São Pedro Abrindo as Torneiras no Meu Ceará
Para Leila Carvalho
Não bastasse a noite inteira caindo um pé d'água medonho em Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção , já no meio da manhã de hoje , e nada da carruagem do Rei - Sol passar espargindo ouro pra todo lado . Por favor , irmão - sol , faça uma trégua ! . Aposto - " É prego batido e ponta virada " - que o inverno pegou de vez . Vem logo na lembrança a figura plural do jornalista , advogado , professor , romancista e poeta cearense Jader Carvalho ( 1901 - 1985 ) , uma canora ave de nosso pedregoso, sofrido e amoroso chão sertanejo , riscando mais um brejeiro poema : Chove , Chuva !
" Chove , chuva !
Chuva , molha o algodoal !
Vem molhar , bem molhadinhos ,
Minha cansada fazenda ,
Meu ardente coração !
A água desce do serrote .
A água espuma no riacho .
A água esturra nos lajedos.
A água se enrosca no açude ,
Depois de apagar estrelas ,
Depois de banhar o gado ,
Depois de tirar meu rastro
Do terreiro de Maria .
Bastião convida a Zefa !
- Zefa , apaga a lamparina ,
Fecha logo a camarinha :
Cabem dois na mesma rede...
A seca levou irmãos
Paraná chamou vaqueiros ,
Lavradores e vadios .
E o velho rio do Norte ,
Quer chova , quer faça sol ,
Hipnotiza de longe :
Ah , jiboia dos seiscentos !
A terra , Zefa , não pode ,
Não deve ficar sozinha .
Bastião , a terra é ótima ,
Talvez a melhor do mundo :
- É bom não perder a chuva !
- Convém plantar um menino ! " .