- “De manhã escureço /de dia tardo / de tarde anoiteço / de noite ardo / a oeste a morte / contra quem vivo / do sul cativo / o este é meu norte / outros que contem / passo por passo : / eu morro ontem / nasço amanhã/ onde há espaço / meu tempo é quando“.
Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes (1913–1980) ou simplesmente, Vinicius de Moraes, poeta, diplomata, dramaturgo, jornalista, compositor, cantor, boêmio e amante inveterado. Nestes dois últimos afazeres, prestou serviço com denodo e dedicação exclusiva. Ele defendia: “Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão“.
Excertos de um auto–retrato:
“Dizem–me poeta; diplomata, eu o sou, por concurso; jornalista por prazer; formei-me em Direito, mas sem nunca ter feito prática; as coisas que mais detesto: viagens, gente fiteira, fascistas, racistas, homem avarento ou grosseiro com mulher; as três coisas de que mais gosto: mulher, mulher, mulher; e creio ser essa coisa que chamam de boêmio; gostaria de morrer de repente, não mais que de repente, e se possível, de morte natural“.
“Dizem–me poeta; diplomata, eu o sou, por concurso; jornalista por prazer; formei-me em Direito, mas sem nunca ter feito prática; as coisas que mais detesto: viagens, gente fiteira, fascistas, racistas, homem avarento ou grosseiro com mulher; as três coisas de que mais gosto: mulher, mulher, mulher; e creio ser essa coisa que chamam de boêmio; gostaria de morrer de repente, não mais que de repente, e se possível, de morte natural“.
Vinicius nasceu para a música popular com a Bossa Nova, através de parcerias com Tom Jobim (anos 50 e 60), Baden Powell (anos 60), Carlinhos Lyra (anos 60) e Toquinho (anos 70 e 80). Outros menos votados também se uniram a Vinicius.
Chega de saudade (Vinicius e Tom):
Vai minha tristeza e diz a ela / que sem ela não pode ser / diz-lhe numa prece / que ela regresse / porque eu não posso mais sofrer / chega de saudade / a realidade é que sem ela / não há paz, não há beleza / é só tristeza, e a melancolia que não sai de mim / não sai / mas se ela voltar / se ela voltar, que coisa linda / que coisa louca / pois há menos peixinhos a nadar no mar / do que os beijinhos que eu darei na tua boca / dentro dos meus braços / os abraços hão de ser /milhões de abraços apertados assim/ colado, assim/ calado , assim/ abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim / que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim .
Samba em prelúdio (Vinicius e Baden):
Eu sem você / não tenho porque / porque sem você / não sei nem chorar / sou chama sem luz/ jardim sem luar / luar sem amor / amor sem se dar / eu sem você sou só desamor / um barco sem mar / um campo sem flor / tristeza que vai / tristeza que vem / sem você meu amor não sou ninguém / ai que saudade / que vontade de ver renascer nossa vida / volta , querida / os teus braços precisam dos meus / meus abraços precisam dos teus / estou tão sozinho / tenho os olhos cansados de olhar para o além/ vem ver a vida / sem você, meu amor, eu não sou ninguém.
Em 1968 o famigerado Ato Institucional 5 aposentou compulsoriamente Vinicius, do Ministério das Relações Exteriores. O ex-presidente João Figueiredo, aquele que preferia o cheiro de cavalo ao dos homens, assim explicou a drástica e descortês medida: “Ele até diz que muita gente do Itamaraty foi cassada ou por corrupção ou por pederastia . É verdade , mas no seu caso foi por vagabundagem mesmo. Eu era o chefe da Agência Central do Serviço e recebíamos constantemente informes de que ele, servindo no consulado brasileiro de Montevidéu, ganhando 6000 dólares por mês, não aparecia por lá havia três meses. Checamos a informação e verificamos que ele não saia dos botequins do Rio de Janeiro, tocando violão, se apresentando por aí, com copo de uísque ao lado. Nem pestanejamos. Mandamos brasa“. Assim agiam aqueles falsos deuses do Olimpo pós–64. A brasa da "Redentora” apagou sem lustre e com ela o dito João, mais um João, que quase ninguém sabe mais o que representou para a História. O poetinha continua mais vivo do que nunca, alegrando e consolando corações boêmios, enquanto existirem fossa e dor de cotovelo.
