domingo, 7 de abril de 2024

 Encontros prosaicos com a Parca

O motor que move a humanidade , invariavelmente , chama - se sonho . A busca da felicidade , da eterna juventude e da imortalidade , permeiam as aspirações do bicho - homem . Ninguém imagina um encontro , nem de brincadeira , com a " indesejada das gentes " , a velha Parca .
Ano de 1954 , no Balneário Pirapora , situado em Maranguape , nos arredores de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção , Chico Barrão , um garoto gorducho e dentuço , de 4 anos de idade , curtia numa boia , as delícias de um banho de piscina . Um adulto desastrado mergulhou rente ao garoto , que desequilibrado , foi como uma pedra ao fundo lodoso da piscina . Uma bondosa alma de plantão puxou pelos cabelos um ser arroxeado , nocauteado , e que foi prontamente atendido com uma respiração boca - a - boca .
Cruz Credo ! , o indigitado garoto escapou daquele furdunço, sem quaisquer danos .
O segundo encontro com a ceifadeira das gentes , cerca de 20 anos depois , deu - se numa madrugada chuvosa em Fortaleza quando o agora obstetra , indo atender uma jovem em transe de parto , ao cruzar a linha férrea na Avenida Antônio Sales , sentiu o bafo morno da morte , quando uma locomotiva sacolejante, de luz apagada e sem sirene , por um segundo , não engoliu o fusca do sortudo doutor .
O pimpolho que nasceu depois de alguns minutos pelas mãos do dito obstetra, no vizinho Hospital Batista Memorial , recebeu o nome de Francisco . O doutor, tinha certeza , nascera novamente .
Um novo encontro com a morte , vinte anos adiante , agora mais grave , deu - se com o indigitado homem de jaleco branco , que assistindo um parto laborioso , de súbito , teve uma grave arritmia cardíaca que rápido , caminhou para uma parada cardíaca . Reanimado a tempo pelas mãos salvadoras de um jovem anestesista . Ao acordar atordoado, o velho aparador de meninos , agora um anônimo e frágil paciente , em meio a fios e monitores barulhentos , acenou para uma bela auxiliar de enfermagem , morena da cor de Madalena , que , prontamente, acedeu :
" - Querida , preciso de um bom banho , para me sentir , novo de novo , asseado e cheiroso , como filho de barbeiro " .
" - Seu Francisco , o banho é aqui mesmo no leito . Vou lhe despir e ensaboar com uma massagem que desperta até defunto . E meu vozinho , fique frio , pois entendo perfeitamente , que os velhos são crianças duas vezes " .
Que balde d'água fria , meu Zeus !
O passado se agigantando , e o futuro diminuindo a passos largos . Viver melhor é mais importante que viver mais . Nosso futuro , creio , será biológico e não cronológico . Amém !
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, bebê, sorrindo e hospital
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