NELSON CAVAQUINHO E
GUILHERME DE BRITO
Nelson Cavaquinho (1911 – 1986) e Guilherme de Brito (1922 -
2006), dois bambas, dois cantores, dois compositores, dois poetas, dois
instrumentistas e, especialmente, dois boêmios. Ambos cariocas que no início do século XX
viveram num Rio de Janeiro rico em vida noturna, violões em serenata e muita
camaradagem. Em resumo, a vida consumida em bebida, música e mulheres. E o
trabalho, este velho instrumento de tortura medieval: pernas pra que te quero?
“ Tire o seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a
minha dor/hoje pra você eu sou espinho /espinho não machuca a flor/ eu só errei
quando juntei minh’alma a sua / o sol não pode viver perto da lua /é no espelho
que eu vejo a minha mágoa/ a minha dor e os meus olhos rasos d’água/ eu na sua
vida já fui uma flor /hoje sou espinho em seu amor “.
A Flor e o Espinho, composição de Alcides Caminha, Nelson
Cavaquinho e Guilherme de Brito, principia logo no primeiro verso com uma
pérola de poesia da MPB. As letras de Nelson e Guilherme cantam a mulher amada,
a solidão, a velhice, a morte e Deus. Tudo gestado em mesas de bar, em torno de
cachaça, violão, cigarros e, claro, mulheres.
“ O sol há de brilhar mais uma vez.../ a luz há de chegar aos
corações / do mal será queimada a semente / o amor será eterno novamente /é o
juízo final/ a história do bem e do mal / quero ter olhos pra ver a maldade
desaparecer “ Composição: Juízo final.
Nelson e Guilherme tiveram instrução formal básica e da escola
da vida beberam o néctar dos poetas do povo.
“ Se eu for pensar muito na vida/ morro cedo, amor /meu
peito é forte / nele tenho acumulado tanta dor/ as rugas fizeram residência no
meu rosto / não choro pra ninguém/ me ver sofrer de desgosto/ eu que sempre
soube/ esconder a minha mágoa / nunca ninguém me viu/ com os olhos rasos d’água
/ finjo- me alegre / pro meu pranto ninguém ver/ feliz aquele que sabe sofrer
“. Composição: Rugas.
Ambos, Nelson e Guilherme foram abatidos pela “ indesejada
das gentes “ com a ajuda dos males do tabaco que segue, ainda hoje, ceifando a
vida de muitos daqueles inebriados pela cortina de fumaça que se ergue aos céus
em desenhos que ninguém sabe decifrar.
“ Sei que amanhã / quando eu morrer / os meus amigos vão
dizer/ que eu tenho um bom coração/ alguns até hão de chorar/ e querer me
homenagear/ fazendo de ouro um violão /mas depois que o tempo passar/ sei que
ninguém vai se lembrar / que eu fui embora / por isso é que eu penso assim / se
alguém quiser fazer por mim / que faça agora / me dê as flores em vida / o
carinho / a mão amiga /pra aliviar meus ais /depois que eu me chamar saudade /
não preciso de saudade/ quero preces e nada mais “. Composição: Pranto de
Poeta.
“ Sei que estou/ no último degrau da vida, meu amor / já
estou envelhecido, acabado /por isso muito eu tenho chorado /eu não posso
esquecer o meu passado/ foram- se meus vinte anos de idade /já vai muito longe
a minha mocidade/ sinto uma lágrima rolar sobre meu rosto/ é tão grande o meu
desgosto “. Composição: Degraus da
Vida.
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