sábado, 1 de abril de 2017

PRIMEIRO DE ABRIL: AH! SE NÃO FOSSE VERDADE



Numa terra longínqua, imensa, quase um continente, situada ao sul da linha do equador medra uma gente bizarra. Vejamos:
 Um gestor máximo, mudo e desconfiado, com a popularidade em queda livre
Agentes integrantes dos três poderes, irmanados, com lama até o pescoço, prontos para despencarem num medonho despenhadeiro

Uma operação lava- lento que faz anos prende apenas pobres bagres, deixando ao largo os grandes e perigosos cetáceos
 Uma nação do faturo, que porta na bandeira, o verde da esperança e o amarelo da vergonha
Enquanto vingar uma justiça cega, surda e manca do tipo serpente que abocanha, apenas, os “pés- descalços” sempre haverá a possibilidade, mesmo que remota, de resolução através da força bruta como acontece com alguns nossos vizinhos vermelhos, amantes da foice e do martelo. Cruz, credo!

Foi deste modo que Mané, desnutrido, desdentado e lívido, acordou caído no frio chão do “meu casebre, minha vida de pobre” depois de um pesadelo horroroso, com a desempregada patroa lhe trazendo para a realidade:

 “- Bora, Mané, para a rua, apurar algum trocado no Jogo do Bicho, que os nossos cabritinhos comedores de rapadura, com a barriga roncando, estão morrendo de fome no barraco “.
 Primeiro de abril: Ah! Se não fosse verdade este sonho louco de Mané e vivêssemos num país justo, com educação, saúde, transporte, moradia, emprego, saneamento, previdência e segurança para todos. 
E claro, livre do cancro da corrupção e dos mazelentos políticos que teriam suspensos “ad aeternum “ seus direitos às famigeradas “ impunidade e previdência parlamentares “ Aí sim, seríamos uma democracia de vergonha, plena, um paraíso terreal verdadeiro e não de mentirinha!

“ Dei uma carreira num cabra que mexeu com a Maroquinha/começou na Mata Grande e acabou na Lagoinha/corri mais de sete léguas, carregado como eu vinha/pois trazia na cabeça um balaio cheio de galinha/ oh, oh, oh!/ que mentira , que lorota boa/que mentira , que lorota boa/certa noite muito escura atirei de brincadeira/espalhei dezesseis chumbos com a minha atiradeira/no momento ia passando quinze patos no terreiro/ que caíram fulminados, olhe que tiro mais certeiro/oh, oh, oh!/que mentira que lorota boa/que mentira, que lorota boa/uma coisa aqui no Rio que me chamou atenção/foi ver a facilidade que se toma condução/todo mundo confortável , seja no trem ou lotação/e os tais dos trocadores, que amáveis que eles são/oh, oh, oh!/que mentira , que lorota boa/que mentira, que lorota boa/vou contar agora um caso que outro dia aconteceu/minha sogra tá de prova que tal fato sucedeu/uma cobra venenosa viu a “velha” e mordeu/mas ao invés da minha sogra, foi a cobra que morreu/oh, oh, oh !/que mentira , que lorota boa/que mentira, que lorota boa/o meu primo Zé Potoca mente tanto que faz dó/ me contou que pegou água, enrolou e deu um nó/que mentira mais danada, que lorota mais a- toa/ dar nó n’água não é possível , é potoca e das boas/ oh, oh , oh !/ que mentira , que lorota boa/ que mentira , que lorota boa !”           

Lorota Boa, de Luiz Gonzaga (1912- 1989)




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