SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO, 1642
“ O maior
jogo de um reino, a mais pesada carga de uma república são os imoderados
tributos. Se queremos que sejam leves, se queremos que sejam suaves,
repartam-se com todos. Não há tributo mais pesado que o da morte, e, contudo,
todos o pagam, e ninguém se queixa, porque é um tributo de todos. Se uns homens
morrerem e outros não, que levará em paciência esta rigorosa pensão da
imortalidade? Mas a mesma razão que a estende, a facilita, porque não há
privilégios, não há queixosos. Imitem as resoluções políticas o governo natural
do Criador: “O que faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre
justos e injustos “. Se amanhece o sol, a todos aquenta, e se chove o céu, a
todos molha. Se toda a luz cair a uma parte e toda a tempestade a outra, quem o
sofrerá? ” (Sermão de Santo Antônio, 1642), de autoria do Padre Antônio Vieira
(1608- 1697).
Em Pindorama
nesses ásperos tempos, onde imperam a mediocridade, a falsidade e a corrupção
desenfreada, promovida por “ brucutus, índios, carinhas de anjos e ministros
chorões” apostando todas as fichas que nenhuma prova obtida pela justiça terá
força suficiente para alcançar as “excelsas figuras parlamentares”, tudo é
possível. Prevalecerá, por fim, a impunidade e a confiança na memória curta de
um povo pacato e parvo. A solução, simples e cristalina, se apresenta pronta
nos afiados dentes dos vampiros planaltinos: a criação de novos impostos, pois
a massa bovinamente ruminará, silenciosamente, a falcatrua.
“ Se o sol
não aquenta a todos e a chuva a todos não molha “, um dia a corda irá,
fatalmente, arrebentar!
“ Você tem
palacete reluzente/tem joias e criados à vontade/sem ter nenhuma herança nem
parente/só anda de automóvel na cidade/e o povo já pergunta com maldade:/onde
está a honestidade?/onde está a honestidade?/o seu dinheiro nasce de repente/e
embora não se saiba se é verdade/ você acha nas ruas diariamente/anéis,
dinheiro e até felicidade/vassoura dos salões da sociedade/que varre o que
encontrar em sua frente/promove festivais de caridade/em nome de qualquer
defunto ausente/e o povo já pergunta com maldade:/onde está a honestidade?/onde
está a honestidade?” (Noel Rosa – 1910-1937).
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