A desesperada busca da mulher ideal e do amor que queime feito brasa, fez o poetinha peregrinar de porta em porta, abrindo corações, rogando mimos e jogando seu charme irresistível para suas musas, que não foram poucas. Ao longo da vida Vinicius se casou, sem exagero, nove vezes:
Beatriz Azevedo Melo, ou simplesmente, Tati, que deu dois filhos ao poeta. Duração do casamento: 12 anos. O Soneto da Fidelidade (excertos) ficou como lembrança deste tempo:
“De tudo ao meu amor serei atento antes / e com tal zelo, e sempre, e tanto / que mesmo em face do maior encanto / dele se encante mais meu pensamento ........ e assim quando mais tarde me procure / quem sabe a morte, angústia de quem vive / quem sabe a solidão, o fim de quem ama / eu possa dizer do amor que tive: que não seja imortal, posto que é chama / mas que seja infinito enquanto dure“.
Ave Maria!
“De tudo ao meu amor serei atento antes / e com tal zelo, e sempre, e tanto / que mesmo em face do maior encanto / dele se encante mais meu pensamento ........ e assim quando mais tarde me procure / quem sabe a morte, angústia de quem vive / quem sabe a solidão, o fim de quem ama / eu possa dizer do amor que tive: que não seja imortal, posto que é chama / mas que seja infinito enquanto dure“.
Ave Maria!
Regina Pederneiras: O casamento, feito em segredo, ainda na vigência do primeiro, durou pouco, dois anos de uma relação corroída de ciúmes e mentiras.
Lila Bôscoli: Uma bela e moderna mulher, bisneta de Chiquinha Gonzaga, que quase destrói o coração de galinha de Vinicius. Conta–se que Lila estava em um bar em Copacabana na companhia de Danuza Leão e do cronista Rubem Braga. Este conhecendo os arroubos de um inveterado amante como Vinicius pressentiu o desastre iminente com a chegada do poetinha. Rubem profetizou: “Esta é Lila Bôscoli, este é Vinicius de Moraes ... e seja o que Deus quiser“. Amor febril ao primeiro copo. Naufragava ali o segundo casamento de Vinicius. A partir de então foram sete anos de um feliz relacionamento, fértil e com duas filhas para perenizar o evento.
Soneto do Amor Total (excertos):
"Amo–te tanto, meu amor / não cante o humano coração com mais verdade ... Amo-te como amigo e como amante / e de ti amar assim,muito e amiúde / é que um dia em teu corpo de repente / hei de morrer de amar mais do que pude“. Ébrio de amor, mas não foi daquela vez que morreu o poetinha.
Soneto do Amor Total (excertos):
"Amo–te tanto, meu amor / não cante o humano coração com mais verdade ... Amo-te como amigo e como amante / e de ti amar assim,muito e amiúde / é que um dia em teu corpo de repente / hei de morrer de amar mais do que pude“. Ébrio de amor, mas não foi daquela vez que morreu o poetinha.
Maria Lúcia Proença: Conheceram–se quando adolescentes e tornaram a se encontrar numa festa vinte anos depois. Foi um amor da maturidade de ambos. Um fruto sazonado com sabor divino. Viveram juntos por cinco anos. Talvez Maria Lúcia tenha sido o grande amor de Vinicius. Refloresceu tanto o lado poético, quanto o lado musical do poetinha. No auge da Bossa Nova dá–se o rompimento da união. Até o final de sua vida Vinicius tenta reatar a relação, sem contudo obter sucesso. Para Maria Lúcia, o poeta rabiscou um mimo especial:
“ Para viver um grande amor / preciso é muita concentração e muito siso / muita seriedade e pouco riso / para viver um grande amor /para viver um grande amor / primeiro é preciso sagrar-se cavaleiro / e ser de sua dama por inteiro / seja lá como for / há que fazer do corpo uma morada/ onde clausure–se a mulher amada /e postar–se de fora como espada / para viver um grande amor / mas tudo isso não adianta nada / se nesta selva obscura e desvairada / não souber achar a bem–amada para viver um grande amor“.
