segunda-feira, 6 de abril de 2015

                              LEILA DINIZ : AMOR , ALEGRIA E LIBERDADE

“ Dentuça , mas com sorriso irresistível , quadris um tanto largos , mas cintura bem desenhada . Era deliciosamente , imperfeita . A carne dura ainda não era a onda . Valia um umbigo mais arredondado . Mulheres cheinhas , eis o padrão . Leila oferecia amor e alegria “. Assim foi definida por Joaquim Ferreira dos Santos , um de seus biógrafos .
Leila Roque Diniz ( 1945 – 1972 ) , chegou ao mundo para gozar as delícias do paraíso de Cristo de braços abertos sobre a Guanabara no dia 23.03.1945 em Niterói , Rio de Janeiro . Seus pais foram Newton Sampaio de Castro Diniz , bancário e membro do PCB ; e, Ernestina Roque Diniz , professora de Educação Física . Aos sete meses de idade Leila separou-se da mãe , posto que , D. Ernestina precisou ser internada num sanatório para tuberculosos localizado em Correias , Distrito de Petrópolis . Era a Peste Branca fazendo incontáveis vítimas , à época , antes da salvadora descoberta dos fármacos antimicrobianos , como as Estreptomicina , Hidrazida e PAS . O mesmo tipo de separação brutal ocorreu com Luiz Gonzaga do Nascimento Junior ( Gonzaguinha ) e sua mãe , Odaleia , que foi precocemente abatida pelo truculento bacilo da tuberculose .
Newton Diniz seguiu a vida com os três filhos ( Elio , Eli e Leila ) sendo contemplados com colégios internos e casas de parentes até que surgisse no horizonte , Isaura da Costa Neves , uma professora , e refizesse a constituição da família Diniz ao lado de Newton e filhos . Somente aos 10 anos de idade, Leila se tocou sobre a delicada questão de sua identidade materna . Aos 14 anos a adolescente Leila saltou fora do lar pela primeira vez a fim de morar com amigas . Pouco depois viveu um breve pouso com sua mãe biológica Ernestina . Uma Leila prenhe de conflitos e ansiando por liberdade , aos trancos e barrancos chegou nos estudos formais até o segundo ano clássico do Colégio Souza Aguiar em Vila Isabel .
Nesta época ministrava aulas como professora do maternal e Jardim de infância sendo esta sua única atividade profissional antes de estrear como jovem atriz de teatro sob as mãos de Domingos de Oliveira , seu futuro cônjuge . Corria o ano de 1962 , Leila contando apenas 17 anos , manteve este relacionamento amoroso durante 3 anos . Leila Diniz faz sua estreia como atriz participando da peça infantil Em busca do tesouro e em seguida , após convite de Cacilda Becker integrou o elenco de O preço de um homem , no Teatro Mesbla , no Rio de Janeiro . Leila pegando fôlego partiu para a emergente TV Globo onde participou de 12 telenovelas , vivenciando dentro do dragão , este verdadeiro ópio do povo .
Caiu nos braços do emergente Cinema Novo onde estrelou em 14 filmes , tornando- se a musa deste importante movimento cinematográfico brasileiro . Parecendo uma nova Patrícia Galvão - Pagu - , e vivendo uma época de quebra de paradigmas dos tormentosos anos 60 , Leila afrontou uma sociedade machista e puritana . Para isso usou de sua beleza , irreverência , inconformismo , linguagem desabusada e desafiadora ,incluindo estocadas nos exageros do regime militar vigente .
Em 1969 , aos 24 anos de idade Leila enfrentou a debochada turma d’O Pasquim numa longa entrevista de duas horas , regada a uísque e muito palavrão . Ali a bela e desbocada Leila tocou em assuntos polêmicos , como virgindade , homossexualidade e amor livre , esbanjando alegria e sinceridade , em meio a uma gente calejada e irreverente como Tarso de Castro , Sérgio Cabral , Jaguar e Luis Carlos Maciel . No fim a atriz gozou tirando sarro daquela patota e marcando um gol de letra numa antológica entrevista . Por conta da façanha , o ministro da justiça de então , Alfredo Buzaid acelerou a criação de uma lei da censura prévia também conhecida como “ Decreto Leila Diniz “ que serviria de mordaça , principalmente para os assanhados semanários nanicos da imprensa vermelha . Leila Diniz , era para a esquerda , considerada artificial ; para a direita , imoral , e ademais desagradava aos generais do poder pós – 64 . Em resumo , mexia com Deus e o mundo .
O cineasta Ruy Guerra casou-se com Leila e tiveram uma filha , Janaína . Durante a gravidez , a atriz exibia a barriga orgulhosamente num minúsculo biquíni nas praias para mexer com os brios duma sociedade conservadora e retrógrada . Em julho de 1972 , Leila Diniz viaja para a Austrália onde representaria o Brasil no Festival de Adelaide com o filme Mãos vazias sob a direção de Luís Carlos Barreto e pelo qual recebeu o prêmio de melhor atriz . O avião que a traria de volta ao Brasil explodiu nas cercanias do aeroporto de Nova Deli na Índia , no dia 14 de junho de 1972 . Ponto final na curta e rica trajetória de 27 anos de uma grande mulher que amou e viveu nos limites permitidos pela sociedade , deixando saudades e muitas lições de integridade e coerência com seus ideais . Ela não esteve aqui para agradar gregos e troianos , muito pelo contrário .
Martinho da Vila e Rita Lee rabiscaram duas homenagens musicais reverenciando a bela e imortal Leila Diniz , onde se encontram alguns neologismos ( porristas , nazijudias e beaidetificadas ) que talvez se adequem à personalidade radical da irreverente atriz :
“ Ai que saudade da beleza democrática / ai que saudade do sorriso progressista / ai que saudade de ouvir certas verdades /que a burguesia sempre pensa , mas não diz / ela era crooner de uma orquestra sistemática / feita de loucos , de poetas e porristas / era a estátua nacional da liberdade /ditando a lei do ventre livre no país /aquelas noites eram feias , eram trágicas / mas a sua luz anunciava a diretriz / comportamentos mais abertos , transparentes /pra nossa gente ser mais gente e mais feliz / hoje a saudade escreve os versos neste samba / que é um dos sambas mais sentidos que eu já fiz / esta saudade tem um nome / e um sobrenome / esta saudade é uma mulher / Leila Diniz “ .
“ Elas querem o poder ! / mães assassinas , filhas de Maria /policiais femininas , nazijudias / gatas gatunas , quengas no cio / esposas drogadas , tadinhas mal pagas / toda mulher quer ser amada / toda mulher quer ser feliz / toda mulher se faz de coitada / toda mulher é meio Leila Diniz /garotas de Ipanema , minas de Minas / loiras , morenas , messalinas /santas sinistras , ministras malvadas / Imeldas , Evitas , Beneditas estupradas / paquitas de paquete , Xuxas em crise /macacas de auditório , velhas atrizes /patroas babacas , empregadas mandonas / Madonnas na cama , Dianas corneadas / socialites plebeias , rainhas decadentes /manecas alcéias , enfermeiras doentes / madrastas malditas , super- homem sapatas / Irmãs La Dulce beaidetificadas / toda mulher quer ser amada / toda mulher quer ser feliz / toda mulher se faz de coitada / toda mulher é meio Leila Diniz “ .

Um comentário:

  1. nao existiu revoluçao,a vida sempre foi assim,mulheres viviam,separavam,estudavam,tinham filhos e etc,portanto a unica coisa de diferente da Leila foi a moda de bikini gravida na praia,o resto nada de diferente.

    ResponderExcluir