domingo, 31 de dezembro de 2017

O momento mais importante é sempre o presente; a pessoa mais importante é a que está frente a ti; a tarefa mais importante é sempre o amor ( Mestre Eckhardt - século XIII ).
É simples assim, não deixar o tempo fugir por entre os dedos e saborear, sôfrego, o néctar da vida , posto que , amanhã a lua poderá em vão nos procurar. 
Carpe Diem! Viva 2018 !



A derradeira Lua do ano , afoita "pegando bochecha " na carruagem do Sol. Rei e Rainha de mãos dadas curtindo os últimos momentos desse 2017.
" Em meio a um cristal de ecos/o poeta vai pela rua/seu olhos verdes de éter /abrem cavernas na lua/a lua volta de flanco/eriçada de luxúria /o poeta , aloucado e branco/palpa as nádegas da lua/entre as esferas nitentes /tremeluzem pelos fulvos /o poeta, de olhar dormente / entreabre o pente da lua/entre frouxos de luz e água /palpita a ferida crua/o poeta todo se lava/de palidez e doçura /ardente e desesperada / a lua vira em decúbito /a vinda lenta do espasmo /aguça as pontas da lua/o poeta afaga -lhe os braços /e o ventre que se menstrua /a lua se curva em arco/num delírio de volúpia /o gozo aumenta de súbito /em frêmitos que perduram /a lua vira o outro quarto /e fica de frente, nua/o orgasmo desce do espaço /desfeito em estrelas e nuvens/nos ventos do mar perpassa/um salso cheiro de lua/e a lua, no êxtase cresce /se dilata e alteia e estua /o poeta se deixa em prece/ante a beleza da lua /depois a lua adormece/e míngua e se apazigua. ./o poeta desaparece/envolto em cantos e plumas/enquanto a noite enlouquece/no seu claustro de ciúmes " 
O poeta e a lua , de autoria de Vinicius de Moraes (1913-1980).

terça-feira, 26 de dezembro de 2017



Sábado de chuva no Porto das Dunas apreciando os contornos de dois belos seios esculpidos por mãos divinas , que logo mais mudarão de lugar :


"Quando você for se embora/moça branca como a neve/me leve/se acaso você não possa/me carregar pela mão /menina branca de neve/me leve no coração /se no coração não possa/por acaso me levar/moça de sonho e de neve/me leve no seu lembrar/e se aí também não possa/por tanta coisa que leve/já viva em seu pensamento /menina branca de neve/me leve no esquecimento " (Cantiga para não morrer, de Ferreira Gullar )


Tempo bonito de chover neste domingo no meu Ceará! 


"Nem uma nuvem pelo céu !/e os olhos ansiosos do caboclo/lera, na impassibilidade do infinito /o terrível destino do cearense !/chupou no cachimbo longamente/e, depois, lá se foi/pela estrada poeirenta / assobiando qualquer coisa que dizia - esperança /mas, noutra manhã ao despertar / o sertanejo escutou/ de sua rede de algodão / a polêmica dos sapos na lagoa/a cantiga da chuva nos caminhos/e o choro alegre dos rios nos grotões. ../e quando, da porta de sua casa pobre/- para mim muito mais rica que um templo !-/ele viu a vegetação ressuscitando /ele as árvores engalanadas de folhas verdes/pôs a enxada no ombro /beijou o filho e a esposa /e seguiu para a roça, alegremente /a cantar qualquer coisa que dizia- felicidade! /
(A terra molhada pela chuva tinha o cheiro das mulheres do sertão. ..)
Poema "Quando começou o inverno" de autoria do cearense de Lavras da Mangabeira, Filgueiras Lima (1909-1965 )

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A dimensão metafísica do tempo , que como as águas dos rios e dos mares, nos escapa por entre os dedos, reforça a verdade dos filósofos Parmenides
 ( imobilidade ) e Heráclito de Éfeso
 ( movimento ).
No poema "Arte poética " do argentino Jorge Luis Borges (1899-1986 ) celebra - se a fluidez do tempo em sua infinita passagem pelo universo.
" Olhar o rio feito de tempo e água /e recordar que o tempo é outro rio /saber que nos perdemos como o rio/e que os rostos passam como a água /sentir que a vigília é outro sono/que sonha não sonhar e que a morte/que a nossa carne teme é essa morte/de cada noite que se chama sono/ver no dia ou no ano um símbolo /dos dias do homem e dos seus anos/converter o ultraje dos anos/numa música, um rumor e um símbolo /ver na morte o sono, no ocaso/um triste ouro, assim é a poesia /que é imortal e pobre/a poesia volta como a aurora e o ocaso/às vezes, certas tardes, uma cara/fita -nos do fundo de um espelho /a arte deve ser como esse espelho /que nos revela a nossa própria cara/contam que Ulisses, farto de prodígios /chorou de amor ao divisar a sua Itaca / verde e humilde. A arte é essa Itaca / de verde eternidade, não de prodígios /também é como o rio interminável / que passa e pára e é cristal de um mesmo /Heráclito inconstante, que é o mesmo /e é outro, como um rio interminável "


quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Sobre Três Relacionamentos


