sábado, 5 de abril de 2025

 São Pedro Abrindo as Torneiras no Meu Ceará 


Para Leila Carvalho 


Não bastasse a noite inteira caindo um pé d'água medonho em Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção , já no meio da manhã de hoje , e nada da carruagem do Rei - Sol passar espargindo ouro pra todo lado . Por favor , irmão - sol , faça uma trégua ! . Aposto - " É prego batido e ponta virada " - que o inverno pegou de vez . Vem logo na lembrança a figura plural do jornalista , advogado , professor , romancista e poeta cearense Jader Carvalho ( 1901 - 1985 ) , uma canora ave de nosso pedregoso, sofrido e amoroso chão sertanejo , riscando mais um brejeiro poema : Chove , Chuva ! 


" Chove , chuva ! 

Chuva , molha o algodoal ! 

Vem molhar , bem molhadinhos , 

Minha cansada fazenda ,

Meu ardente coração !

A água desce do serrote .

A água espuma no riacho .

A água esturra nos lajedos. 

A água se enrosca no açude , 

Depois de apagar estrelas ,

Depois de banhar o gado ,

Depois de tirar meu rastro 

Do terreiro de Maria .

Bastião convida a Zefa !


- Zefa , apaga a lamparina ,

Fecha logo a camarinha :

Cabem dois na mesma rede...

A seca levou irmãos 

Paraná chamou vaqueiros ,

Lavradores e vadios .

E o velho rio do Norte ,


Quer chova , quer faça sol ,

Hipnotiza de longe :

Ah , jiboia dos seiscentos !

A terra , Zefa , não pode ,

Não deve ficar sozinha . 

Bastião , a terra é ótima ,

Talvez a melhor do mundo :

- É bom não perder a chuva !

- Convém plantar um menino ! " .