UM SÉCULO DA MORTE DO
FILÓSOFO FARIAS BRITO
Raimundo de Farias Brito (1862-1917) nasceu em São Benedito,
na Serra da Ibiapaba, no interior do estado do Ceará. Seus pais foram Marcolino
José de Brito e Eugênia Alves Pereira que moldaram uma pequena prole de dois
filhos: Raimundo e João, fato um pouco destoante das tradicionais famílias
sertanejas, quase sempre numerosas. Aos três anos de idade, Raimundo põe em
marcha sua sina de retirante indo morar na Vila de Ipu, ali vizinho a São
Benedito. Depois, num pulo segue para Sobral, onde sua família instala um
pequeno comércio.
Em 1874 encontramos o garoto Raimundo frequentando o Ginásio
Sobralense e em pouco tempo faz-se destaque em matérias como francês, latim e
matemática. O fenômeno climatérico da grande seca de 1877 e 1878 que se abate
sobre o sofrido chão cearense obriga a família de Raimundo a novamente migrar,
desta feita para Fortaleza, a capital do estado, destino final de milhares de
almas sedentas. Em 1880 Raimundo de Farias Brito conclui o curso secundário no
legendário e severo Liceu do Ceará. Logo em seguida a família Farias alça voo
na direção de Recife onde o jovem Raimundo ingressa na Faculdade de Direito,
celeiro de intelectuais influentes na vida pública e cultural de Pernambuco e
berço da nascente filosofia na região com a Escola do Recife de Silvio Romero
(1851- 1914) e Tobias Barreto (1839 –1899). A graduação de Farias Brito deu-se em 1884. Em 1893, Farias Brito contrai núpcias com a
Sra. Ana Augusta Bastos. O casal gera dois filhos: Raimundo, com o mesmo nome
do pai, e que viveria apenas 10 meses, e, Filomena. Poucos meses depois Farias
Brito torna -se viúvo. Em 1901, Farias Brito casa-se com a Sra. Ananélia Alves,
vinte anos mais nova que ele. O casal gera cinco filhas.
O Dr. Farias Brito exerce os cargos de Promotor Público em
Viçosa do Ceará e Aquiraz. Foi nomeado Secretário de Governo do Ceará nas
administrações de Caio Prado e do General Clarindo de Queiroz. Entre1902 e 1909
Farias Brito regeu a Cátedra de Filosofia da Escola Jurídica do Pará. O destino
cigano de Farias Brito joga-o em direção ao Rio de Janeiro para participar de
um concorrido concurso para Catedrático de Lógica no Colégio Pedro II, a mais
importante instituição de ensino secundário do país. Farias Brito travou renhida
batalha em provas oral e escrita com 14 nomes de peso, incluindo o célebre
autor de “Os Sertões “, Euclides da Cunha (1866-1909). O julgamento do concurso
deu-se em 7 de junho de 1909 concluindo
que todos os candidatos foram considerados habilitados, mas destes apenas cinco
continuaram no páreo: Farias Brito, Euclides da Cunha, Graciano Neves, Júlio
Novaes e Monsenhor Rangel. No final do embate Farias Brito alcança com méritos
o primeiro lugar e Euclides da Cunha fica em segundo plano. O desconhecido e
valoroso cearense venceu a disputa mas, infelizmente, não levou o troféu.
Injunções políticas levaram o segundo lugar, o polêmico Euclides da Cunha a
assumir um cargo que de fato não era seu.
No dia 15 de agosto de 1909, menos de um mês depois do
famigerado concurso público acontece a triste Tragédia da Piedade: Euclides da
Cunha invade uma residência suburbana onde se encontravam o militar Dilermando
Cândido de Assis (1888 – 1951) e Anna Emília Ribeiro da Cunha (1872- 1951), amante
de Dilermando e esposa de Euclides da Cunha. Após troca de tiros perde a vida o
infeliz Euclides da Cunha alvejado por Dilermando que tinha expertise em armas
no exército. Como fecho de tal infelicidade dois outros filhos de Euclides da
Cunha morreram assassinados, um dos quais pelo mesmo Dilermando de Assis. Depois
, Ana e Dilermando casaram-se, constituíram prole e ambos morreram no mesmo ano
(1951).
Farias Brito, enfim, foi nomeado em 02 de novembro de 1909
para a Cátedra de Lógica do Colégio Pedro II com toda honra e mérito onde
tornou-se, também, um exemplar professor de História da Filosofia e Psicologia.
Farias Brito foi um dos fundadores da Academia Cearense de
Letras, sendo um de seus patronos, o da Cadeira de número 31. O nome de Farias
Brito ergue- se no horizonte da cultura nacional como o maior filósofo
brasileiro conforme reconhecimento de figuras como Padre Leonel Franca (1893-
1948), Jackson de Figueiredo (1891-1928) e Alceu de Amoroso Lima (1893- 1983),
a ponto de se dividir a história da filosofia no Brasil em dois estágios: antes
e depois de Farias Brito.
Farias Brito publicou as seguintes obras:
Cantos Modernos (1889); Pequena História Sobre os Fenícios e
Hebreus (1891); A Filosofia Como Atividade Permanente do Espírito Humano
(1895); A Filosofia Moderna (1899); Evolução e Relatividade (1905); Finalidade
do Mundo: A Verdade como Regra das Ações (1905); A Base Física do Espírito (1912)
e Mundo Interior (1914) - as quais formam a série – Ensaios Sobre a Filosofia
do Espírito.
Em 16 de fevereiro de 1917, há um século, portanto, parte
para a eternidade o nobre filósofo , causídico e literato cearense Raimundo de
Farias Brito.
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