Montaigne (1533- 1592) compara três relacionamentos : com as mulheres ; as amizades, raras e refinadas; e por fim, os livros , que considera os mais salutares de todos.
" Esses dois relacionamentos ( as mulheres e as amizades) são fortuitos e dependentes de outrem. Um é difícil por sua raridade, o outro murcha com a idade. O terceiro, dos livros, é muito mais seguro e nosso. Este ( o livro ) me acompanha em todo meu percurso e me assiste em tudo. Consola - me na velhice e na solidão; alivia - me do peso de uma ociosidade tediosa; desembaraça - me a qualquer momento das companhias que me desagradam; embota os aguilhões da dor, se não for extrema e dominante. Para distrair - me de uma fantasia importuna, basta recorrer aos livros; eles facilmente me desviam para si e subtraem -na de mim. E além disso, não se rebelam por ver que só os procuro na falta daquelas outras satisfações, mais reais, mais vivas e naturais; recebem -me sempre com a mesma fisionomia. 
Os livros são presenças sempre benevolentes, dotadas de equanimidade, ao passo que os amigos e as amantes sofrem variações de humor "

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O BURRO COM PELE DE LEÃO, VERSÃO 2017




Um burro velho e decadente, deu por conta de uma lustrosa pele de leão, à sua frente, com a qual logo cobriu seu pegajoso corpo, num disfarce quase prefeito.

“- Agora sim, hão de me respeitar, doravante, como um verdadeiro líder.”

Ledo engano, posto que, o animal ao invés de rugir, apenas zurrou e, assim evidenciou-se a fraude, além do que, a ponta da orelha do burro ficou descoberta fora da pele do leão. Ali mesmo, incontinenti, o falso leão sofreu, merecidamente, um severo castigo a pauladas.

Moral da história: Quantos se cobrem com pele de leão, e deixam, inadvertidamente, a orelha de burro de fora, denunciando o malogro.

Em Pindorama, com eleições previstas para 2018, putrefatos partidos políticos, corroídos por suprema corrupção, de forma soez, tentam mudar suas siglas de identificação, colocando uma capa nova, uma falsa pele de leão, porém não mexendo uma palha sequer na sua malévola essência. Cabe ao cidadão consciente, identificar estes muares, aplicando-lhes uma bela sova nas urnas, o último bastião da democracia, como legítima forma de tirar Pindorama da beira do  fatal precipício.

Acorda, Pindorama!




segunda-feira, 18 de dezembro de 2017


Fim da tarde de sábado na Praça Rogério Froes em Fortaleza, na saudável companhia de Mário Quintana (1906- 1994):

"A vida é um incêndio : nela dançamos, salamandras mágicas. Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta? Em meio aos toros que desabam , cantemos a canção das chamas ! Cantemos a canção da vida, na própria luz consumida "

( Inscrição para uma lareira ).

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

ODE A UMA URNA GREGA




Tua ainda inviolada Noiva do Silêncio/filha adotiva do Sossego e da Lentidão/silvestre historiadora, que exprimir consegues/um enredo floral mais doce que este canto/que lenda engrinaldada em teu redor perpassa/tecida de deidades ou mortais, ou de ambos/junto ao vale de Tempe ou nos vergéis de Arcádia? /que homens ou deuses são? Que virgens relutantes? / que afoito perseguir? que luta na escapada/ que pífanos e adufes? Que êxtase bravio?/É doce ouvir a melodia, inda mais doce/a que não foi ouvida; assim , ó suaves flautas/plangei/não para o ouvido sensorial, mais caras/tocai para a nossa alma as músicas sem som: ó jovem sob as árvores, soltarás/jamais teu canto e nem os ramos suas folhas/ousado amante, nunca, nunca hás de beijar/embora rente de teu alvo- não lamentes;/ela ficará, e embora sem fruí-la/amarás para sempre essa beleza eterna!/ditosos ramos, sim, ditosos porque nunca/ireis secar, nem dar adeus à Primavera/e tu afortunado melodista, insone/hás de entoar canções eternamente novas/amor, feliz amor! Feliz mais do que tudo!/sempre ardente e no entanto sempre indesfrutado/sempre à beira da entrega e sendo sempre jovem/ a exultar de paixão humana e transcendente/que deixa o coração amargurado e opresso/ as têmporas em fogo e a boca ressequida/quem estes que chegando estão para o holocausto?/a víride altar, ó sacerdote ignoto/conduzes um novilho para os céus mugindo/e o suave flanco inteiro de festões ornado?/que povo ribeirinho ou junto ao mar que aldeia/no monte que casal, tal um bastão tranquilo/vazio despertou nesta manhã piedosa?/ah! Vilarejo, as tuas ruas para sempre/desertas estarão; viv’alma por dizer/de tal desolação há de tornar jamais/ Ática forma! Sóbria atitude! em guirlandas de mármore/ donzelas e varões enleias/ com ramos da floresta e joio espezinhado/tu, forma silenciosa, abala-nos a mente/que qual a eternidade: ó fria Pastoral! quando esta geração o tempo houver tragado/tu permanecerás em meio de outras queixas/amiga do homem, a quem dirás: “a beleza é verdade, a verdade beleza” - isto é tudo/ que sabemos na terra e que importa saber.

