PARTO HUMANIZADO X A
NATUREZA DAS COISAS
A medicina, outrora
um estado de arte, evoluiu para ciência e hoje virou, apenas, comércio? O termo
Parto Humanizado faz referência a uma nova e saudável modalidade de atenção ao
parto caracterizada pelo irrestrito respeito aos direitos do casal grávido,
incluindo o novo ser a caminho. Configura- se um espaço onde o pai e a mãe
sejam os principais protagonistas deste complexo evento fisiológico humano – a parturição.
Faz-se toda uma preparação passo a passo acerca das alterações da gravidez, do parto
e do puerpério.
Devem participar da
assistência pré-natal os seguintes profissionais: obstetra, enfermeira,
neonatologista, psicóloga, fisioterapeuta, nutricionista, dentista e doula,
dentre outros. A eleição do local e tipo de parto serão da total
responsabilidade do casal.
Assim, na elaboração
do plano de parto define-se:
Onde será realizado o
parto: em domicílio, em hospital, ou em casa de parto.
Quem irá auxiliar o casal grávido no parto: obstetra,
neonatologista, enfermeira- obstétrica, doula, auxiliar de enfermagem.
Acomodação em leito tipo PPP: pré-parto, parto e pós-parto.
Aspectos gerais na assistência ao parto devem incluir: deambulação
livre; dieta liberada; não puncionar veia periférica nem administrar soro
parenteral; não fazer tricotomia nem lavagem intestinal; evitar episiotomia;
parto na vertical; não realização da Manobra de Kristeller; colocar o bebê em
contato pele a pele com a mãe.
Certa feita num grande hospital e maternidade situado na “
Loira Desposada do Sol “, uma gestante em transe de parto foi acolhida por uma
figura paternal de um octogenário filho de Hipócrates. A jovem parturiente,
inquieta, passando a mão suada na barriga, entregou seu plano de parto para o
médico que assentiu com a cabeça, positivamente, percorrendo item a item, até
que, de repente, estacou na última sugestão: parto na banheira.
“- Minha senhora, não faço, sob qualquer pretexto, o parto
em banheira, posto que tenho um trauma juvenil em lidar com os mistérios da
água “. E ponto final!
“- Que pena, doutor “, disse a parturiente. “ – Vou
peregrinar em busca de um outro hospital “
“ - Nessa bolsa que
carrego comigo, guardo dez mil reais para cobrir as despesas com aquele cristão
que vier a assistir meu parto “
O provecto parteiro, de súbito, tornou -se lívido e com o
queixo caído. De pronto se recompôs e vexado como quem rouba, gritou para a
auxiliar de enfermagem que a tudo assistia calada.
“ - Zefinha, minha filha, me acuda e correndo arranje uma
sunga para que eu possa ajudar este anjo num bendito parto na banheira! “
No final, o parto transcorreu célere e na banheira, conforme
combinado, culminando com sorrisos e lágrimas para festejar a chegada de mais
um recém-nascido saudável.
Aleluia!
Agora calmo, o parteiro achegou-se à puérpera para explicar
o motivo de seu trauma com os mistérios das águas.
Quando adolescente, viera do
sertão central do Ceará para a capital, Fortaleza, banhada pelos verdes mares
bravios do Atlântico oceano. Um dia, o jovem deu de cara com a famosa Praia do
Futuro, aquele mundão besta de água salgada, conhecido como Açude do Boris. Enfrentou
o gigante de água a rugir, com uns cangapés e invadiu a área proibida,
destrambelhado, mar a dentro. O afoito matuto foi posto a nocaute por uma
gigantesca onda- caixão. Acordou, com o estômago cheio d’água, na areia
recebendo uma respiração boca a boca ministrada por um guarda salva vidas.
O trauma adquirido pelo jovem do sertão, apenas findou com aquele
bendito parto na banheira com o agora idoso homem de jaleco branco tendo que ruminar
o maldoso ditado que reza “ Deus resolve o problema e o médico manda a conta “
“ Se avexe não /amanhã pode acontecer tudo/inclusive nada/se
avexe não/a lagarta rasteja até o dia/em que cria asas/se avexe não/que a
burrinha da felicidade/nunca se atrasa/se avexe não/amanhã ela para na porta/
da sua casa/se avexe não/toda caminhada começa/no primeiro passo/a natureza não
tem pressa/segue seu compasso/inexoravelmente chega lá/se avexe não/observe
quem vai subindo a ladeira/seja princesa ou seja lavadeira/para ir mais alto
vai ter que suar “ Letra de “ a
Natureza das Coisas “ do compositor pernambucano Accioly Neto ( 1950- 2000).
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