MAIS UM MADRIGAL
O acanhado Bar do Souza, instalado rente ao muro lateral do Cemitério São João Batista, em Fortaleza, acolhia, na década de 60, um pequeno grupo de boêmios – Chico Barrão, Carlinhos do seu Misael e Luizinho - que em meio a rodadas de Cuba Libre, fazia gemer, plangente, um pinho adocicando cantigas de amor. Vigorava a época de ouro do rádio onde despontavam figuras exponenciais como, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Sílvio Caldas, Orlando Silva e Nelson Gonçalves. Quando o rosto redondo da lua avultava o pleno domínio da noite, espargindo o embornal cheio de prata sobre a superfície terreal, um integrante daquele grupo de notívagos, lança um repto: saltar o muro baixo do vizinho Campo-Santo e fazer um madrigal no jazigo de uma jovem que há pouco ali chegara, para “viver” o resto de seus dias e noites, sempre iguais, sem luzes nem trevas, rumo à poeira das estrelas neste intrigante multiverso.
O restante do grupo, numa cumplicidade muda, mandou um tímido olhar em direção ao cemitério. Um pinguço na mesa vizinha cortou o silêncio: - Topo na hora. Só preciso saber a história da moça recém-admitida naquele mundo de silêncio e paz, para ofertar a ela minha solidariedade.
Pois não. Era uma jovem de dezoito anos, morena, bem fornida de carnes, gostosa feito paçoca moída em mão de pilão, fatais olhos negros, tímida e sonhadora. Iniciara um idílio com um dos componentes daquele grupo de boêmios ali presente, nas missas de domingo à tarde na Igreja da Piedade. Durou pouco a aventura, por conta da intervenção dos pais da garota que não viam um futuro promissor para um rapaz cabeludo, taciturno, notívago e que tirava prosa com humildes empregadas domésticas do bairro de Joaquim Távora e adjacências.
A gentil garota depois de carpir um luto maneiro, engrenou novo romance, desta feita com um homem mais maduro e funcionário do Banco do Brasil, à época, um cobiçado partido. De novo rolou uma fita de curta metragem, como uma chanchada da Atlântida, pois logo descobriu-se que o dito galã era casado e pai de dois filhos menores. Uma verdadeira mala sem alça.
Pois não. Era uma jovem de dezoito anos, morena, bem fornida de carnes, gostosa feito paçoca moída em mão de pilão, fatais olhos negros, tímida e sonhadora. Iniciara um idílio com um dos componentes daquele grupo de boêmios ali presente, nas missas de domingo à tarde na Igreja da Piedade. Durou pouco a aventura, por conta da intervenção dos pais da garota que não viam um futuro promissor para um rapaz cabeludo, taciturno, notívago e que tirava prosa com humildes empregadas domésticas do bairro de Joaquim Távora e adjacências.
A gentil garota depois de carpir um luto maneiro, engrenou novo romance, desta feita com um homem mais maduro e funcionário do Banco do Brasil, à época, um cobiçado partido. De novo rolou uma fita de curta metragem, como uma chanchada da Atlântida, pois logo descobriu-se que o dito galã era casado e pai de dois filhos menores. Uma verdadeira mala sem alça.
A família daquela musa juvenil providenciou sua transferência, incontinenti, para um colégio interno, dirigido por freiras francesas, em Petrópolis, longe do assédio dos abutres caboclos.
Na véspera da viagem, acertaram-se os derradeiros detalhes, tudo tim- tim por tim- tim, de mão beijada e aos pés da cruz ... A cativante donzela ficaria reclusa por três anos e depois voltaria, triunfante, às terras alencarinas para seguir seu fado. Era prego batido e ponta virada.
No dia da viagem para Petrópolis, a moça não acordou na hora aprazada, deixando o avião da FAB à sua espera no velho Aeroporto Pinto Martins. De casa, ela só se aluiu rumo ao Cemitério São João Batista, a despeito do alvoroço desesperado de seus pais a lhe beijarem dos pés à cabeça, implorando para que acordasse. Nada feito, pois o sono nos braços de Morfeu, induzido pela ingestão proposital de “ chumbinho” fizera o efeito desejado.
Na véspera da viagem, acertaram-se os derradeiros detalhes, tudo tim- tim por tim- tim, de mão beijada e aos pés da cruz ... A cativante donzela ficaria reclusa por três anos e depois voltaria, triunfante, às terras alencarinas para seguir seu fado. Era prego batido e ponta virada.
No dia da viagem para Petrópolis, a moça não acordou na hora aprazada, deixando o avião da FAB à sua espera no velho Aeroporto Pinto Martins. De casa, ela só se aluiu rumo ao Cemitério São João Batista, a despeito do alvoroço desesperado de seus pais a lhe beijarem dos pés à cabeça, implorando para que acordasse. Nada feito, pois o sono nos braços de Morfeu, induzido pela ingestão proposital de “ chumbinho” fizera o efeito desejado.
Era a confirmação da fria estatística mostrando a auto- agressão como segunda causa de morte entre jovens daquela idade. Mais uma tragédia anunciada sob as ordens de Cupido.
O primeiro namorado da jovem e o pinguço, saltaram o muro daquele Campo Santo, para, ao lado de flores perfumadas e jarros em desalinho, principiarem um madrigal, aquebrantando o tênue vidro da paz reinante naquele recanto sagrado:
“Noite alta, céu risonho/a quietude é quase um sonho/o luar cai sobre a mata/qual uma chuva de prata/de raríssimo esplendor/só tu dormes, não escutas, o teu cantor/revelando à lua airosa/a história dolorosa desse amor/lua/manda tua luz prateada /despertar a minha amada/quero matar os meus desejos/ sufocá-la com os meus beijos/canto/ e a mulher que eu amo tanto/ não escuta, está dormindo/ canto e por fim/nem a lua tem pena de mim/pois ao ver que quem te chama sou eu/ entre a neblina se escondeu/lá no alto a lua esquiva/está no céu tão pensativa/as estrelas tão serenas/qual dilúvio de falenas/andam tontas ao luar/todo o astral ficou silente/para escutar/o teu nome entre as endechas/e as dolorosas queixas ao luar”
“Noite alta, céu risonho/a quietude é quase um sonho/o luar cai sobre a mata/qual uma chuva de prata/de raríssimo esplendor/só tu dormes, não escutas, o teu cantor/revelando à lua airosa/a história dolorosa desse amor/lua/manda tua luz prateada /despertar a minha amada/quero matar os meus desejos/ sufocá-la com os meus beijos/canto/ e a mulher que eu amo tanto/ não escuta, está dormindo/ canto e por fim/nem a lua tem pena de mim/pois ao ver que quem te chama sou eu/ entre a neblina se escondeu/lá no alto a lua esquiva/está no céu tão pensativa/as estrelas tão serenas/qual dilúvio de falenas/andam tontas ao luar/todo o astral ficou silente/para escutar/o teu nome entre as endechas/e as dolorosas queixas ao luar”
Dali partiram os dois incautos transgressores, devidamente acompanhados de uma dama de vestido branco esvoaçante e dos pios de uma “ rasga- mortalha” bailando agourenta sobre suas cabeças ocas.
Composição musical “ Noite Cheia de Estrelas” de autoria de Cândido das Neves (1899-1943).
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