sexta-feira, 17 de junho de 2016


O PAPAGAIO QUE SE FAZIA DE MUDO


 


Era uma vez um papagaio, gordo e triste, que não verberava um ruído sequer, mudo que nem uma pedra. O seu dono, um político pertencente a um partido que nunca larga o poder ou dum sol que nunca se põe, empanturrava o pobre psitacídeo com alimentos nada saudáveis e cobrava em contrapartida que ele não “ abrisse o bico “ mesmo sob a maior ameaça, fazendo sempre vista grossa acerca de tudo que visse e ouvisse. A ave seguia à risca o conselho pois sabia o tipo de gente com que lidava. Naquele recinto de ar pesado, circulavam políticos de todas as matizes, que surgiam do nada, olhando para os lados com as “ mãos abanando “ e dali partiam com pacotes de dinheiro “ in natura “ novinho em folha. Ninguém podia em sã consciência imaginar que o balofo papagaio oriundo dum pequeno burgo perdido no meio das caatingas abrigasse uma memória prodigiosa de um elefante. No seu possante hardware, em pastas selecionadas estavam datas, nomes, empreiteiras e valores originários de propinas.

Um belo dia, como soe acontecer nestas tragédias urbanas a polícia federal estourou o lúgubre recinto levando pastas, computadores e outros objetos sob suspeição. De quebra, um perverso agente da lei achou por bem dar ordem de prisão ao gorducho papagaio. O bicho se mantinha mudo que nem uma tosca pedra. Até que saiu a sentença fatídica:

“ – Não vai ter comida “ e se persistir na incômoda mudez vai ser cozinhado vivo!

O velho e matreiro papagaio, tentando salvar a pele abriu a matraca e verberou um minucioso relatório delatando deuses e o mundo, sem piedade, num didatismo incomum àquele gênero de ave. Escorria dele feito uma baba de dar nojo, um negro líquido parecendo petróleo, com um odor nauseabundo insuportável, da mais pérfida corrupção. O imbróglio ainda não teve seu desfecho, mas o baboso papagaio vindo do Norte e jurado de morte já entrou para a história como um alcaguete de luxo que detonou um devasso reino perdido da terra dos papagaios. Bem feito!

Como se percebe, o relato trata-se de uma simples fábula, um conto de carochinha ou uma inocente história de Trancoso. Ainda bem!

 

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