UMA PEQUENA PAIXÃO
CARNAVALESCA
Pirapora do Norte,
uma pacata cidade banhada pelo verde atlântico oceano, integrante de Pindorama,
abriga um pequeno hospital, lugar onde peleja um obscuro e lunático parteiro
com ares de filósofo de boteco. Numa de suas sistemáticas rondas às enfermarias
de puérperas do dito nosocômio, o tal esculápio encontra uma bela jovem
aconchegando um robusto e voraz garoto ao seio.
Ele solicita que tal criatura
continue naquele sublime ato de amor, deixando a visita médica para depois. A
mãe resoluta, com um “mindinho “ no canto da boca do petiz interrompe aquele
idílio prazeroso. Queria uma conversa particular com o dito parteiro. Relata
ela que tal pimpolho recebera, simplesmente, um diagnóstico de nanismo. Um
verdadeiro choque.
O desolado homem de branco “ puxa conversa “ para amainar um
pouco o pesado clima subitamente gerado.
- Um futuro promissor
poderá estar diante deste garoto” obtemperou aquele filho de Hipócrates. “- Neste
mundo líquido, pós-moderno, globalizado, passa a ser matéria prima de ouro, o
conhecimento múltiplo, transversal, transdisciplinar, holístico, fluido e
universal, capaz de destravar portas hermeticamente fechadas e desconstruir
barreiras inexpugnáveis “. Ufa!
Da cartola de uma desparafusada cabeça, o homem de avental branco
brandiu no ar exemplos a destacar: um gringo desprovido de braços e pernas que
encanta o mundo inteiro proferindo palestras de cunho motivacional. Um pequeno
gênio. E aqui mesmo em Pirapora do Norte
um simpático brincante com cerca de um metro e vinte de altura faz dupla com
uma bela jovem porta-estandarte de uma agremiação carnavalesca, esparramando em
derredor uma alegria contagiante.
Incontinenti, a puérpera fugiu, encobrindo-se sob o branco
do lençol. O doutor, cheio de salamaleques pediu escusas sem entender patavina
o motivo daquele alvoroço formado. A cliente emergiu em segundos do lençol com
um sorriso solto e juvenil.
“ – Eu sou, simplesmente, a porta-estandarte desta história,
meu doutor. Só tenho a acrescentar que meu dileto parceiro e brincante correu
da raia, fugiu, escafedeu-se, quando soube de minha incipiente gravidez “.
- Nada não, senhora “, com um nó na garganta, balbuciou o
lunático parteiro.
“ – Um dia ele volta, se Deus quiser, com farol baixo e para-choque
duro como na música da Banda Blitz. Aí, sim, vai ser um real e duradouro
carnaval de alegria, de perdão, num novo amanhã, como nos velhos contos de
fadas “. Amém!
“ Longe de casa/a mais de uma semana/milhas e milhas
distante/do meu amor/será que ela está me esperando/eu fico aqui
sonhando/voando alto/perto do céu.../eu saio de noite/andando sozinho/eu vou
entrando/em qualquer bar/eu faço meu caminho/o rádio toca uma canção/é o que me
faz lembrar você/eu fico louco de emoção/e já não sei o que vou fazer/estou a
dois passos do paraíso/não sei se vou voltar/estou a dois passos do
paraíso/talvez eu fique/eu fique por lá/estou a dois passos do paraíso/não sei
por que eu fui dizer bye-bye /bye-bye baby/
A Rádio Atividade leva até vocês/mais um programa da séria
série/’dedique uma canção a quem você ama”/ eu tenho aqui em minhas mãos uma
carta/uma carta de uma ouvinte que nos escreve/e assina com o singelo
pseudônimo de /” mariposa apaixonada de Guadalupe “/ela nos conta que no dia
que seria/ o dia do dia mais feliz de sua vida/Arlindo Orlando, seu noivo/um
caminhoneiro conhecido da pequena/e pacata cidade de Miracema do
Norte/fugiu, desapareceu ,escafedeu-se/
oh! Arlindo Orlando/volte, onde quer que você se encontre/volte para o seio de
sua amada/ela espera ver aquele caminhão voltando/ de faróis baixos, e para-choque
duro/agora uma canção/ canta para mim /eu não quero ver / você triste assim...
“
“ A Dois Passos do Paraíso “
música de autoria de Evandro
Mesquita e Ricardo Barreto.
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