segunda-feira, 19 de agosto de 2024

 Antero de Quental e Fernando Pessoa

Cheia de Graça , Mãe Misteriosa
" Num sonho todo feito de incerteza,
De noturna e indizível ansiedade
É que eu vi teu olhar de piedade
E ( mais que piedade ) de tristeza ...
Não era o vulgar brilho da beleza ,
Nem o ardor banal da mocidade ...
Era outra luz , era outra suavidade ,
Que até nem sei se as há na natureza ...
Um místico sofrer ...uma ventura
Feita só do perdão , só da ternura
E da paz da nossa hora derradeira ...
Ó visão , visão triste e piedosa !
Fita - me assim calada , assim chorosa...
E deixa - me sonhar a vida inteira !
Soneto " Á Vida Santíssima " , autoria de Antero de Quental ( 1842 - 1891 ) .
" O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda ,
E de vez em quando olhando para trás..
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto ,
E eu sei dar por isso muito bem ...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se , ao nascer ,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto - me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo ...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo . Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se faz para pensarmos nele
( Pensar é estar doente dos olhos )
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo ...
Eu não tenho filosofia : tenho sentidos ...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é ,
Mas porque a amo , e amo - a por isso ,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama , nem o que é amar ..
Amar é eterna inocência ,
E a única inocência é não pensar ..."
Poema de Fernando Pessoa ( 1888 - 1935 ).
Na minha oficina de trabalho , muito bem acompanhado aqui e no multiverso !
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segunda-feira, 12 de agosto de 2024

 O Silêncio do Corpo

O silêncio do corpo - era assim que os gregos antigos definiam a saúde e o bem - estar físico dos homens ( boa alimentação , exercicios fisicos , trabalho controlado , sono repousante , fuga do estresse ). Aprendamos a ver por esses caminhos : É quando nada existe , como imagem e aparência, que a perfeição está próxima . Como a saúde é o silêncio do corpo , a sabedoria é o silêncio da mente - uma quietude que nada tem a ver com a inércia e a preguiça . Ao contrário , ela é uma forma abençoada de ação .
Dizia , Blaise Pascal ( 1623 - 1662 ) , que o homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza , mas é um caniço que pensa . Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá - lo : um vapor , uma gota d' água bastam para matá - lo . Mas ainda que o universo o esmagasse , o homem ainda seria mais nobre do que o mata, pois sabe que morre , e a vantagem que o universo tem sobre ele ; e o universo não sabe disso .
Toda a nossa dignidade consiste pois no pensamento. É dele que devemos depender e não do espaço e duração que não saberíamos conhecer . Trabalhemos , pois , em bem pensar : eis o princípio da moral .
Resta a " Modinha " , de Cecília Meireles ( 1901 - 1964 ) , poeta , professora e folclorista carioca .
" Tuas palavras antigas
Deixei - as todas , deixei - as ,
Junto com minhas cantigas
Desenhadas nas areias .
Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas ,
Das cantigas - que eram tuas -
Das palavras - que eram minhas !
O mar , de língua sonora ,
Sabe o presente e o passado .
Conta o que é meu , vai - se embora :
O resto é pouco e apagado. "
A foto que ilustra o texto mostra o cair da tarde na Praia de Iracema, em Fortaleza.
Pode ser uma imagem de horizonte, oceano e crepúsculo
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 José Eleutério Filho , Meu Querido Pai

No limiar do ano de 1915 , na velha Europa , os raios riscando os céus, reportavam o fogo do cruel embate entre irmãos, na Primeira Grande Guerra Mundial . Aqui em Pindorama , abaixo do equador, onde não existe pecado , na pequena urbe de Mossoró, cidade do sol , sal e petróleo , no vizinho Rio Grande do Norte , no dia 15 de janeiro de 1915 , dava bom dia ao mundo mais um menino José . Seu pai , José Eleuterio , e sua mãe , Maria Ferreira , cedo migraram para Fortaleza , desacompanhados dos Reis Magos , posto que , já se passara a saudosa festança de 06 de janeiro :
" Oh ! Deus salve a casa - santa , aonde Deus fez a morada , onde mora o cálix bento e a hóstia consagrada " .
O casal José Eleuterio e Maria Ferreira encontraram um ninho sob a divina proteção, bem junto à Igreja de Nazaré, no bairro de Montese .Ali fincaram os alicerces da família e do comércio ( mercearia e vacaria ) , naquele recanto e seguiram com a vida adiante .
O garoto José Eleuterio Filho foi buscar conhecimento formal no Colégio Cearense dos Irmãos Maristas . Mais à frente , o jovem José Eleuterio , inquieto , misturou as bolas e caiu nos braços da Maçonaria . Na rua Conde D'Eu, colado à Catedral Metropolitana de Fortaleza , José Eleutério, ergueu um cubículo de madeira , no meio do trânsito , que ele chamou de Posto Esso , onde colocou duas bombas de combustíveis para veículos automotores .
Dali tirou , às custas de muito suor e lágrimas, o básico sustento de sua esposa e anjo Jurema , e de seus cinco filhos : Rita , Diana , Stela , José Neto , e Francisco José. Quando a cidade de Fortaleza cresceu , engoliu o Posto Esso , e levou a tiracolo o nosso pobre pai José. Que pena ! Uma cidade não tem sentimentos como o bicho - homem ! A partir de então, nosso querido pai morreu muitas mortes até a última , segurando minhas mãos , num leito do Hospital Geral de Fortaleza .
José Eleutério Filho , nosso querido pai , poderia ter corrido a Europa , França e Bahia , mas não foi . Poderia ter expandido seu minúsculo comércio, mas não o fez . Poderia ter esbanjado riqueza, mas não o quis. O que quis e moldou , com apurado capricho, foi confeccionar com as próprias mãos, de uma alvura ímpar, amparado pelo anjo Jurema , um ninho sólido, imune a tempestades e agruras , onde seus filhos cresceram, criaram asas e tomaram um rumo certo neste mundo de meu Deus .
Queridos José e Jurema , seus projetos tinham que vingar , e vingaram por obra e graça de vocês. Valeram a pena tantos sacrifícios, queridos pais ? Não tenham dúvidas !
E o que restou de tudo ? E agora , queridos José e Jurema ? Seus rebentos , humildes , no outono da vida , curtindo a envelhescência, de braços dados , unidos como sempre foram , dando glórias ao Senhor , por tudo que a vida nos ofertou . Depois que vocês, queridos pais , se encantaram nas nuvens do divino, plantou - se um mar de saudades entre nós, um completo desamparo . Nada não , é por pouco ! Podem preparar um novo ninho aureolado de algodão, aí na Mansão dos Bons e dos Justos , posto que , ainda precisamos nós, de seus regaços e de suas benfazejas companhias .
José Eleutério Filho , querido e amado velho , parabéns pelo seu dia , e mande daí sua reconfortante benção !
Um beijo , e até breve , pai !
Rita , Diana , Stela , José Neto , e Francisco José .
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