John Keats (1795-1821), poeta, um dos maiores nomes da segunda geração romântica da Inglaterra. Em sua rápida jornada terreal (25 anos), tragado foi pela Peste Branca, deixando, contudo, marcas indeléveis na arte poética. “Ode a uma Urna Grega”, enigmática em algumas passagens, mostra a influência sofrida de bardos gregos da época de Homero.

Que brutal contraste com certa “Arte Brasileira” de hoje, incentivada em canhestros meios universitários beirando a grosseria e a pusilanimidade, típicas de espíritos parvos!



segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

TEMPO, TEMPO, TEMPO






A passos lentos o ano de 2017 se arrasta rumo ao ocaso. Tempo de parar para uma breve reflexão:

“Consumimos o melhor tempo da vida a apalpar o terreno, reunir dados, instalar sondas, armar os aparelhos, ajuntar material. Tudo para começarmos a viver. Quando se aproxima o dia da prova- que dia? que prova? – nossas armas estão caducas, o celeiro apodrecido. Vem-nos então a revolta contra as extorsões do tempo; depois, a desconfiança de que fomos logrados.

E não nos conformamos em reconhecer que na longa prorrogação com que disfarçamos o nosso medo de viver estava a própria realização de nossa vida.

Viver é o mesmo que preparar-se para viver. Se a vida tal como está não vale a pena; se pode ser mudada e já não esconde a sua necessidade de ser outra – que o seu canto, poeta, lançado ao mundo, sirva de fermento a preparar-lhe a transformação e nunca de cimento a consolidar- lhe os erros...

Os que não acumulam

E são os mais ricos

Os que ignoram o espelho

E são os mais belos

Os que não choram e são tristes

Os que não dançam e são alegres

Os que são fortes e nem se lembram

Os que mais parecem irmãos

Das águas, bichos, árvores e pedras...  (Aníbal M. Machado – 1894- 1964- , professor, ensaísta e contista mineiro)

Se achegue, 2018, me dê o seu ombro e vamos passear quando raiar a madrugada !




Pensar em Deus é desobedecer a Deus, porque Deus quis que o não conhecêssemos, /por isso se nos não mostrou.../sejamos simples e calmos, / como os regatos e as árvores, /e Deus amar-nos-á fazendo de nós /belos como as árvores e os regatos, / e dar-nos-á verdor na sua primavera, /e um rio aonde ir ter quando acabemos! ...(Alberto Caeiro - Fernando Pessoa ).
Embocadura do Rio Pacoti no Porto das Dunas.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O CONLUIO DE RATAZANAS





Numa prévia para o ano eleitoral de 2018 o Ceará escancara na mídia o conluio de três ratazanas com os afiados dentes e mostrando um largo sorriso, esquecidos das querelas antigas vividas por essas pobres criaturas que até pouco tempo se devoravam. Coisas da política tacanha tupiniquim. O triste Ceará, uma vez mais a perder o bonde da história na mão de insaciáveis coronéis eletrônicos.

Saudade de João Brígido dos Santos (1829- 1921), jornalista, cronista, historiador e político com sua pungente crônica datada de 1903: “O Ferreiro da Maldição”:


“O Ceará é o ferreiro maldito, de quem fala a lenda popular: quando tem ferro falta carvão. É nadador contra a corrente, que nunca chega; o caranguejo que anda e desanda; o eco a repetir a pergunta sem lhe dar resposta; o nó sem ponta; o sonho que promete em sombras que não se distinguem bem, a vaga esperança, enfim, para a qual nunca chega o dia.

Há cem anos, um povo gigante, a mover-se, não adianta um passo, como frágil esquife sobre as ondas, que a corrente impele, e o vento faz recuar. Não lhe falta a alma. São os deuses, que a condenam à pena de Tântalo – morrer de sede à beira do regato. Os diretores mentais do Ceará morreram ou foram longe procurar um teatro para exibição de sua intelectualidade; e crestam na penúria os rebentos da capacidade cearense a disputarem um pouco de ar que aliás lhe mata o estímulo; o ar mefítico das baixas regiões oficiais...


Que seja para os netos de nossos netos, não importa. O mundo não é tão curto, que acabe em nós; e cem anos, na ordem dos tempos é muito menos de um til nos lábios”

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Na Lua Cheia com Hermann Hesse




