“ Escultura “
Cansado de tanto amar
Eu quis um dia criar
Na minha imaginação
Uma mulher diferente
De olhar e voz envolvente
Que atingisse a perfeição
Comecei a esculturar
No meu sonho singular
Essa mulher fantasia
Dei-lhe a voz de Dulcinéia
A malícia de Frinéia
E a pureza de Maria
Em Gioconda fui buscar
O sorriso e o olhar
Em Du Barry o glamour
E para maior beleza
Dei-lhe o porte de nobreza
De Madame Pompadour
E assim de retalho em retalho
Terminei o meu trabalho
O meu sonho de escultor
E quando cheguei ao fim
Tinha diante de mim
Você , só você , meu amor
Adelino Moreira, compositor de “Escultura “, nasceu na cidade do Porto, em Portugal, em 1918, e migrou com 1 ano de idade para o Brasil. De infância tranquila, cursou até o segundo ano científico do ensino médio. Casou- se cedo, aos 18 anos e aos 20 anos tomou aulas de bandolim e guitarra portuguesa. Foi pródigo na produção de músicas de serestas, ou de dor de cotovelo, como queiram, que foram entregues ao povo por cantores da velha guarda como Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Núbia Lafayette e Ângela Maria. Quem na “bela loira desposada do sol “boêmia dos anos 60 não curtiu uma fossa na boate Alabama, nos restaurantes Estoril e Lido ou na boate Fascinação não tem ideia do que perdeu! Uma mimosa Fortaleza, menina – moça vestida de chita, de pés descalços, acolhendo com carinho seus amantes, onde uma simplória rádio - patrulha, preguiçosamente circulava, caçando uma ocorrência, que quase nunca aparecia.
Principais composições de Adelino Moreira: A
volta do boêmio; Negue; Mariposa; Argumento; Meu vício é você; Fica comigo esta
noite; Deusa do asfalto; A flor do meu bairro e Doidivana. Títulos todos muito
bem sugestivos, por sinal. A musa idealizada por Adelino Moreira, sobrepõe
imagens femininas construindo um inocente arabesco com variadas matizes. O
compositor luso – brasileiro não atingiu a perfeição com sua musa idealizada,
pois a nós ínfimos mortais não nos é dado atingir tais atributos. Mas, claro,
permite – se- nos o devaneio. Vamos agora munidos com o frágil bisturi da paixão,
dissecar, com o merecido respeito, algumas das citadas figuras na música “Escultura“:
Dulcinéia: Uma personagem fictícia da eterna
obra Dom Quixote do célebre Miguel de Cervantes y Saavedra (1547 – 1616).
Representa a dama dos pensamentos do cavaleiro de la Mancha, na realidade uma
rústica moradora de Toboso, na qual D. Quixote se obstina em ver todas as
perfeições físicas e morais. Ela, Dulcinéia, passou a designar a heroína de um
amor ridículo. E ele, D. Quixote, um lunático a perseguir moinhos de vento.
Madame Pompadour: Antonieta Poisson, marquesa
de Pompadour, cortesã preferida de Luís XV, Rei de França (1721 – 1764). O rei
lhe concedeu o título de marquesa em 1745; teve sobre ele uma influência que
duraria até sua morte. Mecenas e amiga de filósofos, favoreceu o
desenvolvimento das artes e das letras.
Du Barry, condessa, Maria Joana Vaubernier Bácu,
cortesã francesa, foi a última favorita de Luís XV, rei de França. Casada com o
conde João Du Barry, instalou – se na corte, onde levou uma vida escandalosa.
Julgada por um tribunal revolucionário, foi decapitada durante o Terror (1743 –
1793).
Gioconda: Nome pelo qual ficou conhecida Monna Lisa,
esposa de Zanobi del Giocondo, retratada em 1500, pelo genial artista italiano
renascentista Leonardo da Vinci (1452– 1519). Obra prima que exibe o mais
enigmático olhar do mundo das artes, fazendo parte do rico acervo do museu do Louvre.
Frinéia: Cortesã grega (século IV a.C) natural
de Téspia (Beócia); filha de pais humildes. Começou como vendedora ambulante de
alcaparras, passando, mais tarde, a tocadora de flauta. Foi a cortesã mais
afamada de Atenas e amante do grande escultor Praxíteles, ao qual serviu de modelo,
para suas imortais esculturas. Frinéia enriqueceu à custa das dádivas de seus
muitos admiradores. Quando da destruição de Tebas, ela propôs sua reconstrução
com recursos próprios, desde que, deixassem inscrita sobre a principal porta da
cidade: “Alexandre destruiu Tebas, Frinéia a reedificou “. A ideia não vingou,
sendo ela voto vencido. Tendo por motivo torpe a inveja, foi acusada de
impiedade num tribunal de Atenas. Seu sagaz defensor, Hipérides, sentindo que
os juízes se mostravam pouco propícios à benevolência, resolve salvar sua constituinte,
simplesmente desnudando–a ali em público. Em presença de tão maravilhosa beleza,
os juízes absolveram, por unanimidade, a bela fêmea. Por ocasião das festas em
honra de Netuno, deus do Mar, que se realizavam em Atenas, ela colocava – se no
ponto mais alto do templo, e, depois de se deixar admirar imóvel pela multidão embevecida,
desnudava- se por completo e dirigia- se para o mar, caindo nos braços de Netuno,
deixando o público extasiado e ébrio.
Saltando
muitos séculos, aqui nos trópicos, abaixo da linha do equador, onde não existe pecado,
numa proporção bem inferior, tivemos a bailarina, naturista e feminista Dora Vivacqua,
conhecida como Luz del Fuego (1917 – 1967) que ateou mais fogo que luz em
muitos inocentes corações caboclos. Mas aí já faz parte de outra estória a ser
posteriormente contada. Ponto final.
Muito bom
ResponderExcluirAmo a musica escutura! Sempre, em meus pensamentos, tomei ela para mim. Entretanto, ao pesquisar dobre as musas citadas no poema da música, percebo que todas são milheres que usaram de sua beleza para galgar posições! Culpa da sociedade de uma epoca? Não creio! Esse compirtamento ainda se replica nos dias atuais! Mas ... não podemos negar q a beleza é importante e se vier emoldurada por perspicácia e doses de interesse, egoismo e baixo pudor na antiguidade bem como nos dias atuais redem titulos e posições!
ResponderExcluirEsse é , lamentavelmente, o poder da mulher !