ODE A UMA URNA GREGA
Tua ainda
inviolada Noiva do Silêncio/filha adotiva do Sossego e da Lentidão/silvestre
historiadora, que exprimir consegues/um enredo floral mais doce que este
canto/que lenda engrinaldada em teu redor perpassa/tecida de deidades ou mortais,
ou de ambos/junto ao vale de Tempe ou nos vergéis de Arcádia? /que homens ou
deuses são? Que virgens relutantes? / que afoito perseguir? que luta na
escapada/ que pífanos e adufes? Que êxtase bravio?/É doce ouvir a melodia, inda
mais doce/a que não foi ouvida; assim , ó suaves flautas/plangei/não para o
ouvido sensorial, mais caras/tocai para a nossa alma as músicas sem som: ó
jovem sob as árvores, soltarás/jamais teu canto e nem os ramos suas
folhas/ousado amante, nunca, nunca hás de beijar/embora rente de teu alvo- não
lamentes;/ela ficará, e embora sem fruí-la/amarás para sempre essa beleza
eterna!/ditosos ramos, sim, ditosos porque nunca/ireis secar, nem dar adeus à
Primavera/e tu afortunado melodista, insone/hás de entoar canções eternamente novas/amor,
feliz amor! Feliz mais do que tudo!/sempre ardente e no entanto sempre
indesfrutado/sempre à beira da entrega e sendo sempre jovem/ a exultar de
paixão humana e transcendente/que deixa o coração amargurado e opresso/ as
têmporas em fogo e a boca ressequida/quem estes que chegando estão para o
holocausto?/a víride altar, ó sacerdote ignoto/conduzes um novilho para os céus
mugindo/e o suave flanco inteiro de festões ornado?/que povo ribeirinho ou
junto ao mar que aldeia/no monte que casal, tal um bastão tranquilo/vazio
despertou nesta manhã piedosa?/ah! Vilarejo, as tuas ruas para sempre/desertas
estarão; viv’alma por dizer/de tal desolação há de tornar jamais/ Ática forma!
Sóbria atitude! em guirlandas de mármore/ donzelas e varões enleias/ com ramos
da floresta e joio espezinhado/tu, forma silenciosa, abala-nos a mente/que qual
a eternidade: ó fria Pastoral! quando esta geração o tempo houver tragado/tu
permanecerás em meio de outras queixas/amiga do homem, a quem dirás: “a beleza
é verdade, a verdade beleza” - isto é tudo/ que sabemos na terra e que importa
saber.
John Keats
(1795-1821), poeta, um dos maiores nomes da segunda geração romântica da
Inglaterra. Em sua rápida jornada terreal (25 anos), tragado foi pela Peste
Branca, deixando, contudo, marcas indeléveis na arte poética. “Ode a uma Urna
Grega”, enigmática em algumas passagens, mostra a influência sofrida de bardos
gregos da época de Homero.
Que brutal
contraste com certa “Arte Brasileira” de hoje, incentivada em canhestros meios
universitários beirando a grosseria e a pusilanimidade, típicas de espíritos parvos!
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