O homem, tal como Deus o pensou e ao longo de vários milênios o tem entendido a poesia e a sabedoria dos povos, foi criado com a capacidade de se deleitar com as coisas, ainda que estas não lhe sejam úteis. E é também dotado de um órgão para perceber o belo. Na alegria da contemplação do belo, tomam sempre parte por igual a alma e os sentidos. E enquanto forem os homens capazes de, em meio aos tormentos e perigos da vida, alegrar - se, por exemplo, ante o jogo das cores da natureza ou diante de um quadro; ante um apelo das vozes da tempestade, do mar, ou de uma música; enquanto, por trás do envoltório dos interesses e necessidades cotidianas, puderem ver ou sentir o mundo como um todo no qual , desde os meneios de um gato que brinca com um novelo até as variações de uma sonata; desde o comovente olhar de um cão até a tragédia de um poeta, tudo forma um vasto reino com miríades de relações, contrastes, analogias e reverberações, dos quais uma linguagem eternamente em fluxo retira e transmite aos ouvintes alegria e sabedoria, prazer e emoção - enquanto isso houver, poderá o homem assenhorear -se de sua própria angústia existencial e atribuir sempre algum sentido à vida, pois o "sentido" é quem reduz o múltiplo à unidade : ele é a capacidade que tem o espírito humano de conceber o caos do universo como autêntica unidade e harmonia. ( Hermann Hesse - 1877- 1962).
 — em Praia Porto das Dunas.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

BRASIL 1918 – O ANO DO JECA TATU




1918: O intimorato Monteiro Lobato (1882-1948), alcança retumbante êxito com um livro de contos “Urupês”, ambientado numa fazenda de café em São Paulo onde sobressai a famélica figura do caipira, o Jeca Tatu, cujos males decorrem da falta de saúde, instrução e de assistência: “Perdoa, pois, pobre opilado e crê no que te digo ao ouvido: tens no sangue e nas tripas todo um jardim zoológico...és tudo isto sem tirar uma vírgula, mas ainda és a melhor coisa desta terra. Os outros, os que falam francês e, senhores de tudo, te mantêm nesta gueena infernal para que possam, a seu salvo, viver vida folgada à custa de teu dolorido trabalho, esses, meu caro Jeca Tatu, esses têm na alma todas as verminoses que tu tens no corpo. Doente por doente, antes tu, doente só de corpo.”

Belisário Penna (1868-1939), médico sanitarista brasileiro, publica Saneamento do Brasil, uma coletânea de artigos de jornal, esforçando-se em vão para criar uma consciência sanitária na classe médica brasileira. Denuncia as doenças generalizadas e o alcoolismo como responsáveis pela apregoada indolência e incapacidade dos brasileiros. Mas denuncia, também, a indiferença e irresponsabilidade dos governos. Chega a pedir para o povo brasileiro o cuidado com a saúde e a alimentação e para com o apuro da raça que se dá ao boi e ao parco. Propõe, ainda, uma taxa de saúde a ser aplicada sobre os duzentos e cinquenta milhões de litros de cachaça que se consomem anualmente. Assevera:- Somos o país da vida mais cara e de menores salários do mundo.

Mário de Andrade (1893-1945), dá a primeira mostra de que nasceu diferente, com um artigo em defesa da preguiça na história.

Excertos retirados do livro Aos Trancos e Barrancos, de autoria do irrequieto político, intelectual, antropólogo, comunista, escritor e ateu Darcy Ribeiro (1922-1997), publicado em 1985 pela Editora Guanabara.

De 1918 para cá surgiram no horizonte da saúde pública brasileira, novas mazelas a perseguirem “jecas turbinados com bolsas do governo”, ainda, infelizmente, abrigando nas tripas um verdadeiro jardim zoológico, num Brasil pontuado por 

“Áfricas e Europas” assistidos por muitos “maus médicos”, sem diplomas. Uma medicina, onde convivem, lado a lado, a exuberância tecnológica e a falta de humanidade na assistência ao enfermo. Quanto à preguiça defendida por Mário Andrade, esta fincou as garras nos arraiais do governo, onde pouco se obra e muito se rapina.

Mais um século perdido, pelo gigante país do futuro, oxente!

quinta-feira, 30 de novembro de 2017


Compartilhando esta bela mensagem sobre a nobre Língua Portuguesa ,enviada pelos doutores                                                      
                                         Francisco Ramos e Eurípedes Chaves: 


*100 anos da vírgula*


Muito legal a campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)!
*A vírgula pode ser uma pausa... ou não:*

Não, espere.
Não espere.
*Ela pode sumir com seu dinheiro:*
R$ 23,4.
R$ 2,34.
*Pode criar heróis:*
Isso só, ele resolve!
Isso, só ele resolve!
*Ela pode ser a solução:*
Vamos perder, nada foi resolvido!
Vamos perder nada, foi resolvido!
*A vírgula muda uma opinião:*
Não queremos saber!
Não, queremos saber!
*A vírgula pode condenar ou salvar:*
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!
*Uma vírgula muda tudo!*
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.
Considerações adicionais:
*SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA*.
* Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de *MULHER*.
* Se você for homem, colocou a vírgula depois de *TEM*.
😂😂😃
👍🙋‍♂😉
*Moral da história*:
A vida pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que fazemos a pontuação!
*Pontue sua vida com o que realmente importa*.
Isso faz toda a diferença!
Compartilhem esta mensagem como um presente de Português!
🙄😳🤔😝😝👍

