Breves Pensares
A vida é curta e aborrecida ; passa - se toda ela a desejar . Espera - se do futuro o repouso e a alegria , quando o futuro é já aquela idade em que nossos melhores bens , a saúde e a juventude , já desapareceram . O futuro chega e ainda o desejamos ; chegamos onde queríamos, quando a febre nos acomete e nos extingue ; se tivéssemos sarado , seria somente para continuar a desejar por mais tempo ainda .
Se a vida é miserável, é penoso suportá - la; se é feliz , é horrível perdê - la . Os dois sentimentos se equivalem . Nada existe que os homens gostem mais de conservar e tanto desperdicem como sua própria vida . Receamos a velhice porque não temos a certeza de chegar a ela . Temos esperança de envelhecer , mas receamos a velhice : ou seja , amamos a vida e fugimos da morte .
Para o homem , só há três acontecimentos : nascer , viver e morrer . Não se lembra do nascer , sofre para morrer e esquece de viver . Às crianças tudo parece grande , as cortes, os jardins , os edifícios, os móveis, os homens, os animais ; aos homens as coisas do mundo parecem também assim e atrevo - me a dizer , pela mesma razão, porque eles são pequenos. Há uma espécie de vergonha em ser feliz diante de certas misérias. A maioria dos homens emprega a melhor parte de sua vida para tornar a outra miserável .
Vemos homens que o vento da sorte impele primeiro a plenas velas ; num momento perdem de vista a terra e ganham o amplo mar ; tudo lhe sorri, tudo é sucesso; ação, obras , tudo é cumulado de elogios e recompensas ; só aparecem para serem abraçados e felicitados . Mas há um rochedo imóvel próximo da praia; as ondas quebram contra ele ; o poder, as riquezas, a violência, a bajulação, a autoridade, os favores , todos os ventos não o abalam : é o público, contra quem eles , ao bater , naufragam. Aqueles que empregam mal seu tempo são os primeiros a se quexar de sua brevidade ; como o consomem em vestir - se , em comer , dormir , em discursos tolos , em resolver o que devem fazer e muitas vezes em não fazer nada ; falta - lhes para seus negócios e suas diversões. Àqueles, pelo contrário, que empregam bem seu tempo , ainda lhe sobram mais tempo . Não há caminho demasiado longo para quem anda lentamente e sem se apressar; não há vantagens inatingíveis para quem resolve obtê - las .
Reflexões de filósofo moralista francês Jean de La Bruyère (1643 - 1696) .
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