quinta-feira, 9 de junho de 2016


O ALIENISTA E O SEMIDEUS

Um dos maiores vultos das letras brasileiras, o carioca Machado de Assis (1834 – 1908) lançou no ano de 1882 o conto “ O Alienista “. A história transcorre no município de Itaguaí no Rio de Janeiro onde um certo esculápio, o Dr. Simão Bacamarte, “ filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas “ entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência e da saúde das pessoas. Deste modo com a ajuda de estipêndios oriundos do poder público, o Dr. Simão Bacamarte fundou um asilo em Itaguaí com o nome de “ Casa Verde “ para recolher das ruas os lunáticos da localidade. Aos poucos o dito abrigo foi recebendo cada vez mais criaturas tornando Itaguaí uma cidade quase fantasma. Logo formou-se uma rebelião contra o despótico doutor. Um belo dia correu a notícia que os ocupantes da Casa Verde ganhariam a liberdade e para o espanto de todos, o Dr. Simão Bacamarte mudara suas teorias acerca da loucura e da sanidade mental. Assim, sem mais nem menos, o nobre esculápio tornou-se o único ocupante da Casa Verde e ali morreu exatos dezessete meses depois do internamento solitário. Muitos acreditam que nunca houve em Itaguaí nenhum louco além daquele ilustre alienista, o Dr. Simão Bacamarte.

 Agora em pleno século XXI numa pobre província situada abaixo do equador, uma casa de reclusão verde e amarela foi erguida sob os auspícios do poder público com a finalidade de dar abrigo compulsório a gentes com sérios distúrbios de conduta, loucos pelo vil metal, “ aquele que ergue e destrói coisas belas “, uns tais sujeitos engravatados, de anel de brilhante nos dedos, cheios de lábia e plenos de regalias a que nenhum cristão tem direito.

Um severo servidor público graduado, doutor de beca negra, um semideus   portando nome e sobrenome estrangeiro tem tocado horror recolhendo à dita casa de detenção verde e amarela, numa velocidade estonteante, figuras carimbadas do mundo da política planaltina entre peixões e bagres. A cidade encontra-se quase vazia e entregue às baratas e ratazanas. Por último até uma figura nipônica, folclórica e midiática que se prestava a acompanhar, por ocasião do flagrante, os novos moradores da tal casa de correção foi devidamente autuado. Um vexame, senhores!  Perambulam pelas ruas vazias, grogues , meia dúzia de “ perninhas e vermelhos desbotados “ mostrando os dentes uns para os outros em atitudes beligerantes .Não se sabe ainda o epílogo desta tragédia bufa mas alguns conjecturam para o tal doutor de beca negra, um fim idêntico ao do Dr. Simão Bacamarte do conto do “ Alienista “ de Machado de Assis, o bruxo do Cosme Velho. Duvido, mas vamos esperar sentados para ver!

 Que sina, meu Deus, o deste país do faturo! Cruz, credo!

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