sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

ODE A UMA URNA GREGA




Tua ainda inviolada Noiva do Silêncio/filha adotiva do Sossego e da Lentidão/silvestre historiadora, que exprimir consegues/um enredo floral mais doce que este canto/que lenda engrinaldada em teu redor perpassa/tecida de deidades ou mortais, ou de ambos/junto ao vale de Tempe ou nos vergéis de Arcádia? /que homens ou deuses são? Que virgens relutantes? / que afoito perseguir? que luta na escapada/ que pífanos e adufes? Que êxtase bravio?/É doce ouvir a melodia, inda mais doce/a que não foi ouvida; assim , ó suaves flautas/plangei/não para o ouvido sensorial, mais caras/tocai para a nossa alma as músicas sem som: ó jovem sob as árvores, soltarás/jamais teu canto e nem os ramos suas folhas/ousado amante, nunca, nunca hás de beijar/embora rente de teu alvo- não lamentes;/ela ficará, e embora sem fruí-la/amarás para sempre essa beleza eterna!/ditosos ramos, sim, ditosos porque nunca/ireis secar, nem dar adeus à Primavera/e tu afortunado melodista, insone/hás de entoar canções eternamente novas/amor, feliz amor! Feliz mais do que tudo!/sempre ardente e no entanto sempre indesfrutado/sempre à beira da entrega e sendo sempre jovem/ a exultar de paixão humana e transcendente/que deixa o coração amargurado e opresso/ as têmporas em fogo e a boca ressequida/quem estes que chegando estão para o holocausto?/a víride altar, ó sacerdote ignoto/conduzes um novilho para os céus mugindo/e o suave flanco inteiro de festões ornado?/que povo ribeirinho ou junto ao mar que aldeia/no monte que casal, tal um bastão tranquilo/vazio despertou nesta manhã piedosa?/ah! Vilarejo, as tuas ruas para sempre/desertas estarão; viv’alma por dizer/de tal desolação há de tornar jamais/ Ática forma! Sóbria atitude! em guirlandas de mármore/ donzelas e varões enleias/ com ramos da floresta e joio espezinhado/tu, forma silenciosa, abala-nos a mente/que qual a eternidade: ó fria Pastoral! quando esta geração o tempo houver tragado/tu permanecerás em meio de outras queixas/amiga do homem, a quem dirás: “a beleza é verdade, a verdade beleza” - isto é tudo/ que sabemos na terra e que importa saber.

John Keats (1795-1821), poeta, um dos maiores nomes da segunda geração romântica da Inglaterra. Em sua rápida jornada terreal (25 anos), tragado foi pela Peste Branca, deixando, contudo, marcas indeléveis na arte poética. “Ode a uma Urna Grega”, enigmática em algumas passagens, mostra a influência sofrida de bardos gregos da época de Homero.

Que brutal contraste com certa “Arte Brasileira” de hoje, incentivada em canhestros meios universitários beirando a grosseria e a pusilanimidade, típicas de espíritos parvos!



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