sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Nada Possuo de Meu


   Caiu-me faz pouco às mãos, o testamento de um homem santo, D. Sebastião Leme (1882–1942), Cardeal Emérito do Rio de Janeiro. Um príncipe da Igreja cheio de pompa e circunstância, um pastor impoluto de um grande rebanho de ovelhas. Exerceu relevante papel nos dias finais da Revolução de 30, quando convenceu o renitente presidente Washington Luís a entregar o poder aos revoltosos, permitindo a ascensão de Getúlio Vargas, o futuro “pai dos pobres“. Adotou para sua passagem entre nós um lema: “COR UNUM IN ANIMA UNA“, ou seja, “Um coração em uma alma“.
   Em seu rico testamento de uma só linha, D. Sebastião afirma, apenas: “Nada possuo de meu“. Que tocante, meu Deus!
   Entendam, dos muitos “príncipes, reis e princesas“ que ora mourejam na nossa atual hilariante política brasileira, dos cândidos pretendentes ao Palácio da Alvorada, das duas centenas de candidatos aos governos estaduais e aos milhares de concorrentes a vagas nas assembleias legislativas, quantos possuem tão simples e rico testamento. Senhores, ponham fé e posso seguramente lhes assegurar: NENHUM. Já sei, “política não se faz com santos“, muitos irão arguir.
   Pois caros amigos, por conta e risco das inúmeras mortes que morri, para todos vocês deixo um modesto testamento, onde constam os seguinte itens:
Barras de ouro puro impregnadas de paz, carinho e benquerença, tudo sob custódia do Banco da Esperança;
Duas paradisíacas ilhas em Shangri-La, no País da Utopia, onde fontes perenes de néctar podem alimentar incontáveis querubins, serafins e ademais, todos vocês.
Tal butim encontra-se devidamente registrado em um cartório instalado nas nuvens onde a felicidade transita em seu perene vagar.
   Tá certo, filhos não contam, mas não esqueci, pois estes são pérolas de um valor infinito, que ajudei a formatar com muito mimo, mas não me pertencem, ai, e sim, somente a Deus e ao mundo.
— se sentindo inspirado com Airton Quintino Farias e outras 49 pessoas.

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