quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016


NELSON CAVAQUINHO E GUILHERME DE BRITO

Nelson Cavaquinho (1911 – 1986) e Guilherme de Brito (1922 - 2006), dois bambas, dois cantores, dois compositores, dois poetas, dois instrumentistas e, especialmente, dois boêmios.  Ambos cariocas que no início do século XX viveram num Rio de Janeiro rico em vida noturna, violões em serenata e muita camaradagem. Em resumo, a vida consumida em bebida, música e mulheres. E o trabalho, este velho instrumento de tortura medieval: pernas pra que te quero?

 

“ Tire o seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a minha dor/hoje pra você eu sou espinho /espinho não machuca a flor/ eu só errei quando juntei minh’alma a sua / o sol não pode viver perto da lua /é no espelho que eu vejo a minha mágoa/ a minha dor e os meus olhos rasos d’água/ eu na sua vida já fui uma flor /hoje sou espinho em seu amor “.

A Flor e o Espinho, composição de Alcides Caminha, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, principia logo no primeiro verso com uma pérola de poesia da MPB. As letras de Nelson e Guilherme cantam a mulher amada, a solidão, a velhice, a morte e Deus. Tudo gestado em mesas de bar, em torno de cachaça, violão, cigarros e, claro, mulheres.

“ O sol há de brilhar mais uma vez.../ a luz há de chegar aos corações / do mal será queimada a semente / o amor será eterno novamente /é o juízo final/ a história do bem e do mal / quero ter olhos pra ver a maldade desaparecer “   Composição: Juízo final.

Nelson e Guilherme tiveram instrução formal básica e da escola da vida beberam o néctar dos poetas do povo.

“ Se eu for pensar muito na vida/ morro cedo, amor /meu peito é forte / nele tenho acumulado tanta dor/ as rugas fizeram residência no meu rosto / não choro pra ninguém/ me ver sofrer de desgosto/ eu que sempre soube/ esconder a minha mágoa / nunca ninguém me viu/ com os olhos rasos d’água / finjo- me alegre / pro meu pranto ninguém ver/ feliz aquele que sabe sofrer “.      Composição: Rugas.

Ambos, Nelson e Guilherme foram abatidos pela “ indesejada das gentes “ com a ajuda dos males do tabaco que segue, ainda hoje, ceifando a vida de muitos daqueles inebriados pela cortina de fumaça que se ergue aos céus em desenhos que ninguém sabe decifrar.

“ Sei que amanhã / quando eu morrer / os meus amigos vão dizer/ que eu tenho um bom coração/ alguns até hão de chorar/ e querer me homenagear/ fazendo de ouro um violão /mas depois que o tempo passar/ sei que ninguém vai se lembrar / que eu fui embora / por isso é que eu penso assim / se alguém quiser fazer por mim / que faça agora / me dê as flores em vida / o carinho / a mão amiga /pra aliviar meus ais /depois que eu me chamar saudade / não preciso de saudade/ quero preces e nada mais “. Composição: Pranto de Poeta.

“ Sei que estou/ no último degrau da vida, meu amor / já estou envelhecido, acabado /por isso muito eu tenho chorado /eu não posso esquecer o meu passado/ foram- se meus vinte anos de idade /já vai muito longe a minha mocidade/ sinto uma lágrima rolar sobre meu rosto/ é tão grande o meu desgosto “.       Composição: Degraus da Vida.

 

 

 

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário