PRIMEIRO DE ABRIL:
AH! SE NÃO FOSSE VERDADE
Numa terra longínqua, imensa, quase um continente, situada
ao sul da linha do equador medra uma gente bizarra. Vejamos:
Um gestor máximo,
mudo e desconfiado, com a popularidade em queda livre
Agentes integrantes dos três poderes, irmanados, com lama
até o pescoço, prontos para despencarem num medonho despenhadeiro
Uma operação lava-
lento que faz anos prende apenas pobres bagres, deixando ao largo os grandes e
perigosos cetáceos
Uma nação do faturo, que
porta na bandeira, o verde da esperança e o amarelo da vergonha
Enquanto vingar uma justiça cega, surda e manca do tipo
serpente que abocanha, apenas, os “pés- descalços” sempre haverá a
possibilidade, mesmo que remota, de resolução através da força bruta como
acontece com alguns nossos vizinhos vermelhos, amantes da foice e do martelo.
Cruz, credo!
Foi deste modo que Mané, desnutrido, desdentado e lívido, acordou
caído no frio chão do “meu casebre, minha vida de pobre” depois de um pesadelo
horroroso, com a desempregada patroa lhe trazendo para a realidade:
“- Bora, Mané, para a
rua, apurar algum trocado no Jogo do Bicho, que os nossos cabritinhos comedores
de rapadura, com a barriga roncando, estão morrendo de fome no barraco “.
Primeiro de abril: Ah!
Se não fosse verdade este sonho louco de Mané e vivêssemos num país justo, com
educação, saúde, transporte, moradia, emprego, saneamento, previdência e
segurança para todos.
E claro, livre do cancro da corrupção e dos mazelentos
políticos que teriam suspensos “ad aeternum “ seus direitos às famigeradas “
impunidade e previdência parlamentares “ Aí sim, seríamos uma democracia de
vergonha, plena, um paraíso terreal verdadeiro e não de mentirinha!
“ Dei uma carreira num cabra que mexeu com a Maroquinha/começou
na Mata Grande e acabou na Lagoinha/corri mais de sete léguas, carregado como
eu vinha/pois trazia na cabeça um balaio cheio de galinha/ oh, oh, oh!/ que
mentira , que lorota boa/que mentira , que lorota boa/certa noite muito escura
atirei de brincadeira/espalhei dezesseis chumbos com a minha atiradeira/no
momento ia passando quinze patos no terreiro/ que caíram fulminados, olhe que
tiro mais certeiro/oh, oh, oh!/que mentira que lorota boa/que mentira, que
lorota boa/uma coisa aqui no Rio que me chamou atenção/foi ver a facilidade que
se toma condução/todo mundo confortável , seja no trem ou lotação/e os tais dos
trocadores, que amáveis que eles são/oh, oh, oh!/que mentira , que lorota boa/que
mentira, que lorota boa/vou contar agora um caso que outro dia aconteceu/minha
sogra tá de prova que tal fato sucedeu/uma cobra venenosa viu a “velha” e
mordeu/mas ao invés da minha sogra, foi a cobra que morreu/oh, oh, oh !/que
mentira , que lorota boa/que mentira, que lorota boa/o meu primo Zé Potoca
mente tanto que faz dó/ me contou que pegou água, enrolou e deu um nó/que
mentira mais danada, que lorota mais a- toa/ dar nó n’água não é possível , é
potoca e das boas/ oh, oh , oh !/ que mentira , que lorota boa/ que mentira ,
que lorota boa !”
Lorota Boa,
de Luiz Gonzaga (1912- 1989)
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