HERMAN LIMA - IMAGENS
DO CEARÁ
Herman de Castro lima (1897 – 1981) veio ao mundo em
Fortaleza no dia 11 de maio de 1897. Seus pais foram Antônio Silva Lima, nascido
em Aracati e Julieta Demarteau de Castro Lima, filha do grande médico cearense
José Lourenço de Castro e Silva e de Clara Demarteau, nascida na Bélgica. As
primeiras letras do garoto Herman foram em uma escola pública, sob a orientação
da professora Ifigênia Amaral. Antes de completar quinze anos, Herman Lima já enviava
caricaturas para as famosas revistas “ O Malho “, “ Fon-Fon “ e “ Tico-Tico “.
Tendo necessidade de
iniciar cedo suas atividades laborais para ajudar no orçamento doméstico, o
jovem Herman abdicou de realizar o curso ginasial. Isto não foi impedimento
para que conseguisse ingressar na Faculdade de Medicina na Universidade da
Bahia, onde graduou-se em 1928, sendo o orador da turma. No ano seguinte
apresentou sua tese de doutoramento sob o título “ A Fácies da Criança”. Herman
Lima casou-se com a sra. Anette Loureiro que lhe ofertou sete filhos: João
Antônio, Ana Beatriz, Marta, Sílvia, Maria Violeta, Jana e Terezinha.
A cidade de Lençóis no interior da Bahia serviu para o novel
médico Herman Lima iniciar seu caminhar na dura arte hipocrática. Daquele tosco
ambiente nasceu a inspiração para seu romance “ Garimpos”. Antes, em 1924,
Herman Lima já estreara com um livro de contos “Tigipió” que obteve retumbante
sucesso literário.
O Rio de Janeiro no ano de 1931 serviu de pouso para Herman
Lima que ali se arranchou por cerca de meio século. Em 1933 trabalhou no
Gabinete Civil do Presidente Getúlio Vargas e dali rumou em 1937 para servir na
Delegacia do Tesouro Nacional de Londres onde permaneceu até o ano de 1940.
Neste período peregrinou por vários países do Velho Mundo angariando material
para as seguintes obras: “ Na Ilha de John Bull “ e “ Outros Céus, Outros Mares,
viagens”, 1942, prêmio da Academia Brasileira de Letras ;” Variações sobre o Conto , crítica, 1952; “
Álvarus e Seus Bonecos , álbum ilustrado , 1954.
De volta ao Brasil arregaçou as mangas para durante duas
décadas trabalhar exaustivamente sua monumental obra lançada em 1963, “ A
História da Caricatura do Brasil “, em quatro volumes que foi agraciada com os
prêmios Fernando Chinaglia (melhor livro do ano); Centro Cultural Brasil –
Israel (melhor ensaio do triênio 1960-1963); Prêmio Jabuti, da Câmara
Brasileira do Livro (melhor ensaio do ano). Em 1967 seu livro de memórias “
Poeira do Tempo “ recebe novamente o Prêmio Jabuti.
Seu livro “ Imagens do Ceará “, editado pelo Ministério de
Educação e Cultura, na coleção “ Os Cadernos de Cultura” no ano de 1958
apresenta-se como um verdadeiro hino de amor ao seu estado natal, a despeito de
ter vivido por longos anos em outras plagas. Distribuídos em quatorze
capítulos, o autor discorre sobre sua marcante infância no bairro do Meireles,
num aconchegante sítio à beira-mar e sua vivência com os valentes jangadeiros.
Discorre também sobre os vaqueiros, as rendeiras e as tradicionais feiras que
fazem o traço de união do sertão com o mundo. Deveria tal opúsculo de cento e
sessenta páginas ser um manual de cabeceira de todo cearense da gema.
“ O jangadeiro - não sei quem disse – repete na sua faina,
diariamente, o milagre de Cristo andando sobre o mar. Na verdade, tanto faz a
prancha do seu barco exíguo como a planta dos pés divino pelo dorso das
ondas...A jangada, onde passam a maior parte da existência, é a expressão mais
rude e primitiva da navegação: um estrado de cinco paus roliços e linheiros,
unidos entre si por alguns cravos de madeira; dois bancos, um em cada ponta,
um, para o mestre da embarcação, o outro, para prender o mastro com a vela
triangular. Nessa prancha lisa e sem defesa, esguia como um esquife, os homens
vão, aos três e aos quatro, com a roupa do corpo, trabalhar no alto mar, a cada
raiar do dia. A água verde cobre-lhes de contínuo os pés, com a renda de
espumas frias dos teares das sereias. O mau tempo, não raro, busca esmaga-los
com a garra do furacão e os dentes da maré. Pelo dia, guiam-se no rumo do sol.
As estrelas são o seu roteiro, dentro da noite, como o eram para os navegadores
antigos... Os grandes transatlânticos, em viagem para a Europa e a América do
Norte, em águas remotas, quando nenhum sinal de terra se descobre mais, cruzam
muita vez dançando na onda larga esses pequeninos palcos de ignoradas
tragédias, onde quatro formiguinhas escuras bolem, assombrando os passageiros
dos colossos de conforto e de luxo que se debruçam às amuradas celebrando com
admiração o feito incrível. Um deles, que não entendeu direito o encontro e
parou no meio do mar, para socorro, deu logo margem à famosa anedota que todo o
Norte repete gostosamente e Rachel de Queiroz lembrou certa vez:
“ Vinha um navio inglês em mar alto, quando de bordo se
avistou uma jangada. Pensaram naturalmente que eram náufragos agarrados àquela
balsa rude. Pararam, atiraram uma linha, gritaram coisas em inglês.
Os jangadeiros apanharam a corda, sem entender.
- Que será que eles querem, compadre?
Até que o mestre da jangada pensou, sorriu, interpretou:
- Acho que eles estão querendo é reboque ...“
A Academia Brasileira de Letras, em 1975, outorgou a Herman
Lima o seu mais alto galardão, o prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de
obra. O Estado do Ceará conferiu-lhe a medalha José de Alencar, pelos
relevantes serviços prestados à cultura cearense.
Herman Lima, cronista, crítico, memorialista , ficcionista e
tradutor, faleceu no Rio de Janeiro no
dia 21 de julho de 1981 deixando imensa lacuna nos meios culturais e das letras
cearenses.
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