terça-feira, 23 de junho de 2020

O Amigo da Onça
Péricles de Andrade Maranhão (1924 - 1961 ) , nasceu no dia 14 de agosto de 1924 , na cidade de Recife, em Pernambuco. Desde cedo , estudante do Colégio Marista , o petiz vivia metido com pincéis, tintas e desenhos.
Certa feita , com 16 anos de idade, Péricles, procurou o Jornal " Diário de Pernambuco" , carregando debaixo do braço uma farta amostra de desenhos bem elaborados. O jornalista que o recebeu , Aníbal Fernandes , após breve análise dos trabalhos , de pronto o encaminhou para o diretor da Revista " O Cruzeiro " , Leão Gondim de Oliveira , no Rio de Janeiro. Contratado como contínuo, logo se viu cercado com monstros sagrados da imprensa nacional , como Millôr Fernandes, David Nasser e Assis Chateaubriand , dentre outros.
No ambiente da Revista " O Cruzeiro " foi gestado o personagem " O Amigo da Onça " , baseado em " El enemigo del Hombre " pertencente a uma revista argentina . Saiu pronto um tipo traiçoeiro, amigo falso , irônico e dissimulado , vestido num impecável Summer - Jacquet branco, sempre criando situações embaraçosas. Virando em pouco tempo , uma das principais atrações do importante semanário , durante cerca de 18 anos.
A fama subiu à cabeça daquele jovem pernambucano que passou a frequentar o mundo boêmio carioca , donde colhia um farto material para suas histórias com malandros , garçons e mulheres da noite.
Péricles era contudo, um tipo introvertido , solitário, depressivo, que buscou amparo na bebida alcoólica, resultando em sérios prejuízos à sua vida familiar e profissional.
Casou - se com Angélica Maranhão que lhe deu um filho , posteriormente tornado um neurologista de renome.
No dia 31 de dezembro de 1961 , Péricles de Andrade Maranhão terminou seu périplo terreal , deixando três mensagens : uma para sua mãe, outra " A quem interessar possa" :
" São precisamente 14h30m do dia 31 de dezembro de 1961. Estou completamente sóbrio e não desejo culpar ninguém pelo meu gesto. Apenas , estou me sentindo profundamente só. Os amigos, se assim posso chamá - los, estão em suas casas, junto a suas famílias, o que não acontece comigo, pois a única família que possuo - minha querida mãe e irmã- está em Recife. Aqui , no Rio , não possuo um único parente, a não ser meu filho que se encontra com a mãe, pois sou desquitado e a mesma falou - me que iria passar o Ano - Novo com a família dela, em Recife, pois são também pernambucanos.
Conclusão: sou profundamente sentimental e nunca passei essa época sem uma palavra de carinho. Apenas a solidão me levou a este ato extremo. Talvez assim as coisas melhorem para todos "
Um terceiro aviso escrito num papel de embrulho , lacônico , dizia :
" Cuidado . Não risque fósforos. É gás ".
Ligou o gás do forno , para desligar o fio da vida , antes fechando todas as janelas e portas do apartamento .
Partiu , aos 37 anos , vestido de terno branco , gravata e sapatos preto, em busca da paz numa outra dimensão.
A missa de sétimo dia foi oficiada pelo cearense Dom Hélder Câmara.

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