Um Paracelso moderno
Oficialmente, aquele homem exageradamente
alto e espirituoso ,não pertencia aos quadros de médicos do Hospital Geral
do Exército de Fortaleza . Ele prestava
assistência a mulheres de militares da
Marinha do Brasil, aqui residentes.
Travei contato com tal figura, pois fazia eu parte do elenco de servidores
civis do Ministério do Exército, como médico ginecologista e obstetra . Passei
a auxiliar algumas de suas cirurgias e fazia as rondas com o mesmo nas
enfermarias do dito hospital.
O elegante Hospital Geral do
Exército de Fortaleza , que visto do
alto , adquire o formato de uma aeronave , naquela época , pós – movimento militar de
64 , na juvenil e fértil imaginação dos noveis tenentes–médicos , irradiava um
misto de real bonança e incômoda rigidez . Por um lado ,um ameno ambiente para
acolher gente com agravos a saúde e por outro , para guardar sob custódia
elementos que o regime militar julgava perniciosos aos interesses da revolução
. Por ali circulavam ,também ,figuras enigmáticas , a paisana , que os
detetives filhos de Hipócrates , logo descobriram pertencer aos quadros da
Policia Federal e do famigerado e nada simpático SNI ( Serviço Nacional de
Informação ) .
Aos poucos ,fui desvendando mistérios daquele gentil-homem : raramente cobrava seus
honorários médicos e quando agraciado
com mimos , distribuía-os com quem
estivesse a sua volta . Em várias oportunidades flagrei-o entregando dinheiro a
humildes
funcionários . Certa feita , quis me presentear com quatro pneus novos
que recebera de uma cliente . Foi duro lhe mostrar que eu não necessitava daquilo ,
pois meu Fusca , de tala larga , parecia perfeito . Observando o veículo do
amigo ,uma curtida Brasília , percebi
que os pneus da mesma mostravam- se em
condições de miséria .
Durante uma conversa a sós , o
tal esculápio , mandou-me um petardo , uma certeira cruzada de direita : alertou-me sobre “ a aura
“ positiva/ negativa ; brilhante / opaca
, para ele fácil de perceber presente nas pessoas . Era olhar e ver o etéreo
invólucro sem necessitar de qualquer aparato tecnológico. Eu nunca pensara a sério sobre tal assunto . A medicina alopática e ortodoxa que me fora incutida , não permitia tais veleidades . Na ocasião detalhou-me uma lista de
profissionais de nossa convivência com a dita
classificação . Que surpresa ! . Para mim
, até então , todo mundo era perfeito
, salvo raras exceções . O pior , ficou por conta que eu andava , por essa época
, esmiuçando nos sebos da cidade , obras de enigmáticas figuras , verdadeiros magos , tais como , Pitágoras ,
Platão , Plotino e Paracelso . Este último , com o apodo de“ Lutero da medicina “
destronava Galeno e exigia um novo olhar para a medicina não convencional . Tudo veio a calhar para um jovem médico,
também excêntrico , introvertido e inconformista de pouco mais de vinte anos .
Andava eu num tranquilo plantão
do dito hospital , quando fui chamado
para atender a uma puérpera com febre e
convulsão numa enfermaria . Tratava-se de uma paciente que o mago/ doutor havia
operado pela manhã. No prontuário não
constava anotação sobre qualquer tipo de
anormalidade . Pensei logo tratar – se de um caso de
eclampsia . Prescrevi um anticonvulsivante - fenitoína
- associado a um antitérmico -
dipirona - , dando
a seguir o caso por encerrado . Pouco tempo depois fui alertado pela
enfermagem que o quadro da paciente sofrera agravo .
Incontinenti , liguei para o
médico que a operara . Ele calmamente me falou que já esperava por tal intercorrência . Como assim ? . Ao
chegar à enfermaria , plantei – me ao lado dele no aludido atendimento . O médico , circunspecto , nada perguntou , apenas colocou , suavemente , a mão sobre a fronte da
paciente que convulsionava . Os espasmos logo se esvaíram , fugindo súbito do corpo . Seguiu-
se um relaxante sono da cliente . No mesmo instante a mão , o braço e a face , num só ritmo , do dito esculápio deram então início a um tremor convulsivo , renitente .
Caiu – me o queixo ! . Minutos depois ,tudo voltou ao normal com a
puérpera e com o médico , sãos e indiferentes a tudo . Perguntei em seguida ao doutor o que
acontecera e ele estranhou minha interrogação . Não vira nada , coisa anormal nenhuma se
passara , a não ser um alarme falso
disparado por um doutorzinho medroso e pouco crente nas formas não
convencionais de cura em medicina . Hoje, aquele bendito mago que cruzou meu
caminho, transita em outra esfera , numa dimensão qualquer , posto que , devolveu seu invólucro corporal à
terra , do mesmo jeito que o recebeu , pobre e nu .
Propagam alguns , não sem razão , que ele ainda faz rondas por aí ajudando
criaturas de Deus , pelo mundo afora .
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