quarta-feira, 29 de novembro de 2017



UMA TÁBUA DE SALVAÇÃO
Para o Dr. Eduardo Augusto Almeida Prado




“A vida é o dia de hoje/a vida é um ai que mal soa/a vida é sombra que foge/a vida é nuvem que voa/a vida é sonho tão leve/que se desfaz como a neve/e como o fumo se esvai/a vida dura um momento/mais leve que o pensamento/a vida leva-a o vento/a vida é flor na corrente/a vida é sopro suave/a vida é estrela cadente/voa mais leve que a ave/nuvem que o vento nos ares/onda que o vento nos mares/uma após outra lançou/a vida- pena caída/da asa de ave ferida-/de vale em vale impelida/a vida o vento a levou”
Poema de autoria de João de Deus Ramos (1830- 1895) nascido em Algarve, Portugal.
Um octogenário ateu, boêmio e “rapaz velho” sentindo chegar a sua hora de encarar a velha Parca, em seu casebre no Arraial Moura Brasil, ali próximo à Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, pediu socorro a um esculápio, antigo companheiro nas libações de Baco e de Vênus.
“– Doutor, quando eu fechar os olhos para este mundo, o que me aguarda do outro lado, se é que existe este outro lado? E não me venha passar um sermão, por favor!”
O filho de Hipócrates, agnóstico, não podia deixar o amigo na chuva, mesmo que às custas de sofismas.
“- Meu companheiro, para oitenta-janeiros bem vividos, a safra foi razoável, compartilhamos, quase que integralmente, com nossos irmãos de estrada terreal as Sete Virtudes Capitais: humildade, caridade, paciência, diligência, generosidade, temperança e castidade. Compreender o universo, diz Spinoza é estar libertado dele. Compreender tudo, é estar livre de tudo. Somos escravos de tudo o que ignoramos- somos livres de tudo o que sabemos. Confie em mim. A eternidade que lhe aguarda vai ser uma festa gozosa junto a amigos e amigas, longe da irascível ampulheta do tempo, entendeu?”
“-Entendi e vou fazer força para acreditar, mas me explique porque nunca ninguém me alertou para isso antes? E o que vai ser de mim sem a companhia das morenas fogosas do Passeio Público, da Praça da Estação , da Praça dos Leões e do Curral?
O velho boêmio puxando profundamente o ar, cerrou os olhos, mansamente, com um leve sorriso nos lábios, segurando a mão firme do doutor, ambos sem resposta pronta e definitiva para o grande mistério do além!
“Deixo os versos que escrevi/as cantigas que cantei/cinco ou seis coisas que eu sei/e um milhão que esqueci/deixo este mundo daqui/selva com lei de cassino/vou renascer num menino/num país além do mar... / licença, que eu vou rodar/no carrossel do destino/enquanto eu puder viver/tudo o que o coração sente/o mundo estará presente/ passando sem resistir/na hora que eu for partir/para as nuvens do divino/que a viola seja o sino/tocando pra me guiar/licença, que eu vou rodar/no carrossel do destino/ romances e epopeias/me pedindo pra brotar/e eu tangendo devagar/a boiada das ideias/sempre em busca das colmeias/onde brota o mel mais fino/e um só verso, pequenino/mas que mereça ficar/licença, que eu vou rodar no carrossel do destino”
Carrossel do Destino, composição de Antônio Nóbrega e Bráulio Tavares.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

PRÉ-CARNAVAL DE 1968 COM UMA BALZAQUIANA




A Praça do Ferreira, mimosa, regurgitava de gente naquela noite quente de fevereiro de 1968 para viver um pré-carnaval com a apresentação de um desfile dos maracatus – Ás de Ouro; Ás de Espadas; Ás de Paus, e, Leão Coroado. Um jovem de dezoito anos, fizera a trilha a pé desde sua residência na Rua Domingos Olímpio até o centro da cidade para ver o rodopio de derviches daquelas negras baianas exibindo seus vestidos rendados, carregando um cesto de frutas à cabeça, com um sorriso Colgate nos cheios lábios escarlates e modulando um canto dolente:

“Eu vou, eu vou e você não vai apanhar macaúba no meu balaio; apanhar macaúba no meu balaio, eu vou, eu vou e você não vai”, ao compasso de robustos triângulos e de bumbos gigantescos.

Quando o jovem deu por si, um braço fofo já envolvia amorosamente sua cintura. Era de uma senhora madura, digamos, uma moldura balzaquiana, de olhar faiscante e negro, de seios pétreos a lhes cutucar as entranhas e exalando um inocente sorriso. O jovem em apreço que há pouco colocara os pés nos caminhos da maturidade cronológica no dia dos reis, gostou daquele amplexo morno e quieto. Nenhuma palavra fora trocada por ambos. Aquela flecha do Cupido surgida do nada carimbara o pescoço do perplexo moço casmurro com um cheiro, e não, com um beijo, para lá de gostoso, deflagrando na hora uma ereção imediata dos pelos numa faísca gostosa a percorrer todo o corpo do jovem boquiaberto.

