domingo, 23 de abril de 2017

ECO E NARCISO EM PINDORAMA



Nestes dias turbulentos que não acabam nunca, em Pindorama, a mídia, cruamente, mostrou a foto de um político preso, por provável crime de corrupção, onde se vislumbra, deprimente, um pobre homem com o olhar baço, perdido, triste caçando o chão, com os cabelos tintos de neve, bastante envelhecido para sua idade. 

“ O homem não deve poder ver a sua própria cara. Isto é o que há de mais terrível. A natureza deu-lhe o dom de não a poder ver, assim como de não fitar os seus próprios olhos. Só na água dos rios e dos lagos ele podia fitar seu rosto. E a postura, mesmo, que tinha de tomar, era simbólica. 
Tinha de se curvar, de se baixar para cometer a ignomínia de se ver. O criador do espelho envenenou a alma humana “. 

(Fernando Pessoa, Livro do Desassossego)

A Mitologia Grega desenha as figuras de Eco e de Narciso:
Eco era uma bela virgem que vivia nas margens do rio Cefiso, filha do Ar e da Terra. Foi educada pelas ninfas nas artes do canto e da flauta. Amiga da solidão, fugia da companhia dos deuses e dos homens e se negava a toda proposição de amor. Um dia o deus Pã, por não poder curtir o amor de Eco, promoveu seu esquartejamento brutal. A partir de então, os restos da jovem sem residência fixa, apenas podia “repetir os últimos sons da voz que ouvia“

Narciso era um jovem de extrema beleza, filho do rio Cefiso e da ninfa Liriope nascido em Thepsis de Beocia. Certa feita, Eco em companhia das ninfas das águas viu Narciso e ficou perdida de amor pelo jovem. Ele rejeitou toda aproximação com a virgem Eco que, com pesar, recolheu- se às profundidades das grutas e das cavernas, onde ainda responde a todos que a chamam.
Narciso um dia viu sua fantástica imagem refletida nas águas límpidas de uma fonte. Extasiado, se inclinou docemente, introduzindo os braços para colher tão bela criatura. Nada conseguiu, a não ser um pouco de água a lhe escorrer pelas mãos nuas. 

Repetiu o ritual, dia após dia, definhando até morrer. Enfim, transformou-se numa flor de nome Narciso.
Queira Zeus que na penitenciária onde o “pobre” político de Pindorama passa uma temporada sob os auspícios do governo, não seja permitido o uso de espelhos.
 Caso contrário, o choque pode ser fatal, mostrando uma figura opaca, bem diferente daquele alegre e jovial homem público, de guardanapo na cabeça, na presença do deus Baco, num país do Velho Mundo.



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