domingo, 20 de fevereiro de 2022

 Sorriso do Mar

O tempo é uma invenção do homem para medir fenômenos da natureza. Não vivemos no tempo, vivemos o tempo ( Heidegger , Ser e Tempo ). Tudo é ilusão, exceto o tempo. Quando nos atemos ao presente , a consciência é divina .
"Tudo passa e tudo fica
Porém o nosso é passar,
Passar fazendo caminhos
Caminhos sobre o mar
Nunca persegui a glória
Nem deixar na memória
Dos homens minha canção
Eu amo os mundos sutis
Leves e gentis,
Como bolhas de sabão.
Gosto de ver - los pintar - se
De sol e grená voar
Abaixo o céu azul , tremer
Subitamente e quebrar - se...
Nunca persegui a glória
Caminhante, são tuas pegadas
O caminho e nada mais;
Caminhante, não há caminho,
Se faz caminho ao andar.
Ao andar se faz caminho
E ao voltar a vista atrás
Se vê a senda que nunca
Se há de voltar a pisar
Caminhante não há caminho
Senão há marcas no mar...
Faz algum tempo neste lugar
Onde hoje os bosques se vestem de espinhos
Se ouviu a voz de um poeta gritar
" Caminhante não há caminho,
Se faz caminho ao andar"...
Golpe a golpe , verso a verso...
Morreu o poeta longe do lar
Cobre - lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar - se lhe vieram chorar
" Caminhante não há caminho,
Se faz caminho ao andar..."
Golpe a golpe , verso a verso...
Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
"Caminhante não há caminho,
Se faz caminho ao andar..."
"Golpe a golpe, verso a verso ."
Cantares , de Antônio Machado Ruiz ( 1875 - 1939 ).
Neste sábado na Praia do Japão, litoral leste do Ceará, a jangada " Sorriso do Mar" repousando , para logo mais voltar ao mundo de Netuno.
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e ao ar livre

domingo, 13 de fevereiro de 2022

 Um Pé de Sonho

Sorvendo uma cerveja , sozinho , num quiosque plantado nas alvas areias da praia do Mucuripe, um jovem vê surgir do nada uma dama lhe ofertando um singelo papel na mão .Tratava - se de um Teste de Gravidez - Gravindex - com um resultado Positivo.
Findou , de pronto , aquele solitário luau ouvindo estrelas. A felicidade batera à porta daquele jovem casal de pontinhos. O mancebo , lívido, afásico , com a vista borrada e engolindo o choro , rabisca num guardanapo de papel um simples bilhete , ditado pelo coração e endereçado ao novo integrante daquele casal .
Quando o ex - boêmio desta estória completou sessenta anos , recebeu de presente um quadro onde se encontrava aquele mimo de garranchos esculpidos num guardanapo de papel meio amarelado pelo rigor do tempo. Era um reencontro com um passado feliz e verdadeiro . Ali constava :
" Querida filha , como uma pura epifania , você surge em nossas vidas, minha e de sua mãe. É o milagre diário da vida , a certeza de que , quando ao pó seus pais retornarem , sua luz votiva , manterá o fio da vida em nós e por nós. A partir de agora, aí no aconchego morno do ventre de sua mãe, todos dias serão seus . Não irás chegar ao mundo sob minhas mãos , como eu gostaria que fosse , mas estarei presente na sala de parto , banhado num pranto puro e verdadeiro.
Todos os folguedos da infância estarão ao seu dispor : chicote queimado , macaca , pega - pega , três - três - passarás , e muitas bonecas , certamente .
Visitaremos juntos muitos mundos da fantasia num verdadeiro mar de livros - meus filhos de papel .
Um dia vai desabrochar num belo raio de sol , sua adolescência e , novamente juntos , desfrutarmos um turbilhão de novos saberes.
Livremente irás escolher sua profissão como uma demanda de seu nobre coração. O mundo será seu e a felicidade baterá suavemente à sua porta . E, claro , sempre juntos estaremos em toda e qualquer circunstância.
Com ansiedade lhe aguardamos .
Um carinhoso beijo de seus pais , e boa viagem a esse maravilhoso mundo ! ".
Pode ser uma imagem de pessoa, criança, sentando e ao ar livre
Mary Romero, Fernando Melo e outras 18 pessoas
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 Um Crepúsculo com Hermann Hesse