“Não quero broto/não quero, não quero, não/não sou garoto para viver só de ilusão/sete dias na semana/eu preciso ver minha balzaquiana/o francês sabe escolher/por isso ele não quer qualquer mulher/papai Balzac já dizia/Paris inteiro respondia/Balzac acertou na pinta/mulher só depois dos trinta” Composição Balzaquiana da autoria de Nássara e Wilson Batista.

Até aquela oportunidade o imberbe jovem batera bola nos jogos preliminares nas incertezas do amor com gentis domésticas do seu bairro e adjacências.

“- E aí, bonitão, com esta pinta de” rabo de burro”, você faz o que na vida? perguntou a novel parceira.



“- Estou iniciando um curso longo para aprender a pastorear almas por esse mundo afora” respondeu meio sem graça o assustado mancebo, com um gostinho de quero mais nos lábios.

“- Pois eu sou uma viúva de marido vivo, perdida num túnel escuro e frio, desamparada nas artimanhas do amor”

Outros encontros furtivos aconteceram entre os dois pombinhos até que um dia aquela criatura agradável sumiu da mesma maneira que chegou, sem ver nem para que, engolida pelo breu da noite. O aprendiz de pastor passou por maus bocados em noites insones, inquieto com febre interna, quase um alucinado naquela carência de um colo morno, aconchegante e maduro. Certa feita aquele pastor de almas passou na frente da casa da balzaquiana e viu com pesar uma placa indicando “Aluga-se este imóvel”. Uma vizinha que varria a calçada falou para o moço que disse, blefando, de seu interesse naquele negócio. A inquilina partira, de súbito, às caladas da noite, carregada à força pelo marido, que fugira da Cadeia Pública onde cumpria pena de doze anos por ter degolado um amante daquela bela senhora, sua digníssima esposa. Dizem que o casal partira para a Amazônia em busca de paz e de ouro nos garimpos daquelas distantes paragens.

O jovem aprendiz de pastor, saiu de fininho, alisando suavemente o pescoço, prometendo jogar flechas de cupido em alvos mais maneiros, inocentes e descompromissados, para juntos beberem do néctar da vida, a simples partilha do amor e despetalando rosas, de preferência, com poucos espinhos.

“De tanto levar flechada de teu olhar/meu peito, agora/parece sabe o que/ tábua de tiro ao alvo/não tem mais onde furar/teu olhar mata mais/ que bala de carabina/que veneno estricnina/que peixeira de baiano/teu olhar mata mais que atropelamento de automóvel / mata mais que bala de revolver” Composição Tiro ao Álvaro da autoria de Adoniran Barbosa.


“Eu guardo em mim/dois corações/um que é do mar/um das paixões/um canto doce/um cheiro de temporal/eu guardo em mim/um deus, um louco, um santo/um bem, um mal/eu guardo em mim/tantas canções/de tanto mar/tantas manhãs/encanto doce/o cheiro de um vendaval/guardo em mim/o deus, o louco, o santo/o bem, o mal” Composição O Bem e o Mal da autoria de Danilo Caymmi.


domingo, 19 de novembro de 2017

CONJUGAÇÃO DO VERBO RAPIO
Para o polígrafo Eurípedes Chaves Junior




“Encomendou   el-rei D. João, o terceiro, a São Francisco Xavier, o informasse do estado da Índia por via de seu companheiro, que era mestre do príncipe; e o que o santo escreveu de lá, sem nomear ofícios nem pessoas, foi que o verbo rapio na Índia se conjugava por todos os modos.

Conjugam por todos os modos o verbo rapio, porque furtam por todos os modos da arte, não falando em outros novos e esquisitos, que nem conhecem Donato nem Despautério.

Tanto que lá chegam, começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos, é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo. Furtam pelo modo imperativo, porque, como tem o mero e misto império, todo ele, aplicam despoticamente às execuções na rapina. Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quando lhes mandam: e, para que mandem, todos os que não mandam não são aceitos. Furtam pelo modo optativo, porque desejam quanto lhes parece bem; e, gabando as cousas desejadas aos donos delas, por cortesia sem vontade as fazem suas. Furtam pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco cabedal com o daqueles que manejam; e basta só que ajuntem a sua graça, para serem quanto menos meeiros na ganância. Furtam pelo modo potencial, porque sem pretexto nem cerimônia usam da potência. Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes compram as permissões. Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre já deixam raízes, em que se vão continuando os furtos. Estes mesmos modos conjugam por todas as pessoas, porque a primeira pessoa do verbo é a sua; as segundas, os seus criados; e as terceiras, quantas para isso tem indústria e consciência. Furtam juntamente por todos os tempos; porque do presente, que é o seu tempo, colhem quanto dá de si o triênio; e, para incluírem no presente o pretérito e o futuro, do pretérito desenterram crimes que de que vendem os perdões, e dívidas esquecidas, de que se pagam inteiramente; e do futuro empenham as rendas e antecipam os contratos, com que tudo o caído e não caído lhes vem a cair nas mãos. Finalmente, nos mesmos tempos não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, mais que perfeitos, e quaisquer outros; porque, furtam, furtaram, furtavam, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse. Em suma, que o resumo de toda essa rapante conjugação vem ser o supino do mesmo verbo: a furtar, para furtar. E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles, como se tiveram feito grandes serviços, tornam carregados de despojos e ricos; e elas ficam roubadas e consumidas.”  (Vieira, Sermões, Tomo III, pag. 344.)


