domingo, 31 de dezembro de 2017

A derradeira Lua do ano , afoita "pegando bochecha " na carruagem do Sol. Rei e Rainha de mãos dadas curtindo os últimos momentos desse 2017.
" Em meio a um cristal de ecos/o poeta vai pela rua/seu olhos verdes de éter /abrem cavernas na lua/a lua volta de flanco/eriçada de luxúria /o poeta , aloucado e branco/palpa as nádegas da lua/entre as esferas nitentes /tremeluzem pelos fulvos /o poeta, de olhar dormente / entreabre o pente da lua/entre frouxos de luz e água /palpita a ferida crua/o poeta todo se lava/de palidez e doçura /ardente e desesperada / a lua vira em decúbito /a vinda lenta do espasmo /aguça as pontas da lua/o poeta afaga -lhe os braços /e o ventre que se menstrua /a lua se curva em arco/num delírio de volúpia /o gozo aumenta de súbito /em frêmitos que perduram /a lua vira o outro quarto /e fica de frente, nua/o orgasmo desce do espaço /desfeito em estrelas e nuvens/nos ventos do mar perpassa/um salso cheiro de lua/e a lua, no êxtase cresce /se dilata e alteia e estua /o poeta se deixa em prece/ante a beleza da lua /depois a lua adormece/e míngua e se apazigua. ./o poeta desaparece/envolto em cantos e plumas/enquanto a noite enlouquece/no seu claustro de ciúmes " 
O poeta e a lua , de autoria de Vinicius de Moraes (1913-1980).

Um comentário:

  1. Vinícius marcou presença em sua época, e nos deixou poesias até hoje deslumbrantes. Falava de amor com palavras de sonoridade que ecoam através do tempo.

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