FORTALEZA DE NOSSA
SENHORA DA ASSUNÇÃO
Querida Vila de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção instalada
a 13 de abril de 1726, hoje uma metrópole deitada à beira mar vivendo uma
verdadeira epopeia cantada em prosa e verso pelos seus eternos menestréis enamorados.
Ciro Colares (1923 - 2002) e Artur Eduardo Benevides (1923-2014), dois magos
cearenses na arte de versejar, confeitam o bolo de aniversário hoje em homenagem
à Loura Desposada do Sol:
Rio Pajeú (Ciro Colares)
“ Há serestas antigas nestas águas/do velho Pajeú, bêbado e
lento/a correr sob as sombras seculares/de árvores velhas, e a
cantarolar/cantos de guerra com sotaque indígena/entre tombos e quedas e
risadas/num acalanto a Soares e Iracema/que Alencar viu também num amor
passado/neste rio eu revejo a minha infância/molhada de saudades e
lembranças/de tudo que se foi e não vem mais/que se foi como o rio que se vai/e
se perde no mar, feito o menino/que se perdeu no turbilhão do mundo/o rio Pajeú
é um fio líquido/lavando a face da cidade adulta/esguio e frágil, lírico e
minúsculo/que até parece um riacho de lapinha/ele leva quintais na correnteza/e
segredos domésticos, sussurros/de amores que ficaram-lhe nas margens/sussurros
que com os seus se misturaram/pelo alto, os cubos de cimento armado/trucam e
humilham, quase sufocando/a serpentina que valente luta/contra o progresso, em
vão inutilmente/como um Quixote a enfrentar moinhos/como a pobreza a desejar
justiça/vistas de longe as pobres lavadeiras/são pássaros batendo as asas
longas/mas mesmo assim, batendo as longas asas/não alçam voo porque adoram o
rio/e contam que lhe guarda os seus mistérios :/ o jacaré de prata, a mulher
virgem/a vagar por ali , muda, tristonha/como se fosse um manequim de loja/que
fugira( quem sabe ?) para vê-lo/ à noite, canta uma cantiga triste/que bem
traduz o pranto da cidade/e na manhã que nasce, entre arvoredos/o velho Pajeú
volta saudando/a minha Fortaleza que renasce/mas os gritos do rio se
afogando/sobre pedras e ferros e maldades/foram SOS nos ouvidos/do povo, com exceções
de vereanças/e ele ri pelo riso do Prefeito/o salvo e o salvador sonhando agora
(1)/com tudo que virá, como um milagre/na beleza do Parque Pajeú/mais cimento,
mais pedra, mais asfalto/mas muito mais carinho/para o pulmão do rio da
cidade/e em breve, o rio, o meu , o nosso rio/cantará nos soluços do passado/ a
saudade moderna do presente “
1.
Na administração do prefeito Evandro Aires de
Moura, o Rio Pajeú , que corta o ventre de Fortaleza , foi drenado e protegido,
emergindo no quintal do antigo Palácio do Bispo , na Praça da Sé , entre
jardins e ornamentos .
Canto de Amor a Fortaleza (Artur Eduardo Benevides)
“ Não tens Capibaribe ao luar/não tens ilhas defronte/não
tens pontes/não tens ventos terríveis, minuanos/não tens brumas, montanhas nem
fortins/és pobre, Cidade/mas és bela/tens mistérios e muita adolescência/se
contemplo teu vulto penso em rosas/tenho pétalas em mim se te murmuro/quanto és
mansa, e bucólica, e pura /e bela, e jovem, ó grande flor atlântica/plantada
mais em nós do que no chão! /cidade das velhas serenatas/das doces pastorinhas
e fandangos/das retretas românticas, das valsas/de usanças que o tempo já não
traz/quem foi que sepultou teus violões/tuas cirandas, modinhas e
quermesses/tuas festas de Reis, tuas lanternas/teus sobrados, serões e
bandolins ?/quanto sofro por ti, pois te desnudam/ e perdes teu antigo
coração/já não ouvindo os sinos que te chamam/para Nossa Senhora da
Assunção/cidade de lagoas circundantes/e de becos solitários e cruéis!/Lagoa de
Mondubim/ Lagoa de Pirocaia/Lagoa de Maraponga/Lagoa da Onça/Lagoa Feia/Lagoa
do Tauape !/na Praça do Ferreira – desvairada -/teu coração se encontra
palpitando/e sofre as tuas dores e retém/a memória gentil da infância/cidade
essencial/cidade marítima/eu sempre te amei/tenho versos que um dia cantarei/
às tuas praias amplas , ao teu mar/onde pousam jangadas e canções/Praia de Iracema/Praia do
Mucuripe/Praia do Meireles/Volta da Jurema/Praia Formosa/Praia do Futuro/Praia
do Pirambu!/oh, os teus bairros tão doces e tranquilos/que recordam as canções
dos seresteiros :/Aldeota, Benfica, Alagadiço/Piedade, Prainha ,
Navegantes/Jacarecanga,
Porangabuçu !/Cidade de meus filhos , minhas lutas/meus exílios, desejos,
solidões/cidade onde é possível o amor de outrora/chegar ao nosso olhar, claro
e esquivo/e em nós ser como foi nos velhos tempos/profundo é o meu amor, ó
Fortaleza/ é grávido de ti, tão vasto como/teus grandes céus escampos em
setembro/em ti me guardo, guarda- te em mim/minha pobre edelweiss, barco
ancorado/minha guitarra se eu fosse português !/
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