P.S.: Crônica do padre Antônio Vieira sobre a Índia de antanho, mas que cabe como uma luva, nos dias hodiernos para um” gigante adormecido” sufocado por um cancro avassalador corroendo suas entranhas, incluindo os três podres poderes pátrios!


Antônio Vieira, padre da Companhia de Jesus (Lisboa, 1608-1697) foi exímio pregador, notável epistológrafo e autor de opúsculos de menor valia. Como orador sagrado atingiu universal nomeada, e aos brasileiros simpaticamente se recomenda como propugnador da liberdade dos índios, e eloquente adversário da invasão holandesa. Envolvido nos interesses políticos da época, prestou relevantes serviços à sua pátria. Viveu largos anos no Brasil, e em Roma pregou perante o sumo pontífice Clemente X. Em sua trabalhosa existência, duas vezes provou as agruras do cárcere: no Maranhão, onde foi preso pelos sectários da escravidão dos indígenas e remetido para o Reino; e pela inquisição que levara a mal certas arriscadas proposições do Quinto Império.

Posto que pague copioso tributo ao imoderado posto das antíteses, Vieira é um dos melhores mestres da língua e oferece lato campo de estudo aos amadores da vernaculidade. (Antologia Nacional, de Fausto Barreto e Carlos de Laet; Livraria Francisco Alves; 1931.)


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

UM PÉ DE SONHO



Sorvendo uma cerveja, sozinho, num quiosque plantado nas alvas areias da praia do Mucuripe, um jovem vê surgir do nada um papel na mão de uma dama. Era um teste de gravidez - Gravindex - positivo. Findou, de pronto, aquele solitário luau ouvindo estrelas. A felicidade batera à porta daquele casal. O jovem lívido, com a vista borrada e engolindo o choro, rabiscou num guardanapo de papel um simples bilhete, ditado pelo coração e endereçado a uma menina- fada.

Quem afiançava que se tratava, de fato, de um bebê do sexo feminino?

O amor, simplesmente, um incomensurável amor!

Quando o boêmio desta história completou sessenta anos, recebeu de presente um quadro onde se encontrava aquele mimo de garranchos esculpidos num guardanapo de papel e meio amarelado pelo rigor do tempo. Era um reencontro com um passado feliz e verdadeiro:

“Querida filha, como uma pura epifania você surge em nossas existências, minha e de sua mãe. É o milagre da vida, a certeza de que, quando ao pó seus pais retornarem, sua luz votiva manterá o fio da vida em nós e por nós. A partir de agora, aí no aconchego morno do ventre de sua mãe, todos os dias serão seus. Não irás chegar ao mundo sob minhas mãos, como eu gostaria que fosse, mas estarei presente na sala de parto, banhado em lágrimas puras e verdadeiras. Todos os folguedos da infância estarão ao seu dispor: Chicote queimado, Macaca, Pega-pega e muitas bonecas, certamente. Viajaremos em muitos mundos de fantasia num verdadeiro mar de livros. Um dia vai desabrochar numa bela manhã de sol, sua adolescência e novamente, juntos estaremos desfrutando um turbilhão de novos saberes. Livremente irás escolher sua profissão como uma demanda de seu nobre coração. O mundo será seu e a felicidade baterá suavemente à sua porta. E, claro, sempre juntos estaremos em toda e qualquer circunstância.

 Com ansiedade lhe aguardamos. Um beijo carinhoso de seus pais e boa viagem a este maravilhoso mundo!”


Ao longo da jornada, pelo menos, duas músicas marcaram nossos bons momentos vividos em harmonia familiar: “O Caderno” de Toquinho e Vinícius de Moraes; e “Tocando em Frente” de Almir Sater:


“Sou eu que vou seguir você/do primeiro rabisco até o bê-á-bá/em todos os desenhos coloridos vou estar/a casa, a montanha, duas nuvens no céu/e um sol a sorrir no papel/sou eu que vou ser seu colega/seus problemas ajudar a resolver/lhe acompanhar nas provas bimestrais, você vai ver/serei de você confidente fiel/se seu pranto molhar meu papel/sou eu que vou ser seu amigo/vou lhe dar abrigo, se você quiser/quando surgirem seus primeiros raios de mulher/a vida se abrirá num feroz carrossel/e você vai rasgar meu papel/o que está escrito em mim/comigo ficará guardado, se lhe dá prazer/a vida segue sempre em frente, o que se há de fazer/só peço a você um favor, se puder/não me esqueça num canto qualquer”


