terça-feira, 26 de setembro de 2023

 Sobre a Brevidade da Vida - Sêneca

A maior parte dos mortais , lamenta a maldade da natureza , porque já nascem com a perspectiva de uma curta existência, e porque os anos que lhes são dados transcorrem rápida e velozmente . Hipócrates, o pai da Medicina , afirmava que " A vida é breve , a arte , longa " . Não temos exatamente uma vida curta , mas desperdiçamos uma grande parte dela . A vida , se bem empregada , é suficientemente longa , e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas . Não somos privados , mas pródigos de vida . Se souberes viver a vida , ela é longa . Mas a insaciável ganância domina um ; outro , desperdiça sua energia em trabalhos supérfluos ; um encharca - se de vinho , outro fica entorpecido pela inércia ; um está sempre preocupado com a opinião alheia , outro por um irreprimido desejo de comerciar , é levado a explorar terras e mares na esperança de obter lucros .
Pequena é a parte da vida que vivemos , pois todo o resto não é vida , mas somente tempo . Nenhum homem sábio deixará de se espantar com a cegueira do espírito humano . Vive como se fosse viver para sempre , nunca reconhecendo sua fragilidade . Que tolice dos mortais a de adiar para os cinquenta ou sessenta anos , as sábias decisões e , a partir daí, onde poucos chegaram , mostrar desejo de começar a viver ?
Deve - se aprender a viver por toda a vida e , por mais que te admires , durante toda a vida se deve aprender a morrer . Não julgues que alguém viveu muito por causa de suas rugas e cabelos brancos : ele não viveu muito, apenas existiu por muito tempo .
A vida se divide em três períodos : aquilo que foi , o que é , e o que será . O que fazemos é breve , o que faremos , dúbio , o que fizemos , certo . Algo se perde no passado ? Ele recupera com a memória. Está no agora ? Ele desfruta . Há de vir com o futuro ? Ele antecede . A união de todos os tempos em um só momento faz com que sua vida seja longa .
Lúcio Anneo Sêneca : filósofo , dramaturgo , político e escritor romano ( 4 a.C - 65 d.C . )
" Por acaso, surpreendo - me no espelho : quem é esse
Que me olha e é tão mais velho que eu ?
Porém, seu rosto... é cada vez menos estranho
Meu Deus , meu Deus ... Parece
Meu velho pai - que já morreu !
Como pude ficar assim ?
Nosso olhar - duro - interroga :
- O que fizeste de mim ?
- Eu , pai ? Tu é que me invadiste,
Lentamente , ruga a ruga ... que importa ?
Eu sou , ainda , aquele menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra .
Mas sei que vi , um dia - a longa , a inútil guerra
Vi sorrir , nesses cansados olhos , um orgulho triste ..."
O Velho no Espelho , da autoria de Mário Quintana ( 1906 - 1994 ) .
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