terça-feira, 9 de fevereiro de 2016


O FÓRCIPE MODERNO

 
Desde os primórdios da história da humanidade vários instrumentos foram idealizados para ajudar na assistência ao parto. O fórcipe ou fórceps ainda hoje se mantém como um prolongamento das mãos do obstetra. A moderna história desta pinça cirúrgica passa pela família Chamberlen.
Peter Chamberlen (1560- 1631), filho do cirurgião francês William Chamberlen que em decorrência de lutas religiosas (perseguição aos huguenotes) se exilou na Inglaterra. Nascido em 1560, é conhecido como Pedro, o velho, posto que teve um irmão, também Pedro, nascido em 1572, apodado de Pedro, o novo. Estes três indivíduos mantiveram em rigoroso segredo, a produção e a arte de partejar com o auxílio deste fantástico instrumento – o fórcipe-.
Foi Pedro, o velho, quem primeiro desenhou o novo modelo de fórcipe e manteve no mais absoluto sigilo, com fins de auferir lucros exclusivos à família Chamberlen. Por ocasião dos partos, Pedro carregava o instrumento numa rude caixa de madeira e vendava os olhos da parturiente para que não pudesse conhecer o dito milagroso aparelho de extrair conceptos do claustro materno. E mais, o sagaz parteiro não permitia que ninguém assistisse o dantesco espetáculo. Nos aposentos, apenas se ouvia o ranger dos ferros em meio aos lancinantes gritos da pobre mãe, posto que, não se aplicava qualquer analgesia. Em muitas ocasiões, mãe e filho seguiam silenciosamente para a sepultura.
Pedro, o jovem, teve um filho de igual nome, Pedro Chamberlen (1601 – 1683), que graduou- se em medicina na Universidade de Pádua. Teve três filhos, um dos quais Hugh Chamberlen (1630 – 1720) que seguindo a tradição da família tornou- se um afamado obstetra.  Hugh, de forma ufanista propagava: “ – Meu pai, meus irmãos, e eu, e nenhuma outra pessoa que eu saiba, na Europa, possuímos e praticamos desde muito tempo um meio de fazer parir às mulheres sem que resulte nenhum prejuízo para elas ou seus filhos “.
 Em 1670 na França, Hugh Chamberlen , tentou vender a ideia do aparelho para o insigne obstetra Francois Mauriceau (1637- 1709) , por 10.000 libras . Não contava ele com a astúcia de Mauriceau que lhe ofereceu como prova uma parturiente há três dias em trabalho de parto e portadora de vício pélvico. A despeito de tentar aplicar várias vezes o fórcipe, o epílogo deu –se com a morte da paciente e do concepto. Deste modo, a venda não foi efetivada. Como se percebe, a falha não foi do instrumento e sim de sua indicação incorreta, numa mãe com pelve estreita (“o maior, no caso o feto, não consegue passar por dentro do menor, no caso a pelve exígua “).
Mauriceau exultou do insucesso e em forma de chacota pregava: “ Chamberlen se havia equivocado em julgar encontrar tanta facilidade para partejar as mulheres em Paris como havia encontrado em Londres “.
Este fracasso, explorado ao extremo pelo mais conceituado obstetra da época, Mauriceau , retardou o conhecimento do fórcipe por mais de cinquenta anos , de 1676 a 1753 , em Paris e no resto do mundo .
Mais adiante o segredo do fórcipe foi vendido na Holanda. Há registros anedóticos que o aparelho transacionado constava apenas de um ramo, ou seja, não era uma pinça, e,portanto,  não tinha nenhuma serventia . Em 1713, Jean Palfyn criou um aparelho de dois ramos paralelos que ficou conhecido como “ mãos de ferro “ ou “ mãos de Palfyn “. Já septuagenário, Palfyn percorreu a pé uma longa distância para entregar à Academia de Medicina de Paris o instrumento de sua invenção. O Royal College of Obstricians and Gynaecologists de Londres assinala que: “ A memória dos Chamberlen não pode honrar- se senão com reservas, pois é imperdoável que eles não tivessem a compaixão em salvar a milhares de mulheres e de crianças “.

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