quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O CEARÁ NÃO TEM DISSO NÃO?



Furacões e terremotos, representam medonhos desastres naturais que volta e meia, por conta de pressões exageradas, tendo a origem em placas tectônicas, ceifam inocentes almas humanas e destroem, impiedosamente, cidades por onde passam.
Trata-se de maldade da natureza? De forma nenhuma!
A natureza “ não dá a mínima bola “ para o bicho-homem. Ela, em sua plenitude, imensidão e complexidade, não é boa nem má. Apenas existe, e ponto final!
Em Pindorama, no Ceará, neste período seco do ano, sopra uma brisa festeira, a levantar poeira, derrubando pé de pau envelhecido, jogando areia miúda nos olhos da negrada, trazendo à memória o mesmo incômodo causado por um inseto, “ o lacerdinha”, que promovia uma ardência nos olhos das pessoas, ali pelos anos 60 do século passado. Quando a tal ventania alcança a “ Esquina do Pecado” localizada na Praça do Ferreira, em Fortaleza, levanta, fescenino, as saias das estudantes que desfilam por aquele logradouro, para deleite do canelau que bate ponto por aquela redondeza.
Os furacões e terremotos, a despeito de acarretarem sérios danos, logo passam e a um custo, excessivamente, elevado, permitem a reparação dos danos infligidos.
Pindorama desconhece tais desastres naturais, por situar-se distante das temíveis placas tectônicas, aquelas cascas de tartaruga que delimitam o chão da terra. Em contrapartida, convive com mazelas, verdadeiras calamidades provocadas por gente graúda de colarinho branco em conluio, nas caladas da noite, com representantes do povo, infelizes desprovidos de qualquer resquício de moralidade. Impõe-se ao país pesadas perdas, mais elevadas até que aquelas provocadas por furacões ou terremotos, deixando Pindorama próxima de um rotundo colapso geral.
Parece repetitivo e banal, mas, ou se passa à jato o país a limpo, ou a derrocada vai ser fatal.
Em 1955, o pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) relata num poema regionalista, a dura peleja de um nordestino em “ Morte e Vida Severina”, uma verdade até hoje, encarnada e esculpida. Em seguida, excertos da poesia:
“ O meu nome é Severino/não tenho outro de pia/como há muitos Severinos/que é santo de romaria/deram então de me chamar/Severino de Maria.../somos muitos Severinos/iguais em tudo na vida/ morremos de morte iguais em tudo na vida: /na mesma cabeça grande/que a custo se equilibra/no mesmo ventre crescido/sobre as mesmas pernas finas/e iguais também porque o sangue/que usamos tem pouca tinta/e se somos Severinos/iguais em tudo na vida/morremos de morte igual/mesma morte Severina:/que é a morte de que se morre/de velhice antes dos trinta/de emboscada antes dos vinte/de fome um pouco por dia/( de fraqueza e de doença/ é que a morte Severina/ ataca em qualquer idade/e até gente não nascida)...”

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