ZÉ KETI, A VOZ DO MORRO DESCENDO PRO ASFALTO
“ Eu sou o samba /a voz do morro sou eu mesmo, sim
senhor/quero mostrar ao mundo que tenho valor/eu sou o rei do terreiro/eu sou o
samba/sou natural daqui do Rio de Janeiro/sou eu quem levo a alegria/para milhões
de corações brasileiros /viva o samba, queremos samba/quem está pedindo é a voz
do povo de um país/salve o samba, queremos samba/essa melodia de um Brasil
feliz” A Voz
Do Morro de autoria de
Zé Keti.
José Flores de Jesus (1921- 1999) nasceu em 16 de setembro
de 1921 no estado do Rio de Janeiro. Seu pai, Josué Vale da Cruz era marinheiro
e tocava cavaquinho. Seu avô, João Dionísio Santana, flautista e pianista,
promovia saraus em sua residência em companhia de figuras famosas como
Pixinguinha (1897 – 1973) e Cândido das Neves (1889 – 1934).
O garoto José Flores teve pouco tempo de estudos formais,
cursando apenas o grau primário, mas , em contrapartida, teve a felicidade de
viver cercado de bons músicos. Em 1940, ingressou na Polícia Militar do Rio de
Janeiro onde permaneceu por cerca de três anos. No ano de 1945 passou a
integrar o grupo de compositores da escola de samba Portela, donde cinco anos
depois afastou-se por conta de problemas relacionados a autorias de músicas. No
início da década de 40 compôs sua primeira marcha carnavalesca: “ Se o feio
doesse “. Em 1946 teve uma música (Tio Sam no Samba) gravado pelo conjunto
Vocalistas Tropicais. Em 1951 faz sucesso com um samba “ Amor Passageiro “ na
voz de Linda Batista (1919 – 1988). A música “ A Voz do Morro “ data de 1955
gravada por Jorge Goulart (1926 – 2012).
O garoto José Flores trouxe da infância o apelido de Zé
Quietinho, depois passou a Zé Quieto até, finalmente chegar a Zé Keti.
Em 1962 Zé Keti idealizou um conjunto, chamado A Voz do Morro,
do qual tomaram parte: Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Anescarzinho do
Salgueiro e Nelson Sargento, dentre outros.
Zé Keti pegou a onda gigante da Bossa Nova que foi moldada
com o ritmo de João Gilberto, a poesia de Vinicius de Moraes e a harmonia de
Tom Jobim. Por essa época evocando a “ Marcha com Deus pela Liberdade “,
ocorrida às vésperas do Movimento Militar de 64, Zé Keti lança uma música: “
Marcha da Democracia “:
“ Marchou com Deus pela democracia.
Agora chia, agora chia.
Você perdeu a personalidade.
Agora fala em liberdade.
Oh, seu Oscar, o que é que há?
Ai, ai, ai, dona Aurora
Mas por que é que a senhora chora?
O show musical Opinião sob a direção de Augusto Boal com
textos de Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa e Paulo Pontes, e contando com a
participação de Zé Keti, João do Vale (1934 -1996) e Nara Leão (1942 – 1989), estreia
no Teatro de Arena com retumbante sucesso.
“ Podem me prender/ podem me bater/podem, até deixar-me sem
comer/que eu não mudo de opinião/daqui do morro eu não saio, não/se não tem
água /eu furo um poço/se não tem carne /eu compro um osso/ e ponho na sopa/ e
deixa andar/fale de mim quem quiser falar/aqui eu não pago aluguel/se eu morrer
amanhã, seu doutor/ estou pertinho do céu “ Música Opinião de autoria de Zé Keti.
“ Se alguém perguntar por mim/ diz que fui por aí/levando um
violão debaixo do braço/em qualquer esquina eu paro /em qualquer botequim, eu
entro /e se houver motivo é mais um samba que eu faço/se quiseres saber se eu
volto , diga que sim/mas só depois que a saudade se afastar de mim/eu tenho um
violão para me acompanhar/tenho muitos amigos , eu sou popular/eu tenho a
madrugada como companheira/a saudade me dói , no meu peito me rói/eu estou na
cidade , eu estou na favela/eu estou por aí sempre pensando nela “ Diz que fui por aí , de autoria de Zé Keti .
Em 1967, junto com Hildebrando Matos, Zé Keti lança a marcha
– rancho “ Máscara Negra “ que foi imortalizada por Dalva de Oliveira (1917
-1972):
“ Quanto riso, oh quanta alegria/mais de mil palhaços no
salão/Arlequim está chorando pelo amor da Colombina / no meio da multidão/foi
bom te ver outra vez/tá fazendo um ano /foi no carnaval que passou/eu sou
aquele pierrô/que te abraçou/que te beijou, meu amor/na mesma máscara negra /
que esconde teu rosto/eu quero matar a saudade/vou beijar-te agora/não me leve
a mal/hoje é carnaval “
Nas décadas de 80 e 90, Zé Keti ficou um pouco à margem da
música e passou a apresentar problemas de saúde. Em 14 de novembro de 1999, aos
78 anos de idade falece na cidade do Rio de Janeiro. Desapareceu um autêntico
poeta e boêmio do morro que serviu de elo para unir os poetas e músicos do
asfalto num período importante na formação da Música Popular Brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário