terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

UMA PEQUENA PAIXÃO CARNAVALESCA


Pirapora do Norte, uma pacata cidade banhada pelo verde atlântico oceano, integrante de Pindorama, abriga um pequeno hospital, lugar onde peleja um obscuro e lunático parteiro com ares de filósofo de boteco. Numa de suas sistemáticas rondas às enfermarias de puérperas do dito nosocômio, o tal esculápio encontra uma bela jovem aconchegando um robusto e voraz garoto ao seio.
Ele solicita que tal criatura continue naquele sublime ato de amor, deixando a visita médica para depois. A mãe resoluta, com um “mindinho “ no canto da boca do petiz interrompe aquele idílio prazeroso. Queria uma conversa particular com o dito parteiro. Relata ela que tal pimpolho recebera, simplesmente, um diagnóstico de nanismo. Um verdadeiro choque. 
O desolado homem de branco “ puxa conversa “ para amainar um pouco o pesado clima subitamente gerado.

- Um futuro promissor poderá estar diante deste garoto” obtemperou aquele filho de Hipócrates. “- Neste mundo líquido, pós-moderno, globalizado, passa a ser matéria prima de ouro, o conhecimento múltiplo, transversal, transdisciplinar, holístico, fluido e universal, capaz de destravar portas hermeticamente fechadas e desconstruir barreiras inexpugnáveis “. Ufa!
Da cartola de uma desparafusada cabeça, o homem de avental branco brandiu no ar exemplos a destacar: um gringo desprovido de braços e pernas que encanta o mundo inteiro proferindo palestras de cunho motivacional. Um pequeno gênio.  E aqui mesmo em Pirapora do Norte um simpático brincante com cerca de um metro e vinte de altura faz dupla com uma bela jovem porta-estandarte de uma agremiação carnavalesca, esparramando em derredor uma alegria contagiante.
Incontinenti, a puérpera fugiu, encobrindo-se sob o branco do lençol. O doutor, cheio de salamaleques pediu escusas sem entender patavina o motivo daquele alvoroço formado. A cliente emergiu em segundos do lençol com um sorriso solto e juvenil.

“ – Eu sou, simplesmente, a porta-estandarte desta história, meu doutor. Só tenho a acrescentar que meu dileto parceiro e brincante correu da raia, fugiu, escafedeu-se, quando soube de minha incipiente gravidez “.

- Nada não, senhora “, com um nó na garganta, balbuciou o lunático parteiro.
“ – Um dia ele volta, se Deus quiser, com farol baixo e para-choque duro como na música da Banda Blitz. Aí, sim, vai ser um real e duradouro carnaval de alegria, de perdão, num novo amanhã, como nos velhos contos de fadas “. Amém!

“ Longe de casa/a mais de uma semana/milhas e milhas distante/do meu amor/será que ela está me esperando/eu fico aqui sonhando/voando alto/perto do céu.../eu saio de noite/andando sozinho/eu vou entrando/em qualquer bar/eu faço meu caminho/o rádio toca uma canção/é o que me faz lembrar você/eu fico louco de emoção/e já não sei o que vou fazer/estou a dois passos do paraíso/não sei se vou voltar/estou a dois passos do paraíso/talvez eu fique/eu fique por lá/estou a dois passos do paraíso/não sei por que eu fui dizer bye-bye /bye-bye baby/

A Rádio Atividade leva até vocês/mais um programa da séria série/’dedique uma canção a quem você ama”/ eu tenho aqui em minhas mãos uma carta/uma carta de uma ouvinte que nos escreve/e assina com o singelo pseudônimo de /” mariposa apaixonada de Guadalupe “/ela nos conta que no dia que seria/ o dia do dia mais feliz de sua vida/Arlindo Orlando, seu noivo/um caminhoneiro conhecido da pequena/e pacata cidade de Miracema do Norte/fugiu,  desapareceu ,escafedeu-se/ oh! Arlindo Orlando/volte, onde quer que você se encontre/volte para o seio de sua amada/ela espera ver aquele caminhão voltando/ de faróis baixos, e para-choque duro/agora uma canção/ canta para mim /eu não quero ver / você triste assim... “

“ A Dois Passos do Paraíso “

música de autoria de Evandro Mesquita e Ricardo Barreto.







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