quarta-feira, 27 de setembro de 2017

ANTELÓQUIO DA CRESTOMATIA DE RADAGÁSIO TABORDA


Para a Dra. Lenna Torquato



“ Crestomatia”, o modesto livrinho que sai hoje a lume, antes de tudo, que lhe façamos a apresentação ao colendo professorado, à mocidade estudiosa de nossa terra... Mister se faz, não obstante, que à seleção dos excertos presida critério são, norteado rigorosamente pelas normas e preceitos dos grandes mestres da pedagogia moderna: caso contrário, fora entregar às mãos inexpertas dos jovens educandos, flores de estilo quiçá viçosas, mas que ocultam, aqui e acolá, entre as pétalas perfumadas, venenos a cuja peçonha maléfica, os benefícios talvez advindos, puramente intelectuais, não lograriam contrabalançar...
E, forrado a essas palavras explicativas, enfeixamo-las, cordialmente protestando: Soli Deo Honor et Gloria.
Porto Alegre, 3 de outubro de 1931.
Radagasio Taborda.
A Crestomatia era adotada nos melhores colégios no Ceará nas décadas de 40 e 50 do século passado. Segue um soneto do poeta satírico, mineiro de Barbacena, Padre Correa de Almeida (1820-1905) denominado “Degeneração” e dedicado aos políticos do seu tempo, inserido na página 291 da Crestomatia:
“Dos homens de civismo a pura raça
No torrão brasileiro degenera;
A uberdade tornou-se tão escassa
Que o terreno parece que não gera.
Por mais irrigação que se lhe faça,
Os frutos, já não há, como os houvera;
A lavoura de outrora hoje é fumaça,
Cultivada fazenda hoje é tapera.
A indústria nacional é quase nula,
E é só de cavalheiro a que regula,
Consistindo nas trocas e baldrocas.
A terra, enfim, não é como dantes;
Depois de produzir muitos gigantes,
Produz agora lesmas e minhocas “
A velha temática oitocentista do soneto áspero do Padre Correa de Andrade, dedicado a políticos de antanho, cabe como uma luva, às nobres figuras planaltinas hodiernas, verdadeiras lesmas e minhocas, afeitas a carregarem malas, às caladas da noite, que evidenciam materiais peçonhentos e nada educativos, envergonhando a todos, e solapando o sonho de milhares de brasileiros.
Um dia a casa cai!

Nenhum comentário:

Postar um comentário