sábado, 22 de setembro de 2018

O Apanhador de Desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios. 
Não gosto das palavras
Fatigadas de informar.
Dou mais respeito
Às que vivem de barriga no chão
Tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
E aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
Das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim este atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
Eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Poema da autoria de Manoel de Barros ( 1916 - 2014 ).

"A felicidade se faz, não se encontra. Brota do interior , não vem de fora ".
"Feliz aquele que , tranquilo entre a multidão, margeia o rio protegido pelo vento agradável e , temeroso de confiar seu barquinho ao Oceano, navega a remo perto da terra".

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