se busca NÃO é uma cadeira parlamentar , mas um trono de ouro puro !

A imagem pode conter: 1 pessoa, óculos de sol

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