segunda-feira, 27 de maio de 2024

 Fim de Tarde na Praia de Iracema

Catando rimas em poemas musicais talhados por um doce filho da Terra de Luz , Belchior , num fim de tarde de domingo na Praia de Iracema , um velho reduto da boêmia cearense . Segue um tiquinho da amostra :
" Eu quero é que este canto torto , feito faca, corte a carne de vocês " ( A Palo seco ) .
" A minha alucinação é suportar o dia a dia e o meu delírio é a experiência com coisas reais " ( Alucinação) .
" Vida , eu quero me queimar no teu fogo sincero " ( Brincando com a vida ) .
" Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais ( Como nossos pais ) .
" Meu bem , guarde uma frase pra mim dentro da sua canção, esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão " ( Coração selvagem ).
" Eu tenho medo de abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão " ( Pequeno mapa do tempo ).
" Mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem ( Como nossos pais ).
" Não sou feliz , mas não sou mudo , hoje eu canto muito mais " ( Galos , noites e quintais ).
" Vivia o dia e não o sol , a noite e não a lua " ( Pequeno perfil de um cidadão comum ) .
Belchior : 1946 ( Sobral , Ceará) , 2017 ( Santa Cruz do Sul , Rio Grande do Sul ).
Pode ser uma imagem de 4 pessoas, praia, crepúsculo, oceano e horizonte
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sábado, 25 de maio de 2024

 A Magia do Bolero : Agustín Lara

" Noite de ronda / que triste passa / que triste cruza / por minha sacada / noite de ronda / como me fere / como lastima meu coração / lua que se quebra sobre a obscuridade / de minha solidão/ aonde vais / diz- me se esta noite / tu que vais de ronda /como ela se foi/ com quem estás? / diz - lhe que a quero/ diz - lhe que eu morro/ de tanto esperar / que volte já/ que as rondas / não são boas/ que trazem danos / e dão penas / que se acabam por chorar / diz - lhe que a quero / diz - lhe que eu morro / de tanto esperar/ que volte já/ que as rondas / não são boas / que trazem danos / e dão penas / que se acaba por chorar ".
Composição " Noche de Ronda " , de Agustín Lara , em tradução livre .
" Tão somente uma vez / amei na vida / tão somente uma vez / e nada mais / uma vez, nada mais/ em minha existência brilhou a esperança/ a esperança que alumia o caminho/ de minha solidão/ uma vez , nada mais/ se entrega a alma / com a doce e total renúncia/ e quando esse milagre realiza/ o prodígio de amar - se / há guizos de festas que cantam / no coração " .
Composição " Solamente una Vez " , de Agostin Lara , em tradução livre .
Agustín Lara ( 1896 - 1970 ) , nasceu na cidade do México, e tornou - se cantor , músico, compositor e ator de largos recursos . Difundiu o bolero por todos os cantos da terra . Aos 13 anos de idade iniciou seus trabalhos como pianista na vida noturna de bares e cabarés. Naquele época era comum , sair - se da infância para a fase adulta sem passar pela adolescência. Agostin Lara teceu cerca de 700 canções e atuou em 30 películas cinematográficas.
No rico colar do pecado que envolvia o centro da cidade de Fortaleza , nos anos sessenta do século passado , velhos casarões davam abrigo a " pensões alegres " onde jovens faziam seu " vestibular" nas artes do amor , e os adultos maduros realizavam uma pós - graduação em filosofia do cotidiano e nas travessuras de Baco .
" As Madames " cobriam , gentilmente , " As Meninas " com um verdadeiro banho- de- loja no Bazar das Novidades , e na Loja Cruzeiro , para abrilhantarem as noitadas nas boates :
Monte Carlo ; Império ; City ; Hollywood; Estrela ; Fanny ; Graça ; Naninha ; Fascinação ; e Bar da Alegria .
Ricos e pobres , gregos e troianos , protegidos pelo breu da noite e no completo anonimato mantiveram um mundo de orgia , hoje posto ao rés do chão, dando lugar a estéreis estacionamentos de veículos, num centro da cidade totalmente descaracterizado.
Uma ignomínia profunda !
Pode ser uma ilustração de 1 pessoa e monumento
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quarta-feira, 15 de maio de 2024

 Tempo , Tempo , Tempo

" Consumimos
O melhor tempo da vida a apalpar o terreno , reunir dados , instalar sondas , armar aparelhos, ajuntar material. Tudo para começarmos a viver . Quando se aproxima o dia da prova - que dia ? que prova ? - nossas armas estão caducas , o celeiro apodrecido.
Vem - nos então a revolta contra as extorsões do tempo ; depois , a desconfiança de que fomos logrados .
E não nos
Conformamos em reconhecer que na longa prorrogação com que disfarçamos o nosso medo de viver estava a própria realização de nossa vida .
Viver é o
Mesmo que preparar - se para viver . Se a vida tal como está não vale a pena ; se pode ser mudada e já não esconde a sua necessidade de ser outra - que o seu canto , poeta , lançado no mundo , sirva de fermento a preparar - lhe a transformação e nunca de cimento a consolidar - lhe os erros...
Os que não acumulam
E são os mais ricos
Os que ignoram o espelho
E são os mais belos
Os que não choram e
São tristes
Os que não dançam e
São alegres
Os que são fortes
E nem se lembram
Os que mais parecem
Irmãos das águas,
Dos bichos , árvores e pedras ..."
Aníbal Machado ( 1894 - 1964 ) , professor , ensaísta e contista mineiro .
" Pensar em Deus é desobedecer a Deus , porque Deus quis que não o conhecêssemos, / por isso se nos não mostrou .../ sejamos simples e calmos , / como os regatos e as árvores, / e Deus amar - nos- á fazendo de nós/ belos como as árvores e os regatos , / e dar - nos- á verdor na sua primavera, / e um rio aonde ir ter quando acabemos ! ..."
Alberto Caeiro - Fernando Pessoa ( 1888 - 1935 ).
Pode ser uma imagem de tornado, horizonte, neblina, crepúsculo, nuvem e árvore
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