" O homem , tal qual como Deus o pensou e ao longo de vários milênios o tem entendido a poesia e a sabedoria dos povos , foi criado com a capacidade de se deleitar com as coisas, ainda que estas não lhe sejam úteis. E é também dotado de um órgão para perceber o belo. Na alegria da contemplação do belo, tomam sempre parte por igual a alma e os sentidos. E enquanto forem os homens capazes de , em meio aos tormentos e perigos da vida , alegrar - se, por exemplo, ante o jogo das cores da natureza ou diante de um quadro; ante um apelo das vozes da tempestade , do mar , ou de uma música; enquanto , por trás do envoltório dos interesses e necessidades cotidianas , puderem ver ou sentir o mundo como um todo no qual, desde os meneios de um gato que brinca com um novelo , até as variações de uma sonata; desde o comovente olhar de um cão até a tragédia de um poeta , tudo forma um vasto reino com miríades de relações, contrastes, analogias e reverberações, dos quais uma linguagem eternamente em fluxo retira e transmite aos ouvintes alegria e sabedoria, prazer e emoção - enquanto isso houver, poderá o homem assenhorear - se de sua própria angústia existencial e atribuir sempre algum sentido à vida, pois o " sentido " é quem reduz o múltiplo à unidade: ele é a capacidade que tem o espírito humano de conceber o caos do universo como autêntica unidade e harmonia ."
( Hermann Hesse- 1877 - 1962 ).
Foto que ilustra o texto , um cair da tarde no Porto das Dunas , Ceará.
Pode ser uma imagem de corpo d'água, crepúsculo, praia, natureza e nuvem
Bia Medeiros, Jandira Cardoso e outras 7 pessoas
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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

 Dumont - O Pai da Aviação

Alberto Santos Dumont ( 1873 - 1932 ) , cientista , inventor e aeronauta brasileiro, nasceu em Palmira , no estado de Minas Gerais . Seus pais foram Henrique Dumont ( engenheiro ) , e Francisca Santos Dumont. O garoto Alberto desbravou o mundo das máquinas numa grande fazenda de café de propriedade paterna. Em seguida matriculou - se no colégio " Culto à Ciência " , localizado em Campinas , no interior de São Paulo. O jovem Alberto , com 1, 60 metros de altura e pesando 50 quilos, em breve se tornaria um gigante na história da aviação mundial.
Começou com um balão impulsionado pelo vento . A seguir , com um artefato motorizado , o " Petit Santos " abocanhou um prêmio de 100.000 francos , por conta de um vôo exitoso em torno da Torre Eiffel , na França.
Em 04 de janeiro de 1910 , Santos Dumont sofreu um grave acidente , com seu avião particular " Demoiselle ". O desencadear da Primeira Guerra Mundial abalou de vez a frágil saúde de Santos Dumont, que não concebia o uso militar da aviação.
Numa viagem ao Brasil , em 1928 , o grande inventor brasileiro, a bordo de um navio, seria saudado em sua chegada ao Rio de Janeiro por 12 ocupantes ilustres de um hidroavião, que explodiu, à sua frente, levando todos os ocupantes para o fundo do mar. Mais um baque para a sensível alma de Dumont.
No dia 23 de julho de 1932 , em pleno curso da Revolução Constitucionalista, em São Paulo, partia Santos Dumont para sua última viagem , agora em segurança nas asas de anjos para usufruir de um novo mundo num eterno " céu de brigadeiro " .
Para amenizar um pouco o ar pesado , segue uma crônica do grande jornalista e acadêmico José Cândido de Carvalho ( 1914 - 1989 ) :
" E entusiasmado com o foguetão que jogou um punhado de gente na Lua , o vereador Arubinha Pinto , de São José do Pontal , atrelado numa cadeira, fez comício na porta do Cine Imperial . Quanto mais falava , mais subia nos móveis e utensílios. Da cadeira à aba da janela e da aba da janela às partes mais altas do Cine Imperial.
De repente estava na cumeeira, agarrado na vara do para - raio.
E era rente do céu, estrelado de entusiasmo, que Arubinha expedia seu discurso para o povo amontoado na Praça do Piolho. O ferreiro
Lalau Paranhos , que muito gostava de Arubinha , aconselhou com voz de martelo na bigorna :
- Desce , compadre. Tu não é bem - te - vi, tu nem aeroplano é. Cuidado com tua chiada dos peitos . Olha o vento encanado, compadre Arubinha !
Nas alturas, sacudindo a vara do para - raio, Arubinha soltava patriotismo pelas tarraxas em defesa de Santos Dumont. Assim :
- Uma banana das graúdas para quem apregoar que o Dr. Santos Dumont não inventou a avionagem. Foi ele e mais ninguém! Rebento o focinho do primeiro que garantir que não foi. Se não fosse sua inventaria, bem que esses gringos nunca que botavam o pé na Lua. Nunca !
Voa de aeroplano , Arubinha . Solta fumaça pela cauda , faz barulhinho de maxambomba, mete os peitos e ganha altura que a gente garante tua viúva com uma pensão do governo. Vai Arubinha . Os Santos Apóstolos já estão na boca de espera . Vai que o céu não tem caroço!
Entusiasmado , Arubinha abriu os braços, saltou e morreu. Como um ovo esparramado na Praça do Piolho ".
Ponto final !
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