segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

DELMIRO GOUVEIA, O CORONEL DOS CORONEIS

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia (1863 – 1917), ou, simplesmente, Delmiro Gouveia, nasceu na fazenda Boa Vista, no município de Ipu, no interior do estado do Ceará. Seus pais foram Delmiro Porfírio de Farias, tropeiro de profissão, depois militar e, Leonila Flora da Cruz Gouveia, uma pernambucana de apenas 14 anos de idade.
Aos 5 anos de idade Delmiro mudou- se com a família para o estado de Pernambuco. Seu pai, Delmiro Farias morreu em combate no dia 02 de dezembro de 1867 na injusta Guerra do Paraguai (1864 – 1870), sendo mais um dos brasileiros dos grotões recrutados para serem imolados nos charcos guaranis. Pouco depois, falece Dona Leonila (1878), em decorrência de problemas cardíacos, obrigando Delmiro, agora órfão de pai e mãe, a cair na vida laboral como única condição para sobreviver. Começou sua precoce jornada de trabalho como condutor e cobrador da Brasilian Street Railways Company, em “ maxambombas “, um neologismo derivado de “ machine –pump “, bomba mecânica, como eram designadas as carruagens ferroviárias. Em seguida parte para a atividade de caixeiro-viajante e depois descamba para o lucrativo comércio de peles de animais.
Em 1883, aos 20 anos Delmiro Gouveia contrai matrimônio com Maria Anunciada Cândida de Melo Falcão, conhecida como Iaiá, de apenas 14 anos de idade, imitando assim o pai, Delmiro Farias. Em 1884 vamos encontrar o jovem empreendedor Delmiro lidando com o emergente comércio de algodão. Em 1886, Delmiro trabalha com Herman Ludgren (das futuras “Casas Pernambucanas”), por um breve período e parte em 1889 para um contrato com um grande curtume americano ( Keen Sutterly )  que se instalara no Brasil e que logo depois passaria ao cargo de gerente da tal empresa.
Delmiro Gouveia por essa época já é considerado o “ Rei da Peles “ o que serve de incômodo a muitos empresários e políticos da região. Um cearense famoso, o polígrafo Gustavo Barroso lança uma catilinária num jornal do Sul (Diário de Notícias) contra o seu conterrâneo Delmiro Gouveia:
“ Delmiro Gouveia, um tipo, no físico, no moral e no mental, verdadeiramente representativo da forte e tenaz sub-raça do infeliz Nordeste brasileiro. Aspecto acaboclado, energia indomável e inteligência aguda “. Trata- se de um comentário maldoso, eivado de veneno e tristemente preconceituoso.
Em 1893 Delmiro viaja para os Estados Unidos da América onde visita a famigerada Exposição Universal de Chicago, de onde traz pronta na cabeça a ideia da criação de um grande centro comercial no Derby Club em Recife, que foi inaugurado em 7 de setembro de 1899. Durou pouco o tal empreendimento luxuoso que oferecia  em inúmeros boxes , mercadorias com preços bem menor que o da concorrência. Na noite de 2 de janeiro de 1900 labaredas de fogo consumiram em pouco tempo todo o belo trabalho de Delmiro Gouveia e que, provavelmente, teve origem em mãos criminosas. Aos poucos o tenaz empresário se ergue do grande baque, ajudado pela paixão a lhe consumir por uma jovem de 16 anos, Carmélia Eulina do Amaral Gusmão, filha de Ana do Amaral Gusmão, amante do governador pernambucano Segismundo Gonçalves. Delmiro empreende fuga cinematográfica e se estabelece em 1903 no distrito de Água Branca, chamado Estação da Pedra no estado de Alagoas. Ali, na confluência de quatro estados nordestinos, uma vez mais, Delmiro Gouveia, sonha alto e grande, abençoado pelo “ Velho Chico “, o grandioso Rio São Francisco, implantando uma usina produtora de energia na cachoeira de Paulo Afonso.
Em 6 de junho de 1914 inicia-se a produção de linhas de coser, além de fios e cordões de algodão cru em novelos, numa fábrica – modelo de propriedade de Delmiro Gouveia contando com a ajuda de cerca de 800 operários. Formou- se no distrito de Pedras uma nova e próspera comunidade contando com médicos, dentistas, casas arejadas, farmácias, escolas, lojas e aparelhos de saneamento básico e de luz elétrica. O grupo inglês Machine Cotton (linhas Corrente), eterno líder de mercado, sofreu um tremendo baque com a concorrência da marca nacional Estrela do desabusado “ coronel dos coronéis “ Delmiro Gouveia.
No dia 10 de outubro de 1917, Delmiro Gouveia passeia folgadamente a vista em jornais do dia no alpendre de sua residência quando dois balaços riscaram a noite, atingindo o coração do indigitado empresário e pondo fim a vida deste grande empreendedor e visionário nordestino. Os autores deste bárbaro crime e seus pérfidos mandantes esconderam- se no breu das noites e nas sombras da impunidade, como soe acontecer até hoje, onde pouco vale a vida humana no adusto pedaço de chão do Nordeste brasileiro. Em 1930 funcionários da empresa inglesa Machine Cotton jogaram as máquinas da fábrica das linhas Estrela, que pertencera a Delmiro Gouveia, nas gargantas da cachoeira de Paulo Afonso numa agressão gratuita e infamante ao “ Velho Chico “ e à imperecível figura do destemido Coronel Delmiro Gouveia.

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