UM PEDAÇO DE ARCO –
ÍRIS COM ASAS
Na esburacada rodovia que rasga o lombo das dunas móveis no
município de Aquiraz, neste iniciante período invernoso, voejam borboletas se
esgueirando por entre os arrogantes e potentes veículos automotores. Elas
representam um singelo pedaço de arco-íris com diáfanas asas ou como quer
Clarice Lispector (1920- 1977): “ a
borboleta é uma pétala que voa “ ou uma vida efêmera que passa por aqui
cumprindo um destino de voar, acasalar e sugar o néctar das flores.
“ Passa uma borboleta por diante de mim /e pela primeira vez
no Universo eu reparo/que as borboletas não têm cor nem movimento/assim como as
flores não têm perfume nem cor/a cor é que tem cor nas asas da borboleta/no
movimento da borboleta o movimento é que se move/o perfume é que tem perfume no
perfume da flor/a borboleta é apenas borboleta/e a flor é apenas flor “
Poema “ Passa uma Borboleta por Diante de Mim “ de Alberto
Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), em “ O Guardador de Rebanhos “.
Celso Pedro Luft
(Dicionário de Literatura Portuguesa e Brasileira), Editora Globo, 1967 assim
descreve os heterônimos principais do bardo português Fernando Pessoa:
“ Alberto Caeiro é naturalista, instintivo, animal humano, poeta
da natureza, das coisas reais, que são o que são e como são. Nega toda
transcendência e metafísica... O tom frio, seco desses poemas dados à teoria e
a considerações abstratas, compensa - se com uma encantadora naturalidade,
fluência e súbitos relâmpagos de densa poesia concreta (desencaixotar as minhas
emoções verdadeiras – o sol ainda não mostrou a cabeça/ por cima do muro do
horizonte – sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito/e lá fora um
grande silêncio como um deus que dorme) “
“ Ricardo Reis é pagão, epicurista e estoico, latinista e
helenista... Esmerado na linguagem, elabora a sintaxe, é conciso, elíptico, e
usa um vocabulário levemente alatinado ... Filia- se a Caeiro no amor à
natureza, à vida rústica e simples “
“Álvaro de Campos é
outro discípulo de Alberto Caeiro. Menos intelectual, porém, e menos primitivo,
rústico, é o cantor da urbe, da civilização moderna, o civilizado, engenheiro .
Emotivo até à histeria, canta as sensações cotidianas, a exaltação e também o
tédio do homem moderno “.
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