segunda-feira, 28 de maio de 2018

Sonho do Cego Aderaldo 
(Sobre as riquezas usurpadas do Brasil)



"Às nove horas da noite/eu senti que tinha sede/tomei um pouquinho d'água/Depois me deitei na rede/comecei a me embalar/dando c'om pé na parede/devido àquele balanço/O sono conciliei/um sono reparador/no qual, até sonhei/umas coisas esquisitas/que ainda não decifrei/sonhei que via uma mata/e nela um vergel em flores/enfeitando aquele bosque/num tom de todas as cores/em cima um sol causticante/com raios abrasadores!/vi sair daquele bosque/a figura de um cristão/um velhinho já corcundo/arrimado num bastão/calçando umas alpercatas/como gente do sertão/ele, muito delicado/me fez uma saudação/com palavras tão bonitas/que encheram meu coração/de alegria, por sentir/nele tanta educação/saudei ao velho, dizendo:/tens uma linguagem nobre/de uma ciência elevada/que o Céu desta terra cobre.../É ele fez um ar tão triste/É disse: - Sou muito pobre/de fato , pelo seu traje/tinha um sinal de pobreza/a roupa muito surrada/aumentava-lhe a tristeza/mas ele sorriu dizendo:/- já tive muita riqueza!/porém muito dos meus filhos/usaram de falsidade:/fizeram com os vizinhos/mil transações de amizade/levando tudo que eu tinha/pra gastar com vaidade/venderam muita platina/pedras preciosas e ouro/chumbo, ferro e manganês/desfalcado o meu tesouro/ e inda dizem: - que importa/que o papai se acabe em choro?/mas, ainda tenho moeda/de alto quilate e coroa/isto é: água perene/que aos meus terrenos "agôa "/o meu lugar é sadio/e a Terra é muito boa!/eu perguntei: - quem és tu?/tão bondoso, tão gentil/que dizes ainda ter/sobre a Terra encantos mil?/ele riu baixinho e disse:/- meu filho, eu sou o BRASIL..."
Fortaleza, 10 de abril de 1965.

Aderaldo Ferreira de Araújo (1878 - 1967 ), mais conhecido como Cego Aderaldo , nasceu na cidade de Crato , no interior do Ceará. Aos 18 anos de idade perde a visão mas aguça os sentidos para as coisas da vida. Após sonhar em verso ganhou uma viola e depois uma rabeca. Ganhou o mundo num mar de poesia. Cego Aderaldo nunca se casou e criou cerca de 24 meninos.
Hoje , Brasindia, cega por uma ideologia nefasta , meio século depois desta poesia de Cego Aderaldo , continua sendo dilapidada por alguns de seus filhos bastardos que compram uma refinaria em Pasadena por um bilhão, para depois vender por preço de bananas. Neste grave momento o país flerta, irresponsavelmente, com "democracias" como Venezuela, Cuba e Bolivia. Resta aos verdadeiros cidadãos colocarem ordem na Casa de Mãe Joana , ou deixarem que o véu negro da noite uma vez mais cubra o nosso sofrido solo pátrio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário