domingo, 30 de abril de 2017

Um até breve



Viver de morte e morrer de vida. Abriu-se a porta da gaiola e o pássaro ganhou as alturas sem medo nem alucinação nas asas do infinito. Ah a vida, este cansaço implorando pelo sono, fazer uma ave abatida em pleno voo! Partiu no sábado, um menestrel que mesmo tendo razões para viver teve a sublime coragem de correr o risco de morrer!

Vim, não sei de onde; todavia eu vim. E vi diante de mim um caminho. E caminhei. E continuarei indo, quer queira quer não. De onde vim? Como vi meu caminho? Não sei. Sou novo, sou antigo no seio desta existência? Sou livre de entraves ou prisioneiro de invisíveis laços? Dirijo-me a mim mesmo, ou sou dirigido? E o caminho, o que é? É longo, é curto? Almejaria saber 

... E, contudo, não sei. Vi a formiga trabalhar, como eu, para viver. Tem ela, na vida, alvos e direitos iguais aos meus? Tem seu silêncio, ao ver do tempo, o mesmo valor que minha fala? E aonde vai cada um de nós? Não sei. Antes de tornar-me homem, eu era inexistência total, ou já era alguma coisa? Este enigma será resolvido um dia, ou permanecerá assim para sempre? Não sei. E por que afinal não sei? (Ilia Abul – Madi) 

Era um cidadão comum como esses que se vê na rua/falava de negócios, ria, via show de mulher nua/vivia o dia e não o sol ,  a noite e não lua /acordava sempre cedo( era um passarinho urbano)/embarcava no metrô, o nosso metropolitano/era um homem de bons modos : “ com licença , foi engano”/era feito aquela gente honesta, voa e comovida/que tem no fim da tarde a sensação da missão cumprida/acreditava em Deus e em outras coisas invisíveis/dizia sempre sim aos senhores infalíveis/pois é; tendo dinheiro não há coisas impossíveis/mas o anjo do Senhor (de quem nos fala o Livro Santo) desceu do céu para uma cerveja, junto dele, no seu canto e a morte o carregou, feito um pacote, no seu manto – que a morte lhe breve. " Pequeno Perfil de um Cidadão Comum " letra de 

Belchior (1946 – 2017)

Boa viagem, Belchior, boa viagem!

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