“Ando devagar/porque já tive pressa/e levo esse sorriso/porque já chorei demais/hoje me sinto mais forte/mais feliz, quem sabe/só levo a certeza/de que muito pouco sei/ou nada sei/conhecer as manhas e as manhãs/o sabor das massas/ e das maçãs/é preciso amor/para poder pulsar/é preciso paz para poder sorrir/é preciso chuva para florir/penso que cumprir a vida/seja simplesmente/compreender a marcha/e ir tocando em frente/como um velho boiadeiro/levando a boiada/eu vou tocando os dias/pela longa estrada, eu vou/estrada , eu sou/todo mundo ama, um dia/todo mundo chora/um dia a gente chega/ e noutro vai embora/cada um de nós compõe a sua história/cada ser em si/carrega o dom de ser capaz/de ser feliz/”


Ponto final!




domingo, 12 de novembro de 2017

A MAGIA DO BOLERO: AGUSTIN LARA
Para o boêmio e filósofo Francisco Clayrton





“Noite de ronda/que triste passa/que triste cruza/ por minha sacada/noite de ronda/como me fere/como lastima meu coração/lua que se quebra sobre a obscuridade/de minha solidão/aonde vais/diz-me se esta noite/tu que vais de ronda/como ela se foi/com quem estás/diz-lhe que a quero/diz-lhe que eu morro/de tanto esperar/que volte já/que as rondas /não são boas/que trazem danos/e dão penas/que se acabam por chorar/ diz-lhe que a quero/ diz-lhe que eu morro/de tanto esperar/que volte já/que as rondas/não são boas/que trazem danos/e dão penas/que se acaba por chorar” 


Tradução livre de Noche de Ronda, composição de Agustín Lara.

Ángel Augustín Maria Carlos Fausto Mariano Alfonso del Sagrado Corazón Lara y Aguirre del Pino, ou, simplesmente, Agustín Lara (1896-1970), nasceu na cidade do México,D.F. , filho de Joaquín Lara e Maria Aguirre del Pino.


Tornou-se cantor, músico, compositor e ator de largos recursos e que difundiu o bolero por todos os cantos da terra. Aos 13 anos de idade iniciou seus trabalhos como pianista na vida noturna de bares e cabarés. Em 1927 sofre uma agressão no rosto com cacos de vidro, protagonizado por uma corista numa boate. Agustín Lara teceu cerca de 700 canções e atuou em 30 películas cinematográficas. Dedicou várias de suas composições, a musas que inebriaram seu inquieto coração. Agustín Lara faleceu na Cidade do México em 06 de novembro de 1970.

“Tão somente uma vez/amei na vida/tão somente uma vez/e nada mais/uma vez, nada mais/em minha existência brilhou a esperança/a esperança que alumia o caminho/de minha solidão/uma vez, nada mais/se entrega a alma/com a doce e total renúncia/ e quando esse milagre realiza/ o prodígio de amar-se/há guizos de festas que cantam/ no coração”

Tradução livre de Solamente uma Vez, composição de Agustín Lara.


“Na eterna noite de minha aflição/tu tens sido a estrela/que alumia meu céu/e eu tenho descortinado/tua rara formosura/e tens iluminado/ todo meu sofrer/santa, minha santa/mulher que põe brilho/na minha existência/santa, seja minha guia/no triste calvário do viver/afasta de meu caminho/todos os espinhos/excita com seus beijos/minha desilusão/santa, seja minha guia/alumia com tua luz/ meu coração”

Tradução livre de Santa, composição de Agustín Lara.

No rico colar do pecado que envolvia o centro da cidade de Fortaleza nos anos 50 do século passado, velhos casarões davam abrigo a “pensões alegres” onde os adolescentes faziam seu vestibular nas artes do amor e os adultos realizavam uma pós-graduação em filosofia do cotidiano e nas travessuras de Baco. “As Madames” cobriam, gentilmente, “As Meninas” com um banho- de- loja no Bazar das Novidades e na Loja A Cruzeiro para abrilhantarem as noitadas nas boates: Monte Carlo; Império; Marajá; City; Hollywood; Estrela; Fanny; Graça; Naninha; Fascinação e Bar da Alegria.

Ricos e pobres, gregos e troianos, protegidos pelo breu da noite e no completo anonimato mantiveram um mundo de orgia, hoje posto ao chão, dando lugar a estéreis estacionamento de veículos, num centro da cidade totalmente descaracterizado. Uma ignomínia profunda!

“Divina claridade, a de teus olhos/diáfanos como gotas de cristal/uvas que se umedecem com soluços/sangue e sorrisos juntas ao olhar/por quê te fez o destino pecadora/se não sabes vender o coração/por quê pretende odiar-te quem te adora/por quê torna a querer-te quem te odiou/se cada noite tua é uma aurora/se cada nova lágrima é um sol/por quê te fez o destino pecadora/se não sabes vender o coração”

Tradução livre da música Pecadora, composição de Agustín Lara.

“Mulher, mulher divina/tens o veneno que fascina em teu mirar/mulher alabastrina/tens vibração de uma sonata passional/tens o perfume de um laranjal em flor/o altivo porte de uma majestade/sabes dos filtros que há no amor/tens o feitiço da leviandade/a divina magia de um entardecer/e a maravilha da inspiração/tens no ritmo de teu ser/todo o palpitar de uma canção/eres a razão do meu existir, mulher”
Tradução livre da canção Mujer, da autoria de Agustín Lara.