UM TEMPO FECHADO E
BONITO EM FORTALEZA
Fortaleza , banhada
em charme , até que enfim fez as pazes
com São Pedro , neste sábado cinzento e
belo como poucos . Um convite para um bom banho de bica ou para
soltar um barquinho de papel e seguir o mesmo , travesso
e rodopiando até o seu desfecho fatal ,numa boca de lobo qualquer , imitando a fugacidade da vida do
bicho – homem na natureza . Hora de
regredir na borrasca do tempo e juntar a
galera da minha infância feliz para uma
aventura na Ponte dos Ingleses pras bandas do Estoril .
Destino final : “ a piscininha “
um lago artificial recorrente formado
pelas ondas violentas a bater dia após dia no quebra – mar ali existente . Isto
na maré cheia . Com a maré seca , adentrar-se na praia naquele pedaço de chão livre ao derredor da velha
ponte , ainda com umas longarinas apontando para o céu . Bater um racha com
bola de pito , com os devidos cuidados ,
com o ex – craque Becão .Pegar uma “
carretilha “ no peito ou com uma prancha pequena de madeira , evitando as ondas
– caixão . Os maiores com direito a um salto borboleta por cima de uma
onda maneira , lá do alto da ponte . Os
mais marrentos seguindo a nado buscando um pouso na Ponte Metálica
, para cartar alto com as moçoilas da área .
“ Faz muito tempo/ que eu não vejo / o verde daquele mar quebrar /nas longarinas da ponte velha /
que ainda não caiu / faz muito tempo /
que eu não vejo / o branco da espuma espirrar / naquelas pedras com a sua
eterna / briga com o mar / uma a uma as coisas vão sumindo / uma a uma , se
desmilinguindo / só eu e a ponte velha teimam resistindo / e a nova jangada de
vela / pintada de verde e encarnado / só meu mote não muda a moda / não muda
nada / e o mar engolindo lindo / a antiga Praia de Iracema / e os olhos verdes
da menina / lendo o meu mais novo poema / e a lua viu desconfiada / a noiva do
sol com mais / um supermercado / era uma vez meu castelo / entre mangueiras / e jasmins florados / e o mar engolindo lindo / e o mal
engolindo rindo /Beira – Mar / êê / Beira – Mar / ê , maninha / arma aquela
rede branca / que eu estou chegando agora “ . Ednardo em “ Longarinas “ .
Aqueles que levam uma
linha de pesca seguem em busca de umas “
pilombetas “ , “ batatas “ , “ xaréus “ e “ pampos “ . Só se restitui ao mar os “ bagres “ e os “ baiacus “ , estes últimos
após coçar suas alvas e ásperas barrigas que seguem por um tempo a flutuar feito um barco marrom de carne e escamas . Na
volta para casa , um sarro inocente , derrubar umas caixas de lixo defronte as
residências para testar o preparo físico da meninada . Passar ligeiro perto da Rua Pinto Madeira
onde domina o pedaço uma turma arroxada comandada pelos cabras Berguinho , Alísio e Canapum . Quem falou em ressaca , perdeu cinco pontos na carteira . A tarde todo mundo fica ligado no rádio Philco para assistir a novela de Moysés
Weltman , “ Jerônimo , O Heroi do Sertão “ vibrando com as peripécias do Moleque Saci , a doce Aninha e o terrível Caveira :
“ Quem passar pelo sertão /vai ouvir alguém falar /no herói
desta canção / que eu venho aqui cantar / se é pro bem, vai encontrar / um
Jerônimo protetor / se é pro mal , vai
enfrentar / o Jerônimo lutador / filho de Maria – Homem nasceu / Serro Bravo foi seu berço natal /
entre tiros e tocaias cresceu / hoje luta pelo bem , contra o mal /galopando
está em todo lugar / pelos pobres a lutar sem temer / com Moleque Saci pra
ajudar / ele faz qualquer valente tremer “ .
Nesta viagem de volta
ao tempo ,
carrego comigo “ os maiores “ :
Duaran , Babá , Newton , Nilson , João , Paulo , Abner , Tarcísio , Neto , Deca
, Marcílio , Manfrido , Helder , Carlos Alberto , Walton e outros . As “
queridas meninas “ : Neuma , Neide ,
Norma , Zélia , Dolores , Stela , Diana , Rita , Maria , Zita , Olga , Tereza ,
Valdenúzia , Ruth ,Rocilda , Romilda ,
Rocecler ,Roseli , Cristina , Rosa , Gorete , Denise e outras .
“ Os menores “ : Nelson , Gato , Nego , Tico – Dé , Jonas , Célio
, Haroldo , Zé da Maroca , Murilo , Heleno , Manfredo , Chiá , Chico Barrão
e outros .
Nesta prosaica manhã
, da janela de meu pequeno observatório
, com uma chuvinha fina mareando meus cansados olhos , vislumbro lá longe a
Serra da Aratanha , dançando e tremendo , num lusco – fusco feito uma visagem . Culpa dos óculos que uso já quase sem serventia . Saudade , um chuvisco de saudade para banhar a alma !
.
“ Eu daria tudo que tivesse / pra voltar aos dias de criança
/ eu não sei pra que que a gente cresce / se não sai da gente essa lembrança /
aos domingos , missa na matriz / da cidadezinha onde eu nasci / ai , meu Deus ,
eu era tão feliz / no meu pequenino Miraí / que saudade da professorinha / que
me ensinou o be-a-bá / onde andará
Mariazinha / meu primeiro amor , onde andará ?/ eu igual a toda meninada /
quanta travessura que eu fazia / jogo de botões sobre a calçada / eu era feliz
e não sabia “ .
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