Ninguém de sã consciência duvida que
vivenciamos uma grave crise de Estresse Hídrico
neste flutuante planetinha de nada chamado Terra. Entende–se por estresse
hídrico a circunstância em que a demanda de água por habitante é maior do
que a capacidade de oferta do produto. Sabedores somos, também, que
se aproxima o período da folia de momo aqui em Pindorama quando passa a valer o
célebre ditado que “ninguém é de ninguém“ e onde as paixões
se esvaem mais rápido que as águas dos açudes barrentos do nosso sofrido
solo arenoso do Ceará. Faz pouco saímos de uma batalha no
campo eleitoral renhida com direito a mortos e feridos em
profusão. Nenhuma palavra sequer foi desperdiçada nos palanques
eletrônicos sobre a crise hídrica que já batia, insistentemente,
nos moucos ouvidos de nossas briosas autoridades. Assunto tabu e
indigesto, posto que, desfaz sonhos e engole votos em mancheias, pondo
medo no eleitor dócil, podendo levar ao incontrolável e
temível estouro da boiada Ressuscitemos, pois, enquanto se nos permite,
do baú da memória as gostosas marchinhas de carnaval de
um passado distante, mas que continuam pertinentes na atual conjuntura.
Gozemos e relaxemos, como pede o tríduo carnavalesco:
“
Lata d’água na cabeça / lá vai Maria , lá vai Maria / sobe o morro e não se
cansa / pela mão leva a criança / lá vai Maria /Maria lava roupa lá no alto /
lutando pelo pão de cada dia / sonhando com a vida no asfalto / que acaba
onde o morro principia“.
“
Tomara que chova três dias sem parar / a minha grande mágoa é lá em casa não
ter água / eu preciso me lavar / de promessa eu ando cheio/quando eu conto a
minha vida ninguém quer acreditar / trabalho não me cansa / o que me cansa é
pensar /que lá em casa não tem água nem pra cozinhar“.
“
As águas vão rolar / garrafa cheia eu não quero ver sobrar / em
ponho a mão no saca, saca, saca – rolha e bebo até me afogar , deixa as águas
rolar / se a polícia por isso me prender / e na última hora me soltar /eu
pego o saca , saca , saca – rolha / e bebo até me afogar / deixa as águas
rolar“.
A Agência Nacional das Águas (ANA) do Brasil
relata que de um total de 29 aglomerados urbanos no país, 16
já precisam buscar novos mananciais para sobreviver ao ano de 2015. A água doce
representa apenas 2,5% do total de água da terra. O Brasil abarca
a maior reserva de água doce do planeta (12% do total), porém
com distribuição muito irregular. A região metropolitana de
São Paulo com 19,9 milhões de habitantes e o restante do país cuidam
mal da água potável existente. Enquanto a escassez batia
ponto apenas nas áreas sofridas do nordeste brasileiro, tudo
permanecia em uma santa paz de cemitério. Agora com os “peixes
graúdos“ morrendo à mingua, o Governo Federal mostra disposição de
mover o mundo como Arquimedes, embora pareça tarde,
para acabar com o desagradável vexame hidrológico.
O carro-chefe da locomotiva
-San Pablo-, coitado, emperrou de vez. No momento, “os
bacanas de gravata da Avenida Paulista e as Zelites“ irão aprender
com quantos paus se faz uma canoa, entender o que é um carro–pipa e
saber que tomar banho de cuia não é um mero jargão
futebolístico de receber um “chapéu“. Uma empresa estatal em
suposta crise financeira fez generosa doação de incentivo ao
maior carnaval do Brasil,dançando ao som dos tamborins com bicheiros e
outros contraventores, utilizando a velha fórmula de estímulo
matreiro do “pão e o circo“ mesmo com a escassez da bendita água. E
o “Titanic“ valente, soçobrando. Resta a ilusão da embriaguez
do carnaval:
“Eu
vou morar pra lá de Bagdá / onde o petróleo nasce / e não se cansa de jorrar /
não fico mais aqui / eu quero me arrumar / eu vou morar pra lá de Bagdá / já
estou cansado de almoçar roendo osso / eu quero um diamante pendurado no
pescoço / com certas odaliscas , servindo o meu jantar / eu vou morar pra
lá de Bagdá“.
A ressaca deste
carnaval será memorável com o país afogado em séria crise hídrica,
energética, sócio-política e a pior delas, a crise ética,
lembrando o famigerado Baile da Ilha Fiscal, quando o Império se divertiu
às largas,na beira do vulcão da República.
Um solitário
bloco, o “Grêmio Recreativo Escola de Samba Vergonha na Cara“
sairá de luto às ruas com o seu samba–enredo do dócil e saudoso
Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior -Gonzaguinha- a animar os
incontáveis foliões–do-contra no Sambódromo da Democracia:
“ É
! / a gente quer valer o nosso amor / a gente quer valer nosso suor / a gente
quer valer o nosso humor / a gente quer do bom e do melhor / a gente quer
carinho e atenção / a gente quer calor no coração / a gente quer suar,
mas de prazer / a gente quer é ter muita saúde / a gente quer viver a
liberdade / a gente quer viver felicidade / É ! / a gente não tem cara de
panaca / a gente não tem jeito de babaca / a gente não está com a bunda exposta
na janela / pra passar a mão nela / É ! / a gente quer viver pleno
direito / a gente quer viver todo respeito / a gente quer viver uma nação / a
gente quer é ser um cidadão ..... /.
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