“ Para viver um grande amor / preciso é muita concentração e muito siso / muita seriedade e pouco riso / para viver um grande amor /para viver um grande amor / primeiro é preciso sagrar-se cavaleiro / e ser de sua dama por inteiro / seja lá como for / há que fazer do corpo uma morada/ onde clausure–se a mulher amada /e postar–se de fora como espada / para viver um grande amor / mas tudo isso não adianta nada / se nesta selva obscura e desvairada / não souber achar a bem–amada para viver um grande amor“.
Nelita de Abreu: fugiu com o poeta para a Europa, ela nos seus 19 anos de puro viço. Vinicius por essa época entrou pesado na libação alcoólica e viveu mais um turbulento relacionamento. Duração do romance: cinco anos. Diferença de idade entre os pombinhos: 30 anos! Data desta fase a música “Minha Namorada“:
Se você quer ser minha namorada / ah, que linda namorada, você poderia ser / se quiser ser somente minha, exatamente essa coisinha que ninguém mais pode ser / você tem que me fazer um juramento / de só ter um pensamento, ser só minha até morrer / e também de não perder esse jeitinho de falar devagarinho essas histórias de você ...“.
Se você quer ser minha namorada / ah, que linda namorada, você poderia ser / se quiser ser somente minha, exatamente essa coisinha que ninguém mais pode ser / você tem que me fazer um juramento / de só ter um pensamento, ser só minha até morrer / e também de não perder esse jeitinho de falar devagarinho essas histórias de você ...“.
Cristina Gurjão: era 20 anos mais jovem que Vinicius. Desta relação nasceu mais uma filha do poeta. Quando Cristina se encontrava no quinto mês de gestação, o poetinha se envolve com outra mulher, uma baiana de nome Gesse Gessy. Daí para a separação foi uma passada curta. Mas ficou uma canção de consolo para Cristina: "Quando a luz dos olhos meus / e a luz dos olhos teus / resolvem se encontrar / ai que bom que isso é meu Deus / que frio que me dá / o encontro desse olhar / mas se a luz dos olhos dos olhos teus / resiste aos olhos meus / só pra me provocar / meu amor juro por Deus / me sinto incendiar / meu amor / juro por Deus / que a luz dos olhos meus / já não pode esperar /quero a luz dos olhos meus / na luz dos olhos teus /sem mais lá-ra–lá-ra / pela luz dos olhos teus / eu acho meu amor / que só se pode achar / que a luz dos olhos meus / precisa se casar“.
Gesse Gessy: Fugiu com o poeta para a Bahia. Neste exílio, Vinicius se afastou de muitos amigos e adotou uma postura ultraliberal, vivendo brigas homéricas com a parceira 26 anos mais jovem que ele. O poeta amanhecia com um copo de uísque na mão, as vezes fugindo da baiana, correndo atrás dele com uma vassoura numa mão e um tamanco na outra. Baixaria.
Marta Regina Santa Maria: Vinicius a conhece num show em Punta del Este e viveram juntos por 2 anos.
Gilda de Queirós Mattoso: Quarenta anos mais nova que Vinicius. Ela dizia: “Minhas amigas tinham fotos dos Beatles; eu,do Vinicius“. Ele assim a apresentava aos amigos: “Esta é Gilda, minha viúva“. Dito e feito! Foi a última paixão do poeta antes da jornada derradeira.
Vinicius de Moraes, no dia 9 de julho de 1980, sentiu um mal–estar numa banheira em sua residência. Dali partiria para uma orgia eterna, sem maiores dores físicas, a não ser aquelas oriundas de amores desfeitos. Afora a poesia, a mulher e o inseparável uísque, uma constância na vida de Vinicius foi a impermanência e a solidão. Como sempre, teve que partir sozinho.
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