quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

ZÉ KETI, A VOZ DO MORRO DESCENDO PRO ASFALTO


“ Eu sou o samba /a voz do morro sou eu mesmo, sim senhor/quero mostrar ao mundo que tenho valor/eu sou o rei do terreiro/eu sou o samba/sou natural daqui do Rio de Janeiro/sou eu quem levo a alegria/para milhões de corações brasileiros /viva o samba, queremos samba/quem está pedindo é a voz do povo de um país/salve o samba, queremos samba/essa melodia de um Brasil feliz”       A Voz 

Do Morro de autoria de Zé Keti.
José Flores de Jesus (1921- 1999) nasceu em 16 de setembro de 1921 no estado do Rio de Janeiro. Seu pai, Josué Vale da Cruz era marinheiro e tocava cavaquinho. Seu avô, João Dionísio Santana, flautista e pianista, promovia saraus em sua residência em companhia de figuras famosas como Pixinguinha (1897 – 1973) e Cândido das Neves (1889 – 1934).

O garoto José Flores teve pouco tempo de estudos formais, cursando apenas o grau primário, mas , em contrapartida, teve a felicidade de viver cercado de bons músicos. Em 1940, ingressou na Polícia Militar do Rio de Janeiro onde permaneceu por cerca de três anos. No ano de 1945 passou a integrar o grupo de compositores da escola de samba Portela, donde cinco anos depois afastou-se por conta de problemas relacionados a autorias de músicas. No início da década de 40 compôs sua primeira marcha carnavalesca: “ Se o feio doesse “. Em 1946 teve uma música (Tio Sam no Samba) gravado pelo conjunto Vocalistas Tropicais. Em 1951 faz sucesso com um samba “ Amor Passageiro “ na voz de Linda Batista (1919 – 1988). A música “ A Voz do Morro “ data de 1955 gravada por Jorge Goulart (1926 – 2012).

O garoto José Flores trouxe da infância o apelido de Zé Quietinho, depois passou a Zé Quieto até, finalmente chegar a Zé Keti.
Em 1962 Zé Keti idealizou um conjunto, chamado A Voz do Morro, do qual tomaram parte: Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Anescarzinho do Salgueiro e Nelson Sargento, dentre outros.
Zé Keti pegou a onda gigante da Bossa Nova que foi moldada com o ritmo de João Gilberto, a poesia de Vinicius de Moraes e a harmonia de Tom Jobim. Por essa época evocando a “ Marcha com Deus pela Liberdade “, ocorrida às vésperas do Movimento Militar de 64, Zé Keti lança uma música: “ Marcha da Democracia “:

“ Marchou com Deus pela democracia.
Agora chia, agora chia.
Você perdeu a personalidade.
Agora fala em liberdade.
Oh, seu Oscar, o que é que há?
Ai, ai, ai, dona Aurora
Mas por que é que a senhora chora?

O show musical Opinião sob a direção de Augusto Boal com textos de Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa e Paulo Pontes, e contando com a participação de Zé Keti, João do Vale (1934 -1996) e Nara Leão (1942 – 1989), estreia no Teatro de Arena com retumbante sucesso.
“ Podem me prender/ podem me bater/podem, até deixar-me sem comer/que eu não mudo de opinião/daqui do morro eu não saio, não/se não tem água /eu furo um poço/se não tem carne /eu compro um osso/ e ponho na sopa/ e deixa andar/fale de mim quem quiser falar/aqui eu não pago aluguel/se eu morrer amanhã, seu doutor/ estou pertinho do céu “       Música Opinião de autoria de Zé Keti.

“ Se alguém perguntar por mim/ diz que fui por aí/levando um violão debaixo do braço/em qualquer esquina eu paro /em qualquer botequim, eu entro /e se houver motivo é mais um samba que eu faço/se quiseres saber se eu volto , diga que sim/mas só depois que a saudade se afastar de mim/eu tenho um violão para me acompanhar/tenho muitos amigos , eu sou popular/eu tenho a madrugada como companheira/a saudade me dói , no meu peito me rói/eu estou na cidade , eu estou na favela/eu estou por aí sempre pensando nela “   Diz que fui por aí , de autoria de Zé Keti .
Em 1967, junto com Hildebrando Matos, Zé Keti lança a marcha – rancho “ Máscara Negra “ que foi imortalizada por Dalva de Oliveira (1917 -1972):

“ Quanto riso, oh quanta alegria/mais de mil palhaços no salão/Arlequim está chorando pelo amor da Colombina / no meio da multidão/foi bom te ver outra vez/tá fazendo um ano /foi no carnaval que passou/eu sou aquele pierrô/que te abraçou/que te beijou, meu amor/na mesma máscara negra / que esconde teu rosto/eu quero matar a saudade/vou beijar-te agora/não me leve a mal/hoje é carnaval “    

Nas décadas de 80 e 90, Zé Keti ficou um pouco à margem da música e passou a apresentar problemas de saúde. Em 14 de novembro de 1999, aos 78 anos de idade falece na cidade do Rio de Janeiro. Desapareceu um autêntico poeta e boêmio do morro que serviu de elo para unir os poetas e músicos do asfalto num período importante na formação da Música Popular Brasileira.





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