Na Lua Cheia com Hermann Hesse
O homem, tal como Deus o pensou e ao longo de vários milênios o tem entendido a poesia e a sabedoria dos povos, foi criado com a capacidade de se deleitar com as coisas, ainda que estas não lhe sejam úteis. E é também dotado de um órgão para perceber o belo. Na alegria da contemplação do belo, tomam sempre parte por igual a alma e os sentidos. E enquanto forem os homens capazes de, em meio aos tormentos e perigos da vida, alegrar - se, por exemplo, ante o jogo das cores da natureza ou diante de um quadro; ante um apelo das vozes da tempestade, do mar, ou de uma música; enquanto, por trás do envoltório dos interesses e necessidades cotidianas, puderem ver ou sentir o mundo como um todo no qual , desde os meneios de um gato que brinca com um novelo até as variações de uma sonata; desde o comovente olhar de um cão até a tragédia de um poeta, tudo forma um vasto reino com miríades de relações, contrastes, analogias e reverberações, dos quais uma linguagem eternamente em fluxo retira e transmite aos ouvintes alegria e sabedoria, prazer e emoção - enquanto isso houver, poderá o homem assenhorear -se de sua própria angústia existencial e atribuir sempre algum sentido à vida, pois o "sentido" é quem reduz o múltiplo à unidade : ele é a capacidade que tem o espírito humano de conceber o caos do universo como autêntica unidade e harmonia. ( Hermann Hesse - 1877- 1962).
— em Praia Porto das Dunas.
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