quinta-feira, 30 de março de 2017

PARTO HUMANIZADO X A NATUREZA DAS COISAS


 A medicina, outrora um estado de arte, evoluiu para ciência e hoje virou, apenas, comércio? O termo Parto Humanizado faz referência a uma nova e saudável modalidade de atenção ao parto caracterizada pelo irrestrito respeito aos direitos do casal grávido, incluindo o novo ser a caminho. Configura- se um espaço onde o pai e a mãe sejam os principais protagonistas deste complexo evento fisiológico humano – a parturição. Faz-se toda uma preparação passo a passo acerca das alterações da gravidez, do parto e do puerpério.

 Devem participar da assistência pré-natal os seguintes profissionais: obstetra, enfermeira, neonatologista, psicóloga, fisioterapeuta, nutricionista, dentista e doula, dentre outros. A eleição do local e tipo de parto serão da total responsabilidade do casal.
 Assim, na elaboração do plano de parto define-se:

Onde será realizado o parto: em domicílio, em hospital, ou em casa de parto.
Quem irá auxiliar o casal grávido no parto: obstetra, neonatologista, enfermeira- obstétrica, doula, auxiliar de enfermagem.
Acomodação em leito tipo PPP: pré-parto, parto e pós-parto.
Aspectos gerais na assistência ao parto devem incluir: deambulação livre; dieta liberada; não puncionar veia periférica nem administrar soro parenteral; não fazer tricotomia nem lavagem intestinal; evitar episiotomia; parto na vertical; não realização da Manobra de Kristeller; colocar o bebê em contato pele a pele com a mãe.

Certa feita num grande hospital e maternidade situado na “ Loira Desposada do Sol “, uma gestante em transe de parto foi acolhida por uma figura paternal de um octogenário filho de Hipócrates. A jovem parturiente, inquieta, passando a mão suada na barriga, entregou seu plano de parto para o médico que assentiu com a cabeça, positivamente, percorrendo item a item, até que, de repente, estacou na última sugestão: parto na banheira.

“- Minha senhora, não faço, sob qualquer pretexto, o parto em banheira, posto que tenho um trauma juvenil em lidar com os mistérios da água “. E ponto final!
“- Que pena, doutor “, disse a parturiente. “ – Vou peregrinar em busca de um outro hospital “
 “ - Nessa bolsa que carrego comigo, guardo dez mil reais para cobrir as despesas com aquele cristão que vier a assistir meu parto “
O provecto parteiro, de súbito, tornou -se lívido e com o queixo caído. De pronto se recompôs e vexado como quem rouba, gritou para a auxiliar de enfermagem que a tudo assistia calada.

“ - Zefinha, minha filha, me acuda e correndo arranje uma sunga para que eu possa ajudar este anjo num bendito parto na banheira! “
No final, o parto transcorreu célere e na banheira, conforme combinado, culminando com sorrisos e lágrimas para festejar a chegada de mais um recém-nascido saudável. 

Aleluia!
Agora calmo, o parteiro achegou-se à puérpera para explicar o motivo de seu trauma com os mistérios das águas.

 Quando adolescente, viera do sertão central do Ceará para a capital, Fortaleza, banhada pelos verdes mares bravios do Atlântico oceano. Um dia, o jovem deu de cara com a famosa Praia do Futuro, aquele mundão besta de água salgada, conhecido como Açude do Boris. Enfrentou o gigante de água a rugir, com uns cangapés e invadiu a área proibida, destrambelhado, mar a dentro. O afoito matuto foi posto a nocaute por uma gigantesca onda- caixão. Acordou, com o estômago cheio d’água, na areia recebendo uma respiração boca a boca ministrada por um guarda salva vidas.

O trauma adquirido pelo jovem do sertão, apenas findou com aquele bendito parto na banheira com o agora idoso homem de jaleco branco tendo que ruminar o maldoso ditado que reza “ Deus resolve o problema e o médico manda a conta “

“ Se avexe não /amanhã pode acontecer tudo/inclusive nada/se avexe não/a lagarta rasteja até o dia/em que cria asas/se avexe não/que a burrinha da felicidade/nunca se atrasa/se avexe não/amanhã ela para na porta/ da sua casa/se avexe não/toda caminhada começa/no primeiro passo/a natureza não tem pressa/segue seu compasso/inexoravelmente chega lá/se avexe não/observe quem vai subindo a ladeira/seja princesa ou seja lavadeira/para ir mais alto vai ter que suar “     Letra de “ a Natureza das Coisas “ do compositor pernambucano Accioly Neto ( 1950- 2000).










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