quinta-feira, 17 de agosto de 2017

DOIS POETAS BISSEXTOS DO CEARÁ



O Estado do Ceará sempre foi um celeiro de bons trabalhadores da palavra escrita, seja na prosa ou na poesia. Pontuam como poetas ditos bissextos, aqueles cuja produção literária a despeito de uma descontinuidade característica, evidencia uma alta qualidade, própria daqueles eleitos pelas musas. Cumpre sinalar, que dentre nós pontuaram  venerandas figuras, como: Fran Martins ( 1913 -1996), Rachel de Queiroz (1910 – 2003), Moreira Campos (1914- 1994), Mozart Soriano Aderaldo (1917- 1995), Pedro Sampaio (1884- 1967), Francisco Alves de Andrade (1913- 2001), Gustavo Barroso (1888- 1959), Papi Junior (1854- 1934) e Demócrito Rocha (1888-1943), dentre outros.

Destaque para dois exímios trabalhadores da palavra e consagrados poetas bissextos:

João Jacques Ferreira Lopes (1910- 1999), jornalista, cronista, pintor e poeta:

“ Paralelo com o abstrato “:

Tu te formaste, ganhando um canudo/eu me formei sem diploma/chegaste de vitória em vitória/ao fim de uma carreira/continuo de queda em queda/no começo de uma andança/tens uma pedra no dedo, e eu, no sapato.../na engenharia, a tua especialidade/ é a arquitetura/na minha profissão indefinida/tenho uma técnica mais indefinida ainda/lidas com o barro, a areia e a cal/a pedra, o cimento e o ferro/meu material é de todo imaterial:/o sonho, a saudade, a tristeza, o amor.../na fôrma de madeira, derramas/o concreto/na forma, ponho o abstrato.../da tua treina e dos teus cálculos/saem colunas, vigas , lajes e/orçamentos, enquanto/eu pago para fazer projetos/lucrando apenas experiência/e quando a morte vier/ela, a destruidora/ela , a igualitária/ela, a cega de guia/não ficarão de teus templos/pedra sobre pedra/ e de minhas catedrais de nuvens/nem os sinos , nem os santos, nem os vitrais.../apenas, sobre nós ambos/cantará/ a colher do pedreiro/a colher do coveiro/construindo a tua última parede/guardando num cofre o último poeta.../


João Clímaco Bezerra (1913- 2006): Jornalista, advogado, romancista e poeta:
“ Cabocla “:
Cabocla das carnes roliças e queimadas/a tua alma é o berço/onde dormem as doces canções da minha terra/por ti soluçam as tristes violas nas várzeas/por ti, canta o sertanejo a sua doce toada de saudades.../cabocla/eu sonho com um homem forte e poderoso/cheio de fé no Brasil/que te vencerá um dia/quando a terra do sertão/ for golpeada de estradas de rodagem/nunca mais ouvirás, cabocla/o sertanejo cantando a sua doce toada de saudades/nem as várzeas cobertas de açudes/escutarão os doces acordes da viola/só o ruído ensurdecedor das máquinas do homem novo/quebrará o doce silêncio da terra sertaneja/que tristeza imensa sentirei nesse futuro/eu morrerei de saudades da cabocla/ e o sertão de saudades da viola/

Crônica tendo como referência a “ Antologia de poetas bissextos do Ceará “, do príncipe Artur Eduardo Benevides (1923-2014) , Revista Clã , número 25, Ano de 1970 .









  


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