sábado, 13 de dezembro de 2025

 Dois Poetas Bissextos do Ceará

O Estado do Ceará sempre foi um celeiro de bons trabalhadores da palavra escrita , seja na prosa ou na poesia . Pontuam como poetas ditos bissextos, aqueles cuja produção literária a despeito de uma descontinuidade característica, evidencia uma alta qualidade , própria daqueles eleitos pela musa . Cumpre sinalar , que dentre nós pontuam venerandas figuras , como :
Fran Martins ( 1913 - 1996 ) ; Rachel de Queiroz ( 1910 - 2003 ) ; Moreira Campos ( 1914 - 1994 ) ; Mozart Soriano Aderaldo ( 1917 - 1995 ) ; Pedro Sampaio ( 1884 - 1967 ) ; Francisco Alves de Andrade ( 1913 - 2001 ) ; Gustavo Barroso ( 1888 - 1959 ) ; Papi Junior ( 1854 - 1934 ) ; João Jacques Ferreira Lopes ( 1910 - 1999) ; João Clímaco Bezerra ( 1913 - 2006 ) ; Demócrito Rocha ( 1888 - 1943 ) , dentre outros .
Destaque para dois exímios trabalhadores da palavra , e consagrados poetas bissextos:
João Jacques Ferreira Lopes : Jornalista , Cronista, Pintor e Poeta :
" Paralelo com o abstrato "
Tu te formaste , ganhando um canudo / eu me formei sem diploma / chegaste de vitória em vitória/ ao fim de uma carreira/ continuo de queda em queda / no começo de uma andança/ tens uma pedra no dedo , e eu , no sapato .../ na engenharia , a tua especialidade/ é a arquitetura/ na minha profissão indefinida /tenho uma técnica mais indefinida ainda / lidas com o barro, a areia e a cal / a pedra , o cimento e o ferro, meu material é todo imaterial : / o sonho , a saudade , a tristeza , o amor .../ na fôrma de madeira , derramas/ o concreto/ na forma ponho o abstrato.../ da tua treina e dos teus cálculos/ saem colunas , vigas , lajes e / orçamentos , enquanto/ eu pago para fazer projetos / lucrando apenas experiência/ e quando a morte vier / ela , a destruidora/ ela , a igualitária/ ela , a cega de guia/ não ficarão de teus templos / pedra sobre pedra/ e de minhas catedrais de nuvens/ nem os sinos, nem os santos , nem os vitrais .../ apenas , sobre nós ambos / cantará/ a colher do pedreiro/ a colher do coveiro / construindo a tua última parede / guardando num cofre o último poeta ... " .
João Clímaco Bezerra: Jornalista , Advogado , Romancista e Poeta :
" Cabocla "
Cabocla das carnes roliças e queimadas / a tua alma é o berço/ onde dormem as doces canções da minha terra/ por ti soluçam as tristes violas nas várzeas/ por ti canta o sertanejo a sua doce toada de saudades
.../ cabocla / eu sonho com um homem forte e poderoso/ cheio de fé no Brasil / que te vencerá um dia / quando a terra do sertão/ for golpeada de estradas de rodagem/ nunca mais ouvirás, cabocla / o sertanejo cantando a sua doce toada de saudades/ nem as várzeas cobertas de açudes/ escutarão os doces acordes da viola / só o ruído ensurdecedor das máquinas do homem novo / quebrará o doce silêncio da terra sertaneja/ que tristeza imensa sentirei neste futuro/ eu morrerei de saudades da cabocla/ e o sertão de saudades da viola.
Ponto Final.

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