O Luar do Oceano no Porto das Dunas

" No mar calmo, de uns tons indefinidos

Onde nada termina ou se inicia ,

Passeio o olhar em todos os sentidos :

Noite não é nem também é dia .

Nem uma onda a borbulhar d 'espumas,

Nem uma estrela do céu acaro:

Nada morre ou desponta em meio das brumas :

O espaço não é negro nem é claro .

Albatrozes de gritos escarninhos ,

Gaivotas irrequietas, num momento,

Tudo fugiu dos pélagos marinhos

Cheios de um mórbido aborrecimento .

Rumor algum percorre o tombadilho,

O bojo , a se mover pausadamente ,

Apenas mostra à flor d'água seu brilho

Os seus flancos de cobre reluzente.

Homens do quarto , ao longe da amurada ,

Fitam, sem cor , a vastidão do mar

De sonolentas vagas onduladas ,

Brandamente a descer e se elevar.

Mas , para Leste aleinitente chama,

Como uma cinza a polcilhar o espaço,

Em trêmulas palhetas se derrama

Da vaga fimbria do horizonte baço.

Boia , treme , desdobra- se, goteja ,

Por toda a parte fulgindo à toa,

Turbilhões, desmaia , lacrimeja

Como lusente a diáfana garoa .

Áureo disco se mostra , cresce , cresce...

Palpita o mar voluptuosamente ...

E do céu cor de pérola aparece

A branca lua a deslizar temente. "

" O Luar no Oceano " da autoria de Leconte de Lisle , intelectual e poeta francês ( 1818 - 1894 ) , expoente da corrente Parnasiana.

A foto que ilustra a poesia : uma noite de lua cheia , neste sábado no Porto das Dunas, litoral leste do Ceará.

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